João Valente Nabais Vice-Presidente da Federação Internacional da Diabetes, Professor Auxiliar da Universidade de Évora, Assessor da Direção da APDP

O “novo normal” é só anormal

10/14/2020

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O “novo normal” é só anormal

14/10/2020 | Opinião

Devo começar por dizer que detesto a expressão “novo normal“! O que é este “novo normal”? uma evolução do “velho normal” e algo que está antes do “futuro normal”?

Estamos no meio de uma pandemia brutal que vai devastar as economias, a vida de muitos milhares de pessoas, a saúde mental de outras tantas e que vai ter um impacto que ninguém ainda consegue prever. O que estamos a viver, e que desejamos nunca ter vivido e nunca mais ter que viver, levou a novas rotinas, modos de estar e de conviver. Mas…isto não tem nada de normal! Não é, não pode ser, normal a falta de afeto e de contacto físico. Não é, não pode ser, normal a sobrecarga de trabalho de todos os que estão na linha da frente no combate a esta pandemia, com especial destaque para os técnicos de saúde. Não é, não pode ser, normal as aulas, reuniões, seminários e congressos à distância. Não é, não pode ser, normal o medo e angústia de vir a ser infetado e de ser um veículo de transmissão para os que mais gostamos. Não é, não pode ser, normal o adiamento de consultas médicas, cirurgias e exames médicos que tem levado, por exemplo, ao agravamento do estado de saúde de doentes crónicos e à morte prematura de muitas pessoas.

Portanto, não existe o “novo normal”! Tudo isto é anormal! Este será um período passageiro da nossa existência, tal como todos esperamos que o seja e que passe rápido.

Todas estas novas rotinas são atitudes de adaptação da Humanidade ao Mundo onde estamos imersos e no qual tentamos sobreviver da melhor forma possível.

Infelizmente continuamos com a normalidade (absurda e bizarra) de sermos muitos reativos e pouco pró-ativos, o que em saúde se paga muito caro. Em vez de termos estratégias claras, eficazes e implementáveis que visem a qualidade de vida dos cidadãos enredamo-nos em discussões, análises e na criação de grupos e grupinhos de trabalho. Veja-se por exemplo o uso de máscara e a falta de coragem para definir o uso obrigatório em espaços comuns, fechados ou ao ar livre ou a falta de planeamento na utilização dos transportes públicos para minimizar a sobrelotação. Cada um de nós, individualmente ou em grupo, temos também que ser pró-ativos na prevenção da Covid-19 pois a minimização da transmissão do vírus depende também de nós e das atitudes que cada um toma.

Na gestão da doença crónica esta pró-atividade é fundamental para diminuir o receio de as pessoas se deslocarem a consultas médicas e exames que estejam agendados, sendo também fundamental para a prevenção ou retardamento das complicações. Por exemplo, no caso da diabetes a atitude pró-ativa no controlo da doença é crucial para prevenir as complicações, tais como doença cardiovascular, falência renal ou cegueira; mas também as situações agudas de descompensação (hipo e hiperglicemia).

Felizmente que esta pró-atividade existe nos técnicos de saúde que tratam a diabetes e que estão espalhados pelos hospitais e cuidados primários de Portugal. Embora seja parte interessada, pois tenho colaborado na instituição e porque tenho lá seguimento medico há cerca de 40 anos, cabe aqui uma palavra especial para a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, pela sua excelência no tratamento das pessoas com diabetes e capacidade de intervir junto dos decisores políticos na defesa dos interesses das pessoas com diabetes.
Felizmente que esta pró-atividade existe nas pessoas com diabetes que pela educação terapêutica, pela ajuda dos grupos de apoio e atividades interpares, pela criação de autonomia promovida pelos técnicos de saúde e pelas atividades das associações de pessoas com diabetes são capazes de gerir a diabetes para que seja possível o melhor controlo da doença e ter a melhor qualidade de vida possível.

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