Mais do que uma bebida por dia aumenta o risco de hipertensão na diabetes tipo 2

9 de Setembro 2020

“Este é o primeiro grande estudo a investigar especificamente a associação entre o consumo de álcool e a hipertensão entre adultos com diabetes tipo 2”, disse o autor sénior do […]

“Este é o primeiro grande estudo a investigar especificamente a associação entre o consumo de álcool e a hipertensão entre adultos com diabetes tipo 2”, disse o autor sénior do estudo, Matthew J. Singleton, da “Wake Forest University School of Medicine” em Winston-Salem, Carolina do Norte (Estados Unidos).

“Estudos anteriores sugeriram que o consumo excessivo de álcool estava associado à hipertensão No entanto, a associação do consumo moderado de álcool com a hipertensão arterial não era clara”.

Os investigadores analisaram a relação entre o consumo de álcool e a pressão arterial em mais de 10.000 adultos com diabetes tipo 2 (idade média de 63 anos, sendo 61% do sexo masculino). Todos participaram no ensaio “Action to Control Cardiovascular Risk in Diabetes” (ACCORD), realizado entre 2001-2005 em 77 centros dos Estados Unidos  e do Canadá.

O ACCORD é um dos maiores ensaios de longo prazo, realizado com o objetivo de comparar diferentes abordagens de tratamento para reduzir o risco de doenças cardíacas em adultos com diabetes tipo 2.

Todos os participantes tinham diabetes tipo 2 há cerca de 10 anos antes de se inscreverem no estudo. Além dos 10 anos com diabetes tipo 2, apresentavam maior risco de eventos cardiovasculares, na medida em que tinham doenças cardiovasculares pré-existentes; evidência de uma possível doença cardiovascular; ou tinham pelo menos dois fatores de risco adicionais de doença cardiovascular (tais como pressão arterial elevada, colesterol elevado, tabagismo ou obesidade).

Neste estudo, o consumo de álcool foi classificado como “nenhum”; “ligeiro” (1-7 bebidas por semana); “moderado” (8-14 bebidas por semana); e “excessivo” (15 ou mais bebidas por semana). Uma bebida alcoólica equivalia a uma cerveja de 12 onças, um copo de vinho de 5 onças ou 1,5 onças de licor forte. O número de bebidas semanais foi comunicado por cada participante, através de um questionário, quando se inscreveu no estudo.

A pressão arterial foi classificada de acordo com as Guidelines do “American College of Cardiology/American Heart Association” de 2017 para a “Prevenção, Deteção, Avaliação e Gestão da Hipertensão Arterial em Adultos”: “normal” (abaixo de 120/80 mm Hg); “elevada” (120-129/<80 mm Hg); “fase 1 de hipertensão” (130-139/80-89 mm Hg); ou “fase 2 de hipertensão” (140 mm Hg/90 mm Hg ou superior).

A maioria dos participantes já estava a tomar um ou mais medicamentos para a pressão arterial; por conseguinte, a análise das leituras foi ajustada para ter em conta os efeitos dos medicamentos e para estimar o grau subjacente da hipertensão.

Os investigadores verificaram que:

  • o consumo ligeiro de álcool não estava associado à hipertensão ou a qualquer das suas fases;
  • o consumo moderado estava associado ao aumento das probabilidades de hipertensão em 79%; à fase 1 de hipertensão em 66%; e à fase 2 de hipertensão em 62%;
  • o consumo excessivo de álcool foi associado a um aumento de 91% das probabilidades de hipertensão; à fase 1 de hipertensão em 149% (um aumento de 2,49 vezes); e à fase 2 de hipertensão em 204% (um aumento de 3,04 vezes);
  • quanto mais álcool se consome, maior é o risco e a gravidade da hipertensão.

“Embora o consumo “ligeiro” a “moderado” de álcool possa ter efeitos positivos na saúde cardiovascular da população adulta em geral, tanto o consumo “moderado” como o consumo “excessivo” de álcool parecem estar associados, de forma independente, a maiores probabilidades de hipertensão entre as pessoas com diabetes tipo 2”, referiu Matthew Singleton. “A modificação do estilo de vida, incluindo o consumo moderado de álcool, pode ser considerada em doentes com diabetes tipo 2, particularmente se tiverem dificuldades em controlar a sua pressão arterial”.

“Os adultos com diabetes tipo 2 estão em maior risco cardiovascular e os nossos resultados indicam que o consumo de álcool está associado à hipertensão, pelo que se recomenda beber pouco”, acrescentou.

O estudo tem várias limitações, incluindo o facto de o consumo de álcool ter sido baseado num questionário único quando os participantes se inscreveram no estudo, pelo que os resultados não têm em conta quaisquer alterações no consumo de álcool ao longo do tempo. Além disso, não foi concebido para avaliar se o consumo “ligeiro” de álcool proporcionava algum benefício.

De acordo com a “American Heart Association”, o consumo excessivo de álcool pode aumentar o risco de hipertensão, e as pessoas com diabetes tipo 2 já têm um risco acrescido.  Para a população em geral, a Associação recomenda que as bebidas alcoólicas sejam consumidas com moderação. Os consumidores devem ainda compreender os potenciais efeitos na sua saúde.

NR/HN/Adelaide Oliveira

Mais informação:

Association of Alcohol Intake With Hypertension in Type 2 Diabetes Mellitus:
The ACCORD Trial
Authors:Jonathan J. Mayl , MD; Charles A. German , MD; Alain G. Bertoni, MD, MPH; Bharathi Upadhya, MD;
Prashant D. Bhave , MD; Joseph Yeboah, MD, MSc; Matthew J. Singleton , MD, MBE, MHS, MSc
J Am Heart Assoc.
2020;9:e017334. DOI: 10.1161/JAHA.120.017334

 

https://newsroom.heart.org/news/more-than-one-drink-a-day-may-raise-high-blood-pressure-risk-in-adults-with-type-2-diabetes?preview=8d417cd67d36a9370aa38e8692209556

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