António de Sousa Uva Médico do trabalho, Imunoalergologista e Professor catedrático da NOVA (ENSP)

+COVID-19: sempre pensei que no Outono teríamos uma Primavera das estratégias de prevenção, mas até agora (quase) nada!

09/28/2020

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+COVID-19: sempre pensei que no Outono teríamos uma Primavera das estratégias de prevenção, mas até agora (quase) nada!

28/09/2020 | Opinião

Estamos quase na pior situação (atingida na Primavera passada) em matéria de número de casos (COVID-doença e COVID-infecção) e muito antes do que se esperava. Se já se passa o que estamos a vivenciar agora, o desenrolar do ano escolar e a chegada do tempo frio acarreta uma forte probabilidade de ainda piorar mais as coisas. Os indicadores sobre internamentos agravam-se igualmente, ainda que retardados em relação aos “casos” e, felizmente, bem aquém do que aconteceu na Primavera mas com um crescimento, se bem que não exponencial, diria “galopante”.

O modelo “pull” (puxar) e “push” (empurrar) é ainda pouco preciso na luta contra o SARS-CoV-2 e, aparentemente, parece que alguém não conhece a língua inglesa numa qualquer entrada e às vezes empurra quando devia puxar ou puxa quando devia empurrar. Temos que melhorar a visibilidade do que é “invisível” sob pena do vírus circular quase livremente na comunidade e “espalhar” o vírus parece que está quase a ser a regra: infecta-se na escola e alastra-se na família, no trabalho, na ocupação de tempos livres e nos transportes públicos …. e os quatro dígitos diários estão quase aí, e não sabemos por quanto tempo e, entretanto, o Rt teve um “apagão” na comunicação do risco. Só interessava quando estava a descer?

Temos de actuar, em minha opinião, de forma diferente do presente foco principal, praticamente centrado em sintomáticos e nos seus contactos de risco e reformular a estratégia de avaliação de risco (“risk assessment”) e a decorrente gestão de risco. Caso contrário ficaremos como nos tempos actuais: a fazer, no essencial, o controlo de danos (“damage control”). Dito de outra forma, estamos a antecipar muito pouco o que era previsível poder ocorrer e a responder mais de uma forma “mitigada” do que de prevenção, ainda que ambas as estratégias sejam estratégias “respeitáveis” num contexto de “economia aberta”.

E se é assim no outono, como será no inverno? Convém a esse propósito lembrar que, tudo leva a crer, que não será nestas épocas que poderemos dispor de vacina de forma generalizada, restando a esperança que o arsenal terapêutico possa continuar a melhorar.

Volto a sugerir, não seria altura de darmos mais atenção aos casos de COVID-19-infecção que, no essencial só são identificados quando, por qualquer circunstância, se rastreia um determinado conjunto de pessoas?

Adicionalmente, estaremos a empoderar (isto é, a capacitar e a dar autonomia) da melhor maneira possível os cidadãos?

 Essa história dos “Agentes de Saúde Pública” tem recebido a atenção e a acção suficiente para, de facto, se fomentar esse estilo de actuação?

Precisamos de melhor organização, de meios e instrumentos menos acanhados e de mais convicção sobre as mais correctas estratégias a adoptar para o actual combate à COVID-19. A “teoria da culpa” que começa a ter um perfil epidémico é inimiga da “teoria do risco” e o grande objectivo é reduzir a probabilidade de contágio que está sempre no início do “processo” pandémico e não quem tem culpa disso uma vez que isso não resolve nada e “mordisca” o clima de confiança uns nos outros indispensável ao sucesso.

Será que o foco quase exclusivo nos sintomáticos ainda é a melhor estratégia?

Devemos “refrescar” as estratégias em que parece estarmos mais focados e ser mais pró-activos não só em relação a grupos vulneráveis, mas ainda em relação à circulação “silenciosa” do vírus noutros grupos populacionais?

 Uma coisa é certa, actualmente a ligação entre as actuais estratégias de acção e a gestão política parece óbvia. Não deveria a abordagem técnica em Saúde Pública ser mais isenta, e não digo ser equivalente à do trabalho realizado numa unidade de cuidados intensivos ou numa enfermaria como em parte deveria ser, e menos ligada ao senso comum que nem sempre é bom senso?

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