Ana Filipa Lopes Médica endocrinologista da APDP

A diabetes tipo 2 e a obesidade

06/25/2020

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A diabetes tipo 2 e a obesidade

25/06/2020 | Consultório

A diabetes tipo 2 e a obesidade são patologias atualmente consideradas “pandemias” e causam preocupação pelo número crescente de pessoas que atingem. Mundialmente, a diabetes afeta cerca de 500 milhões de indivíduos e estima-se que em 2025 perto de 3 mil milhões de pessoas tenham excesso de peso ou obesidade. Ambas as doenças estão frequentemente associadas a muitas outras, como por exemplo, a hipertensão arterial, a dislipidemia e as doenças cardiovasculares, o que traz ao próprio e às estruturas de saúde custos significativos.

Em Portugal, cerca de 90% das pessoas com diabetes apresentam excesso de peso (49,2%) ou obesidade (39.6%). Será então a obesidade um fator de risco para desenvolver diabetes?
De facto, o aumento da gordura, particularmente a gordura abdominal, promove a libertação de substâncias pró-inflamatórias causando insulino-resistência. Quer isto dizer que a glicose vai encontrar resistência à entrada nas células, o que obriga o pâncreas a aumentar a produção de insulina na tentativa de ultrapassar este obstáculo; o esforço pancreático prolongado, em pessoas geneticamente predispostas, conduz ao aparecimento de diabetes tipo 2. Um obeso tem cerca de 80 vezes mais risco de desenvolver diabetes, mas uma perda de 5% do peso pode ser suficiente para reduzir esse risco em 50%.

Por outro lado, a própria obesidade é um fator dificultador do tratamento da diabetes. Mais uma vez, realço que a redução de 5 a 10% do peso pode ser o suficiente para melhorar o controlo da diabetes ou fazer reduzir a dosagem dos medicamentos antidiabéticos. A reeducação do estilo de vida através de um aconselhamento especializado, alimentar e de exercício físico, com o incentivo para a perda de peso é essencial nestes casos. Apenas 5 a 10% dos casos de obesidade têm origem em disfunções genéticas ou endócrinas, pelo que a modificação do estilo de vida se torna mesmo indispensável nos restantes 90%. As boas notícias são, no entanto, que hoje em dia existem fármacos que tratam a diabetes e induzem simultaneamente perda de peso, existindo assim uma ação sinérgica favorável.

Todos sabemos, contudo, o quão difícil é perder peso e que, por vezes, eventos de vida podem atuar como gatilhos para o aumento ponderal. Também aqui, o despiste de perturbações alimentares, e de estados depressivos ou de ansiedade, pode fazer diferença no seguimento e escolha terapêutica; por exemplo, existem fármacos para tratar a obesidade que são também antidepressivos e existem alguns antidepressivos com efeito mais favorável no peso. Por fim, em situações mais graves, como é o caso de indivíduos com IMC >35 Kg/m2, há sempre a considerar o recurso à cirurgia bariátrica ou metabólica pela sua extrema eficácia, tratando em simultâneo a diabetes e a obesidade.

Estamos assim perante 2 doenças que andam frequentemente de mãos dadas e que se potenciam negativamente. Devem, por isso, ser avaliadas em conjunto. O acompanhamento por uma equipa multidisciplinar diferenciada, que oriente a pessoa para uma reeducação do seu estilo de vida, individualizando cada situação, pode fazer diferença no sucesso terapêutico destas pessoas.

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