Estudo indica que financiamento para jornalismo de investigação tem escasseado

12 de Novembro 2020

 Os meios para financiar o jornalismo de investigação estão a escassear em vários países, uma tendência que tem sido agravada pela pandemia, sendo necessárias medidas políticas para inverter este impacto, apontou o “Media for Democracy Monitor 2020”.

“Os meios necessários para financiar o jornalismo de investigação estão a escassear em muitos países. A pandemia do Covid-19 tem acelerado esta tendência. Medidas políticas para os media, assim como a atuação dos órgãos de comunicação de serviço público, podem ser elementos importantes para tentar travar tal erosão”, lê-se num comunicado do Media for Democracy Monitor (MDM), um projeto de investigação que analisa a atividade dos media.

De acordo com o mesmo estudo, a tarefa dos jornalistas enquanto “vigilantes dos diversos poderes” tem sido afetada pelo recuo do financiamento e agravada pela diminuição do número de profissionais dedicados especificamente à investigação devido ao “emagrecimento das redações”.

Em Portugal, a generalidade dos meios de comunicação reconhece que a situação económico-financeira “é muito difícil”, ressalvando que os jornalistas têm sido “decisivos na descoberta e denúncia” de alguns casos “de maior impacto público”.

Neste sentido, as estações de televisão têm procurado manter “maior atenção” ao jornalismo de investigação, recorrendo a programas semanais e a reportagens de média duração.

“Além disso, a participação de meios portugueses em consórcios internacionais de investigação jornalística tem dado alguns frutos neste domínio”, acrescentou.

Nos Países Baixos, os projetos jornalísticos de investigação têm sido “possíveis mediante políticas de subsidiação”, sendo que medidas semelhantes têm também sido adotadas na Bélgica, revelou o projeto.

Em países como o Chile as dificuldades financeiras levaram à “redução substancial dos orçamentos” e as empresas optaram por adquirir trabalhos de investigação a ‘freelancers’.

Também neste país, o centro para o jornalismo de investigação desenvolveu um modelo de angariação de fundos recorrendo ao ‘crowdfunding’ (financiamento coletivo) e criou um ‘site’, com assinatura paga, onde são publicadas reportagens de investigação.

Já na Sécia, alguns órgãos de comunicação privados tentam canalizar 10% dos orçamentos editoriais para trabalhos de investigação, enquanto na Dinamarca os meios “mais importantes a nível nacional” procuram manter equipas dedicadas a trabalhos de investigação, disponibilizando os recursos adequados.

No Reino Unido, continua a observar-se “alguma dinâmica” na produção destes trabalhos, “embora as pressões financeiras se façam sentir cada vez mais nos meios regionais e locais”.

Situação semelhante verifica-se na Austrália, onde foram reduzidos os meios dedicados à investigação, enquanto na Finlândia pode verificar-se uma “situação de exceção” nos média de serviço público.

“Poderá dizer-se que a existência de jornalismo de investigação é proporcional à capacidade financeira dos diferentes órgãos de comunicação. Uma vez que a própria sobrevivência económica de muitas empresas de média se tornou a primeira e mais urgente prioridade, o jornalismo investigativo acaba por sofrer com isso. Pela experiência de alguns países, pode dizer-se que uma política de subsídios bem definida e bem gerida é eficaz em tempos de crise económica”, concluiu.

O MDM foi desenvolvido durante o primeiro semestre do corrente ano na Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica (Flandres), Canadá, Chile, Coreia do Sul, Dinamarca, Finlândia, Grécia, Hong Kong, Islândia, Itália, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Suécia e Suíça.

A pandemia de Covid-19 provocou pelo menos 1.285.160 mortos em mais de 52,1 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 3.103 pessoas dos 192.172 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

LUSA/HN

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