Estudo revela que raios de UV demoram mais de vinte horas a eliminar o vírus nas superfícies

28 de Outubro 2020

A radiação solar ultravioleta (UV) demora entre três a dez horas a eliminar o novo coronavírus das superfícies exteriores no verão, em Lisboa, e mais de 20 horas no inverno, segundo um estudo de investigadores portugueses.

O trabalho, a que a Lusa teve acesso, conseguiu demonstrar a eficácia da radiação UV na eliminação do novo coronavírus nas superfícies em várias latitudes, definindo valores para cidades como Lisboa, São Paulo (Brasil) ou Viena (Áustria).

A investigação arrancou durante o confinamento, resultou da cooperação entre o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a Universidade de Medicina Veterinária de Viena (Áustria) e o Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde da Universidade do Porto e pretende ajudar a definir e ajustar políticas públicas.

“Construímos mapas da radiação solar UV que chega à superfície da Terra, a qual é efetiva para a inativação do vírus. Embora fosse de há muito conhecido o efeito germicida da radiação UVC, faltava saber até que ponto a radiação solar UV que atinge a superfície do globo (UVA e UVB) era capaz de inativar o SARS-CoV-2. Era uma suspeita, mas nunca se tinha avançado para verificar”, explica à Lusa a investigadora do IPMA Fernanda Carvalho.

“Quando falávamos que a radiação ultravioleta podia ter um papel importante na inativação pensava-se que era apenas a ultravioleta C, usada a nível laboratorial para esterilizar superfícies, mas concluímos que a radiação solar que atinge a superfície da Terra também desempenha essa tarefa”, explicou.

Este foi o primeiro trabalho do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) publicado numa revista científica internacional sobre a relação do SARS-CoV-2 e um elemento meteorológico, neste caso a radiação solar.

Fernanda Carvalho explicou o caminho seguido pelos investigadores neste trabalho, exemplificando: “Temos um período entre março a outubro, que é coincidente de maneira geral no continente e ilhas, e no qual o índice ultravioleta é igual ou superior a seis (Alto). Em Lisboa, por exemplo, no verão, em três a dez horas o vírus é eliminado pela radiação UV”.

“No inverno, temos tempos para esterilização superiores a 20 horas. Um dia não chega para esterilizar superfícies no exterior”, disse a especialista.

Fernanda Carvalho dá ainda outros dois exemplos: “Em São Paulo, no verão, a radiação ultravioleta leva entre meia hora a oito horas a eliminar o vírus. No inverno pode demorar um pouco mais, cerca de dez horas, mas o inverno deles vai até ao limite superior do nosso verão”.

Noutras latitudes o efeito da radiação solar UV na eliminação do coronavirus é diferente. Segundo as conclusões a que os investigardes chegaram, em Viena (Áustria) – um dos autores do estudo é austríaco – a esterilização demora entre três a 30 horas e, no inverno, o período de tempo é superior a 100 horas.

A intenção deste trabalho é ajudar a definir políticas públicas, ajustando-as para a época: “Se calhar, não interessava estar muito preocupado no verão a desinfetar superfícies expostas ao sol na praia, como mobiliários de esplanadas, pois a radiação solar UV faz essa tarefa, mas seria importante concentrar esforços no período depois do pôr do sol”, explicou a especialista.

“Se calhar faz mais sentido ter uma política mais restritiva quando não há luz solar, tanto no verão como no inverno, já que agora estamos a caminhar muito rapidamente para a diminuição quer da intensidade, quer do número de horas com radiação solar; logo, aumenta o número de horas necessárias para o vírus ser inativado”, acrescentou.

Fernanda Carvalho diz que, com este estudo, se provou que, de todos os trabalhos feitos sobre a influência dos fatores meteorológicos sobre o novo coronavírus, a radiação solar UV é a mais eficaz na inativação do vírus.

“A humidade e a temperatura condicionam o vírus, mas através do comportamento das pessoas, pois quando está mais frio as pessoas estão mais em espaços fechados e, logo, há maior contágio”, afirmou.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Internamento do Hospital de Amarante terá 150 novas camas

O internamento do Hospital de São Gonçalo, em Amarante, vai ter mais 150 camas, alargamento incluído numa obra que deverá começar no próximo ano e custará 14 milhões de euros, descreveu hoje fonte da ULS Tâmega e Sousa.

Combinação de fármacos mostra potencial para melhorar tratamento do cancro colorretal

Estudo pré-clínico liderado pela Universidade de Barcelona descobriu um mecanismo metabólico que explica a resistência das células de cancro colorretal ao fármaco palbociclib. A investigação demonstra que a combinação deste medicamento com a telaglenastat bloqueia essa adaptação das células, resultando num efeito sinérgico que reduz significativamente a proliferação tumoral, abrindo caminho para futuros ensaios clínicos

XIV Congresso da FNAM debate futuro do SNS em momento decisivo

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) vai realizar nos dias 15 e 16 de novembro de 2025, em Viana do Castelo, o seu XIV Congresso, sob o tema “Que Futuro Queremos para o SNS?”. Este encontro, que terá lugar no Hotel Axis, surge num contexto de grande incerteza para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e reunirá mais de uma centena de delegados de todo o país.

Motards apoiam prevenção do cancro da próstata no “Novembro Azul”

No âmbito do “Novembro Azul”, mês dedicado à sensibilização para o cancro no homem, o Núcleo Regional do Sul da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC-NRS) organiza a iniciativa “MEN – Motards Embrace November”, um passeio solidário de motociclistas que combina a paixão pelas duas rodas com a promoção da saúde masculina.

Hospital de Vila Real investe 13 milhões na ampliação da urgência

A Unidade Local de Saúde de Trás-os-Montes e Alto Douro (ULSTMAD) anunciou um investimento de 13 milhões de euros para a ampliação do serviço de urgência do Hospital de Vila Real. O valor, financiado a 50% pelo programa Norte 2030, destina-se a melhorar as condições de trabalho dos profissionais e o atendimento aos utentes.

André Gomes (SMZS) “Médicos satisfeitos não precisam de ser prestadores de serviços”

Em entrevista exclusiva ao HealthNews, André Gomes, recém-eleito presidente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) para o triénio 2025-2028, traça as prioridades do mandato. O foco absoluto é inverter a perda de poder de compra e a degradação das condições de trabalho no SNS. A estratégia passa por pressionar o Ministério da Saúde, já em mediação, para repor direitos como as 35 horas e atualizar salários. Combater a precariedade e travar a fuga de médicos para o privado e internacional são outras batalhas, com a defesa intransigente de um SNS público como bandeira

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights