“Hormona do amor” está ligada à resposta do estômago ao stress

31 de Agosto 2020

Uma nova pesquisa publicada no "The Journal of Physiology" mostra que a oxitocina, conhecida como a "hormona do amor", desempenha um papel importante nas perturbações da digestão ligadas ao stress, tais como inchaço, desconforto, náuseas e diarreia.

O stress perturba as funções gastrointestinais e provoca um atraso no esvaziamento gástrico. Este atraso causa inchaço, desconforto, náuseas e acelera o trânsito do cólon, o que provoca diarreia.

A oxitocina, uma hormona anti-stress, é libertada no hipotálamo para contrariar os efeitos do stress. Durante muito tempo acreditava-se que os efeitos desta hormona ocorriam devido à sua libertação no sangue, tendo apenas efeitos menores na rede de nervos do cérebro que regula as funções gastrointestinais.

O estudo utilizou novas formas de manipular os neurónios e nervos (neurocircuitos) onde a oxitocina libertada pelo hipotálamo atua, e mediu os efeitos sobre a resposta do esvaziamento gástrico ao stress. Demonstrou que, contrariamente a anteriores pressupostos, estes circuitos de oxitocina desempenham um papel importante na resposta do estômago ao stress.

A ativação destes circuitos de oxitocina reverteu o atraso no esvaziamento gástrico que ocorre normalmente em resposta ao stress, aumentando as contrações musculares (motilidade) do estômago, ao passo que a inibição destes neurocircuitos impediu a adaptação ao stress.

A nova investigação, realizada na “Penn State University- College of Medicine” e patrocinada por uma bolsa do “National Institute of Health”, dos Estados Unidos, utilizou recursos tecnológicas que permitem a manipulação seletiva dos circuitos que recebem “inputs” de oxitocina hipotalâmica, juntamente com medições simultâneas do esvaziamento gástrico e da motilidade em resposta ao stress.

Os autores utilizaram ratos de laboratório com diferentes tipos de stress – stress agudo, adaptação apropriada ao stress e adaptação inadequada ao stress. Os autores infetaram os neurónios que controlavam os nervos e neurocircuitos da oxitocina com novos vírus que permitiram ativá-los ou inibi-los, e mediram a atividade muscular do estômago, bem como o esvaziamento gástrico.

Os investigadores mostraram que estes circuitos oxitocinéticos desempenham um papel importante na resposta gástrica ao peso do stress. De facto, a sua ativação inverteu o esvaziamento gástrico retardado observado na sequência da resposta aguda ou crónica ao stress, aumentando quer o tónus gástrico, quer a motilidade. Pelo contrário, a inibição destes neurocircuitos impediu a adaptação ao stress, atrasando assim o esvaziamento gástrico e diminuindo o tónus gástrico.

Estes dados indicam que a oxitocina influencia diretamente as vias neurais envolvidas na resposta ao stress e desempenha um papel importante na resposta gástrica aos fatores de stress.

A capacidade de responder adequadamente ao stress é importante para as funções fisiológicas normais. As respostas inadequadas ao stress, ou a incapacidade de adaptação ao stress, desencadeiam e agravam os sintomas de muitas perturbações gastrointestinais, incluindo o esvaziamento gástrico retardado e o trânsito acelerado do cólon.

Estudos anteriores mostraram que os nervos e os neurocircuitos que regulam a função do músculo gástrico e o esvaziamento respondem ao stress, alterando a sua atividade e respostas.

Com o objetivo de identificar tratamentos mais eficazes dos distúrbios provocados pelas respostas gástricas ao stress, é importante compreender primeiro como o stress afeta normalmente as funções do estômago. O seu estudo forneceu novas informações sobre o papel que a oxitocina desempenha no controlo destes nervos e circuitos durante o stress e pode identificar novos alvos para o desenvolvimento de medicamentos.

Mais informação em:

Jiang Y et al (2020). Hypothalamic-vagal oxytocinergic neurocircuitry modulates gastric emptying and motility following stress. The Journal of Physiology

 

NR/HN/Adelaide Oliveira

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