Encontradas moléculas marinhas com potencial terapêutico na doença de Alzheimer

29 de Maio 2020

São duas moléculas marinhas, a meridianina e a lignarenona B, capazes de alterar a atividade da GSK3B (na imagem), uma proteína associada a várias doenças neurodegenerativas

Estudos interdisciplinares da Universidade de Barcelona identificaram dois possíveis candidatos ao tratamento da doença de Alzheimer. São duas moléculas marinhas, a meridianina e a lignarenona B, capazes de alterar a atividade da GSK3B, uma proteína associada a várias doenças neurodegenerativas.

Os investigadores utilizaram técnicas biocomputacionais para detetar estas moléculas até agora desconhecidas, que foram posteriormente validadas com experiências em culturas de células neuronais de ratos. Estas experiências vão permitir uma melhor compreensão do funcionamento da molécula GSK3B e constituem um ponto de partida promissor para o desenvolvimento de novos medicamentos para a doença de Alzheimer.

O trabalho, publicado na revista “Biomolecules”, resulta da colaboração de duas equipas de investigação da Universidade de Barcelona, com a participação de Laura Llorach Pares e Conxita Àvila, da Faculdade de Biologia e do Instituto de Investigação em Biodiversidade (IRBio) e Ened Rodríguez, Albert Giralt e Jordi Alberch, da Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde e do Instituto de Neurociências da Universidade de Barcelona (UBNeuro). A empresa de tecnologia Molomics e a antiga empresa “Mind the byte” também participaram neste projeto.

A GSK3B é uma proteína existente no cérebro que possui um papel importante no desenvolvimento da doença de Alzheimer e de outras doenças neurodegenerativas, uma vez que as mudanças na sua atividade afetam negativamente e até interrompem os sinais sinápticos básicos de aprendizagem e memória. Por esse motivo, nos últimos anos têm sido desenvolvidos grandes esforços para desenhar inibidores da GSK3B, embora até agora não tenham sido bem-sucedidos.

Neurónios primários em cultura marcados com um anticorpo. Foto: Albert Giralt / UNIVERSIDADE DE BARCELONA

“Desde o início que a GSK3B foi uma molécula identificada para o tratamento da doença de Alzheimer. No entanto, ensaios clínicos com todos os potenciais inibidores causaram tantos efeitos secundários que acabaram por constituir uma grande deceção. Embora ainda estejamos longe de qualquer aplicação clínica, as moléculas que descrevemos têm o potencial de superar as limitações de outros fármacos inibidores”, explica Albert Giralt, que também é membro do Centro de Investigação Biomédica em Rede sobre Doenças Neurodegenerativas (CIBERNED )

Utilizando técnicas de biocomputação e simulações moleculares dinâmicas, os investigadores analisaram o potencial de um grupo de moléculas marinhas – isoladas e caracterizadas pela equipa da professora Conxita Àvila – na inibição da atividade da GSK3B.
“São as meridianinas, uma família de alcaloides procedentes dos organismos bentónicos marinhos da Antártica e as lignarenonas, obtidas de um molusco gastrópode das águas temperadas do mar Mediterrâneo”, diz a especialista.

Seguidamente, os investigadores realizaram uma validação experimental in vitro da capacidade inibidora destas moléculas utilizando culturas de neurónios de rato. Os resultados mostram que ambos os compostos de origem marinha não produzem efeitos neurotóxicos evidentes e que, além disso, promovem a plasticidade neuronal estrutural.

“As novas moléculas não exercem inibição excessiva da GSK3B, o que é interessante, pois a superinibição pode ser a causa de alguns dos efeitos adversos descritos noutros medicamentos inibidores. Além disso, induzem o crescimento da árvore neurítica neuronal. Este aspeto é especialmente interessante na doença de Alzheimer, pois a atrofia e a disfunção desempenham um papel mais relevante no aparecimento dos sintomas do que a morte neuronal”, explica Albert Giralt.

Segundo os investigadores, esta é uma descoberta muito relevante, pois não é fácil identificar novas moléculas que possam ser efetivas para a doença de Alzheimer. Ainda assim, Giralt enfatiza que este é apenas o começo: “Para confirmar o potencial destas novas moléculas, o seguinte passo será avaliar nos próximos um a dois anos se o tratamento com estes medicamentos melhora a sintomatologia em modelos animais de ratos com Alzheimer e, nesse caso, tentar realizar estudos clínicos com essas moléculas”, conclui o investigador.

NR/HN/Adelaide Oliviera

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