Associação de Fisioterapeutas alerta para falta de profissionais nos cuidados intensivos

15 de Junho 2020

A Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (APFISIO) alertou hoje que a falta destes profissionais nas unidades de cuidados intensivos atrasa a recuperação de doentes com covid-19 que apresentam capacidade funcional reduzida.

Em comunicado, a APFISIO insiste na importância de assegurar a presença de fisioterapeutas nestas unidades 24 horas por dia, “tal como já acontece na generalidade dos países desenvolvidos”.

“Não aceder a cuidados de Fisioterapia, integrados numa abordagem multiprofissional, desde o contexto de cuidados intensivos, internamento hospitalar ou domiciliário e, posteriormente, na comunidade, implicará uma recuperação muito mais lenta, sobretudo nos casos de multimorbilidade, onde as limitações funcionais consequentes poderão ser graves e permanentes”, afirma Adérito Seixas, presidente da APFISIO, citado no comunicado.

O responsável sublinha que “no internamento hospitalar isso implicará um internamento mais prolongado e, na comunidade, uma maior dificuldade no regresso à vida ativa”.

“Estas repercussões representam um aumento dos custos para o SNS [Serviço Nacional de Saúde], afetando naturalmente a economia e a sociedade, mas mais importante, as pessoas e famílias”, acrescenta.

A APFISIO diz que, nos casos mais graves de doentes com covid-19 que necessitaram de internamento em cuidados intensivos e ventilação mecânica, “a ausência de cuidados de fisioterapia pode potenciar a ‘Síndrome pós-internamento em cuidados intensivos’, que envolve alterações físicas, cognitivas e psicológicas que afetam gravemente a qualidade de vida”.

Em internamento hospitalar, lembra a associação, pode verificar-se, logo nos primeiros sete dias, a perda de cerca de 20% da massa muscular da pessoa, levando a situações graves de fraqueza muscular, fadiga, rigidez articular e perda de funcionalidade.

“Considerando que cerca de 20% dos casos de doentes com covid-19 podem apresentar quadros graves ou muito graves, envolvendo por vezes períodos de internamento superiores a três semanas, é fácil antecipar as consequências negativas que daí advêm”, alerta Adérito Seixas.

No contexto da pandemia de covid-19, a APFISIO reitera que as intervenções de fisioterapia iniciadas em internamento ou imediatamente após alta hospitalar são seguras, eficazes e recomendadas pelas duas sociedades científicas mais relevantes a nível mundial na área da medicina respiratória – European Respiratory Society (ERS) e American Thoracic Society (ATS).

O presidente da associação recorda ainda que “antes da pandemia menos de 2% dos doentes com doença respiratória crónica tinha acesso a programas de reabilitação respiratória, seja em contexto hospitalar, cuidados de saúde primários ou na comunidade”.

“A insuficiência de recursos humanos de fisioterapia, principalmente no SNS, é uma das causas e é urgente reforçar o número de fisioterapeutas nestes contextos uma vez que, com a pandemia, o número de doentes elegíveis para estes cuidados vai aumentar”, defende.

No passado mês de março, depois de concretizar o recrutamento de um grupo de fisioterapeutas para atuar em contexto de Unidades de Cuidados Intensivos, a APFISIO disponibilizou junto do Governo e da Direção-Geral da Saúde (DGS) mais de 170 fisioterapeutas que integraram uma bolsa de voluntários com formação específica para colaborar nos cuidados às pessoas com covid-19, no sentido de reforçar o SNS.

LUSA/HN

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