Nuno Jacinto candidata-se à liderança da APMGF

09/28/2020
.A ideia é ouvirmos toda a gente, ter uma Associação muito mais participativa e dirigida ao que os sócios pretendem. Não uma direção tão fechada sobre si própria, mas aberta a todos os outros


O médico de família defende uma estrutura mais participativa e inclusiva, com uma direção “não tão fechada sobre si própria mas aberta a todos os outros”. E garante: “Connosco, terão voz!”

 

 

HealthNews (HN) –  – O que o levou a apresentar a sua candidatura à presidência da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF)?
Dr. Nuno Jacinto (NJ) – Sentir que podemos fazer as coisas de maneira diferente na APMGF, evoluir, ser mais abrangentes e, sobretudo, mais participativos e inclusivos. Achámos que estava na altura de apresentar um projeto alternativo e mostrar as nossas ideias aos sócios.

HN – Na sua equipa estão representadas as várias gerações da MGF?
NJ –
A equipa é constituída por uma mescla de jovens e de outras pessoas mais experientes. Temos colegas mais velhos, como é o caso da Dra. Paula Broeiro, Dra. Conceição Outeirinho, Dr. Mário Santos ou do Prof. Doutor José Mendes Nunes, na assembleia-geral, por exemplo; pessoas da minha geração, como o Dr. André Reis, Dra. Ana Margarida Cruz, Dra. Inês Rosendo, e um pouco mais novos, como a Dra. Nina Monteiro, Dra. Clara Jasmins ou o Dr. António Luz Pereira.

Tentamos abranger as três gerações da MGF: os colegas que têm agora 50 ou 60 anos; aqueles que estão na casa dos 40, e os jovens médicos de família e internos.

HN – O que vos diferencia em relação à lista concorrente?
NJ – O nosso primeiro grande ponto de diferenciação é o objetivo de tornar a APMGF mais participativa e incluir todos os médicos de família, quer estejam no setor privado ou no Serviço Nacional de Saúde (SNS); quer trabalhem em Unidades de Cuidados de Saúde Personalizadas (UCSP) ou Unidades de Saúde Familiar (USF) Modelo A ou Modelo B; quer sejam internos, jovens médicos, colegas mais experientes ou já reformados; quer sejam do Norte, do Centro ou do Sul…
A ideia é ouvirmos toda a gente, ter uma Associação muito mais participativa e dirigida ao que os sócios pretendem. Não uma direção tão fechada sobre si própria, mas aberta a todos os outros.
Defendemos desde há muito tempo a aposta na formação e na investigação. Ao nível da formação, pretendemos desenvolver os nossos eventos, renová-los e aproximá-los das necessidades que os médicos de família sentem em termos de formação contínua, ou seja, ao longo de toda a carreira.
No que diz respeito à investigação, pretendemos desenvolver parcerias com a Academia, especialmente com as faculdades de Medicina e os departamentos de MGF, estimular os próprios Grupos de Estudo da APMGF, e os sócios, a apresentar projetos, dando-lhes bases para que possam desenvolver essa investigação.
Outra área muito importante para nós, e também diferenciadora, tem a ver com o facto de nos termos que assumir claramente como uma sociedade científica, ao mesmo tempo que abraçamos o nosso papel socioprofissional. Este equilíbrio é, por vezes, difícil, mas a APMGF tem estas duas faces ou áreas de intervenção.
Não podemos descurar a parte científica e, portanto, temos que encorajar a produção nessa área, estimular a Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar a continuar o seu caminho e ser, cada vez mais, uma referência.
Na área socioprofissional, há uma multiplicidade de questões – carreiras, Internato, qualidade e segurança do exercício profissional, burnout…- que temos que abordar e das quais não nos podemos demitir, enquanto representantes dos médicos de família em Portugal.

HN – Quais são as suas preocupações relativamente à MGF e aos médicos de família que estão na linha da frente da batalha contra a pandemia provocada pelo SARS-CoV-2?
NJ – O momento atual é, provavelmente, o mais desafiante das últimas décadas para a Medicina Geral e Familiar. Temos, obviamente, que nos manter na linha da frente da resposta a esta pandemia e à Covid-19.
Aliás, uma das grandes vantagens de Portugal foi precisamente o facto de os Cuidados de Saúde Primários assumirem o seguimento da esmagadora maioria destes doentes. Foi esse papel que tivemos – e continuamos a ter – que permitiu, pelo menos até agora, que a evolução não fosse tão complicada como noutros países.
Há aqui um equilíbrio difícil entre conseguirmos fazer esta gestão da pandemia, na linha da frente, e manter a atividade assistencial e o seguimento dos nossos doentes. Mas, entre todos – seja com a tutela, com outras sociedades científicas e até a nível hospitalar, na articulação com os cuidados de saúde secundários –  temos que arranjar forma de garantir esse equilíbrio, estabelecer prioridades, perceber o que é exequível e o que não é. Sendo certo que não conseguimos chegar a todo o lado – o elástico vai esticando, mas chega uma altura em que tem um limite – não nos podem continuar a ser atiradas para cima tarefas atrás de tarefas sem termos condições de as resolver.
Tem que ser explicado à população porque é que as medidas são tomadas, porque é que as coisas acontecem e que, efetivamente, estamos a ter um trabalho árduo. Não estamos fechados nos centros de saúde a olhar para as paredes mas a fazer o seguimento desses doentes e a tentar, ao máximo possível, manter o seguimento das patologias crónicas dos nossos doentes que, obviamente, não podem ser descuradas.

HN – Considera que este é um período que requer união e orientações concretas por parte da associação representativa dos médicos de família?
NJ – Sem dúvida que temos que ter um papel neste domínio. Daí defendermos que tem que haver uma grande ligação com todas as outras instituições, e também com a tutela, para fazermos ouvir as nossas ideias. Temos que estar unidos e concentrados naquilo que queremos.
Penso também que é muito importante que existam orientações concretas que permitam a cada médico de família, a cada equipa, unidade e ACES, perceberem como têm de atuar e o que de melhor podem fazer pelos seus doentes.
Sem dúvida que a APMGF tem um papel fulcral nesta área e terá que ser ouvida. Uma das coisas que pretendemos é marcar essa posição, fazer ouvir a nossa voz, apresentar ideias, ouvir os colegas e representar a MGF junto de todas essas estruturas, em todo este processo.

HN – Por último, que mensagem gostaria de deixar aos médicos de família?

NJ – A mensagem fundamental é que precisamos do envolvimento de todos e de uma Associação ativa e forte. Queremos que todos se sintam integrados e que têm voz dentro da APMGF.
Connosco, terão voz! Estamos abertos a todas as ideias, a discutir todos os projetos. Queremos que a MGF continue a crescer, tendo na sua base uma APMGF forte.

Entrevista de Adelaide Oliveira

 

 

 

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