Desbravando o circuito que controla o crescimento e expansão do cancro

25 de Junho 2020

A descoberta reforça novos caminhos para compreender os processos chave do avanço do cancro, e pode representar um novo alvo para futuras terapias

Uma investigação conduzida na Universidade Queen Mary de Londres revelou novas informações sobre o circuito molecular que controla o crescimento e expansão do cancro. A descoberta reforça novos caminhos para compreender os processos chave do avanço do cancro, e pode representar um novo alvo para futuras terapias.

Uma complexa rede de comunicaçõe
O estudo publicado na Science Signaling procurava descobrir de que maneira estava envolvida a proteína MET na progressão do cancro. A investigação encontrou versões desta proteína com ligeiras mutações, que estão envolvidas no crescimento e alastrar de células cancerígenas em vários tipos de cancro. Ainda assim, o mecanismo por trás do fenómeno permanece desconhecido.

A proteína MET pertence a um grupo de proteínas chamado quineases recetoras de tirosina (mais conhecido por RTKs), de que fazem parte proteínas reguladoras chave envolvidas numa variedade de métodos para assinalar o controlo normal dos processos celulares. Mudanças abnormais às RTKs estão implicadas no desenvolvimento e progressão de muitos tipos de cancro, tornando-as um alvo popular para os tratamentos da doença.

A equipa, composta por investigadores da BCI e do Instituto de Pesquisa para o Cancro de Londres, liderada pela professora Stéphanie Kermorgant e que inclui a Dra. Alexia Hervieu e o Dr. Paul Clarke, prestou atenção às células e aos modelos pré-clínicos em que observaram proteínas MET mutadas. E descobriram que a proteína ativava dois possíveis caminhos para a condução do crescimento e migração das células ao interagirem com outras moléculas chave que utilizam as MET no desempenho destas funções.

Uma das moléculas identificadas com um fator chave neste processo conduzido pelas MET foi a Rac1. É amplamente compreendido que a Rac1 está envolvida na migração de células cancerígenas; ainda assim, a equipa concluiu que a Rac1 também desempenha um papel crítico no crescimento das células cancerígenas, através da interação com uma outra proteína chamada mTOR.

Esta interação ocorre dentro das próprias células (em estruturas chamadas endossomas) e é precedida pela relocalização de duas moléculas para a fronteira da célula – um lugar inusitado para a presença de mTOR. Em simultâneo, as MET também comunicam com uma outra molécula – a PI3K – para conduzir a migração das células.

A autora principal do estudo, a Dra. Hervieu, que realizou o seu doutoramento sob supervisão da professora Kemorgrant e está atualmente como investigador pós-graduado no Instituto de Pesquisa para o Cancro, disse: “Perceber como as MET controlam o comportamento celular no cancro é crucial para melhorar o tratamento. A descoberta inesperada do papel da Rac1 neste contexto expande a nossa compreensão de como as MET desregulam células e abre novas oportunidades para a pesquisa do cancro”.

A investigação foi principalmente financiada pela Inesvtigação para o Cancro do Reino Unido e pelo Concelho de Investigação médica, com fundos adicionais do Rosetrees Trust, Cancro da Mama Agora e pelo Fundo de Pesquisa para o Cancro Pancreático.

Superar a resistência à medicação
A migração das células cancerígenas é chave para a metástase – o alastramento de células cancerígenas de uma parte do corpo para outra. A doença metastática é a principal causa de mortalidade por cancro; ainda assim, não existe hoje cura. Compreender o processo que conduz a metástase e descobrir maneiras de a parar é vital para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes.

Medicamentos com incidência nas MET estão a ser testados em ensaios clínicos, mas os pacientes desenvolvem com frequência resistência a estes medicamentos, já que o cancro consegue aprender a ativar mecanismos acionáveis pelas MET de outras maneiras. A informação descoberta com este estudo pode pavimentar o caminho para o desenvolvimento de novos regimes de tratamento. Isto se as drogas que tenha as MET como alvo forem utilizadas numa combinação que inibe as mTOR e as PI3K – assim os tratamentos serão eficazes durante mais tempo.

Curiosamente, medicamentos que inibam as mTOR e as PI3K ao mesmo tempo têm sido recentemente desenvolvidos. Segundo a Dra. Kermorgant, “estamos muito entusiasmados com esta descoberta que sugere que as MET, um dos principais alvos no tratamento do cancro, pode ser tratado em paralelo através de medicamentos existentes contra outros dois alvos principais, a PI3K e a mTOR. Isto pode ser testado em ensaios médicos no futuro próximo”.

Este estudo refina a compreensão comum de como as MET controlam o assinalamento de caminhos envolvidos no crescimento e alastramento do cancro, e identificam os jogadores chave envolvidos nestes processos. Usar estas moléculas como alvo combinado pode oferecer um tratamento mais eficaz para os pacientes com cancro.

HN/NR/João Daniel Ruas Marques

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