UNESCO diz que apesar das meninas frequentem mais a escola, a igualdade na educação ainda está longe

9 de Outubro 2020

A frequência da escola por meninas de todo o mundo aumentou muito nos últimos 25 anos, com mais 180 milhões matriculadas, mas a igualdade de género na educação ainda está longe, denunciou esta sexta-feira a Unesco.

Um relatório da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), hoje divulgado por ocasião do Dia Internacional das Meninas , que se assinala no domingo, indica que mais 180 milhões de meninas se matricularam no ensino primário e secundário desde 1995, quando foi assinada a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, um compromisso de 189 países para desenvolver os direitos das meninas e das mulheres.

No entanto, apesar do aumento da taxa global de matrículas na escola por parte das meninas – de 73% para 89% em todos os níveis de ensino -, as raparigas continuam a ser mais excluídas do que os meninos, situação que a atual pandemia da Covid-19 está a exacerbar, alerta a Unesco.

Por isso, a organização apela aos governos que aumentem o esforço de combate à discriminação de género, “para alcançar a igualdade na próxima geração de meninas”, refere no relatório “Uma Nova Geração: 25 anos de esforços para a igualdade de género na educação”.

“Todos sabemos que a educação é a pedra angular da igualdade – e a educação de meninas e mulheres é o primeiro passo para um mundo com mais igualdade de género”, afirmou a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay.

“Embora estejamos felizes em relatar o progresso alcançado na educação de meninas e mulheres por meio dos esforços contínuos da comunidade internacional, esta publicação também mostra que ainda estamos a falhar com os mais desfavorecidos”, referiu, acrescentando que três quartos de todas as crianças que nunca irão à escola são meninas”.

Segundo a responsável, o apelo da organização é ainda mais necessário numa altura em que a Covid-19 está “a exacerbar as desigualdades de género”, pelo que é preciso “renovar o compromisso com a educação de meninas e mulheres”.

Esta renovação do apelo passa, desde logo, por eliminar a disparidade de género no acesso, participação e conclusão da educação, defende a Unesco no relatório, acrescentando que é imprescindível incentivar a existência de mais mulheres em posições de liderança, para ajudar a mudar as normas sociais e de género – e atuar como modelos para as alunas.

O relatório conclui que os estereótipos de que as mulheres são inadequadas para serem líderes são reforçados pela escassez de professoras no ensino superior.

Globalmente, as mulheres representam 94% dos professores no ensino pré-primário, mas apenas 43% no ensino superior e há ainda menos mulheres a ocupar cargos de liderança nas universidades e na administração da educação.

Outra das medidas defendidas pela Unesco são a atribuição de apoios a todas as meninas grávidas e pais jovens para que continuem a frequentar a escola.

“Apesar do declínio global, a taxa de gravidez precoce permanece altas na África subsaariana”, admite a Unesco no relatório, apontando o Chade, o Mali e Níger como os países onde as taxas são mais altas do que eram em 1995.

“Na Guiné Equatorial e na República Unida da Tanzânia ainda há proibições que impedem que meninas grávidas de frequentar a escola”, refere o documento.

O acesso a educação sexual abrangente é, aliás, outra das medidas referidas no relatório, já que “tem demonstrado prevenir a violência de género relacionada com a escola, promovendo a compreensão e o respeito pelas identidades de género dos alunos”, mas também “leva a uma redução da prevalência de gravidez precoce”.

A organização pede ainda que todos os professores, conselheiros escolares e psicólogos tenham formação para evitar que estereótipos negativos influenciem o que é ensinado e as escolhas das disciplinas pelos alunos.

“Globalmente, a percentagem de mulheres que estudam engenharia ou tecnologias de informação é inferior a 25% em mais de dois terços dos países. A proporção de mulheres na educação técnica e profissional diminuiu de 45% em 1995 para 42% em 2018”, avança a Unesco.

Por fim, a organização da ONU defende que “todos os currículos e livros didáticos devem representar as mulheres de uma forma que não perpetue os estereótipos de género”.

Em muitos países, alerta, os livros didáticos ainda retratam as mulheres apenas em papéis tradicionais de limpeza ou cuidados da casa e nunca em posições sociais e económicas ativas.

Segundo o documento da Unesco, os maiores progressos na educação das meninas nos últimos 25 anos aconteceu na África subsaariana e no sul da Ásia, com especial destaque para a Índia.

Mas apesar dos progressos, o género ainda desempenha um papel significativo nas matrículas escolares de muitos países.

No Chade, na Guiné-Bissau e no Iémen, menos de 80 meninas por cada 100 meninos concluíram a escola primária e os meninos têm duas vezes mais possibilidades de concluir o ensino secundário do que as meninas.

As grandes disparidades de género persistem sobretudo entre os alunos mais desfavorecidos, nota a Unesco, adiantando que, em pelo menos 20 países, principalmente da África subsaariana, mas também em Belize, Haiti, Paquistão e Papua-Nova Guiné, quase nenhuma jovem pobre da zona rural concluiu o ensino secundário.

“O legado da discriminação do passado é tal que as mulheres ainda representam quase dois terços dos adultos analfabetos e muitas também enfrentam barreiras adicionais, como a pobreza e deficiências”, alerta a Unesco.

“Em 59 países, as mulheres com idades entre os 15 e os 49 anos que pertencem a famílias mais pobres têm quatro vezes mais probabilidades de não saberem ler nem escrever do que as mulheres das famílias mais ricas”, acrescenta.

Perante o cenário, a equipa que elaborou o relatório aproveitou para lançar uma campanha chamada #Iamthe1stGirl, que visa mostrar ao mundo o que acontece quando os governos investem na educação de meninas.

A campanha “tem como objetivo partilhar a contribuição positiva para a sociedade de milhões de mulheres que são as primeiras das suas famílias a concluir o ensino secundário ou a universidade”, concluiu o documento.

LUSA/HN

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