Estudo revela que espaços verdes protegem crianças do desenvolvimento de asma e rinite alérgica

9 de Setembro 2020

Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluíram que a exposição de crianças a espaços verdes protege contra o desenvolvimento de asma e rinite alérgica e a exposição a diferentes espécies animais tem efeito contrário.

Em declarações à Lusa, João Rufo, investigador do ISPUP avançou esta quarta-feira que o estudo, publicado na revista científica Allergy, visava perceber se os espaços verdes eram “fatores protetores ou agravantes” do desenvolvimento, na infância, de doenças respiratórias como a asma e rinite alérgica.

Para tal, a equipa de investigadores analisaram o ambiente em redor das habitações de 1.050 crianças da cidade do Porto, pertencentes à coorte Geração XXI, tendo por base os espaços verdes existentes nas proximidades das casas dos participantes.

“Todas as crianças tinham algum tipo de espaço verde em redor das suas casas, embora algumas tivessem um espaço verde mais diverso e com maiores dimensões, como o Parque da Cidade, Rotunda da Boavista ou na zona de Campanhã, e outras zonas mais cinzentas, onde os espaços verdes eram pequenos canteiros ou jardins”, referiu o investigador, acrescentando existir “um equilíbrio representativo” dos espaços na amostra em estudo.

Segundo João Rufo, desde o início do estudo “foi percetível que havia um fator protetor na proximidade aos espaços verdes”, nomeadamente, daqueles que se situavam 100 metros em redor das habitações das crianças.

“O fator de proteção foi de cerca de 60%, ou seja, as crianças que, ao nascimento, tinham a 100 metros das suas habitações espaços verdes desenvolveram, aos 7 anos, menos rinite alérgica e asma do que as restantes crianças”, revelou.

Paralelamente à avaliação da exposição aos espaços verdes, a equipa de investigadores criou um “índice de riqueza de espécies” na cidade do Porto, tendo por base quatro tipologias de animais: anfíbios, répteis, aves e mamíferos.

Com base neste índice, os investigadores concluíram que as crianças que, ao nascimento, estavam mais expostas a um número de espécies animais nas imediações das suas casas, no futuro apresentavam, aos 7 anos, maior probabilidade de desenvolver doença, nomeadamente, “2,35 vezes superior”.

“De inicio não estávamos à espera destes resultados, achávamos que era ao contrario, mas também o que nos levava a pensar assim eram alguns estudos que tinham sido publicados na Alemanha e Holanda, em que mostraram que a exposição a animais durante os primeiros anos de vida era benéfica. Mas, estes estudos focaram-se em crianças que viviam em zonas mais rurais. As espécies que estamos a falar em meio urbano são diferentes, são pombos, ratazanas”, sublinhou o investigador.

À Lusa, o investigador adiantou que a equipa pretende agora aprofundar os resultados obtidos, nomeadamente, no que concerne à exposição a riquezas de espécies, por forma a poder, posteriormente, auxiliar as autoridades locais a implementar “políticas urbanas mais direcionadas”.

O estudo, designado ‘The neighbourhood natural environment is associated with asthma in children: a birth cohort study’, foi desenvolvido no âmbito do projeto Exalar XXI, que se debruça sobre a relação entre o meio ambiente urbano, as doenças alérgicas e asma em crianças.

LUSA/HN

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