Mário André Macedo Enfermeiro Especialista em Saúde Infantil

Diplomacia da saúde, o nosso soft power

11/21/2020

[xyz-ips snippet=”Excerpto”]

Diplomacia da saúde, o nosso soft power

21/11/2020 | Notícias, Opinião | 0 comments

A situação na região norte de Moçambique encontra-se bastante debilitada. Numa história, demasiadas vezes repetida, a descoberta de riquezas naturais atraiu instabilidade política, desta vez com a forma de terrorismo associado ao autoproclamado estado islâmico. Além dos danos em vidas humanas e materiais, o conflito trouxe danos na saúde das populações: dificuldade acrescida no acesso a cuidados materno-infantis, aumento de casos de malária, diarreias, um enorme e iminente risco de um surto de cólera, além de uma exposição sem qualquer tipo de salvaguarda à Covid-19.

A saúde global sofre o impacto da desestabilização política regional e dos efeitos colaterais da Covid-19. Na África oriental, a diminuição de recursos causada pela sua alocação à pandemia, conjugada com o aumento da instabilidade na região, nomeadamente na Etiópia, provocou o regresso da poliomielite. Uma doença que está em vias de ser erradicada, mas graças a problemas de instabilidade política associado a más decisões, tem conseguido sempre regressar e deixar marcas permanentes nas crianças.

São dois ilustrativos exemplos, em como a saúde é essencial para a resolução de problemas políticos. A situação em Cabo Delgado precisa que chegue apoio aos militares moçambicanos, diplomacia para isolar o grupo e cortar as suas fontes de financiamento, mas também é necessário especialistas em saúde pública, que possam contribuir para melhorar a vida das pessoas que lá habitam. Jovens mais saudáveis, que residam num local onde a doença e morte não reinam, que desta forma consigam ter acesso a melhores condições e oportunidades, tenderão a estar menos disponíveis para qualquer grupo extremista.

O constante crescimento da atividade e pressão humana sobre o meio ambiente, tem o potencial de libertar novos elementos patogénicos com consequências imprevisíveis. O mundo globalizado proporciona que um evento local rapidamente se torne um fenómeno global. O crescimento mundial de movimentos populistas e nacionalistas, minam a cooperação e solidariedade internacional, e como aprendemos com a Covid-19, a própria doença cria e exacerba divisões e conflitos.  Por um lado, estamos menos preparados para lidar com ameaças à saúde global, que requer necessariamente um paradigma de cooperação e partilha de responsabilidades.

Especialistas em saúde pública devem fazer parte dos quadros dos negócios estrangeiros, a saúde global depende das sinergias assim criadas. Portugal não tem capacidade para liderar uma intervenção diplomática ou militar em Moçambique, mas tem meios para resgatar a saúde das pessoas reféns do terrorismo. A par da língua, o setor da saúde é possivelmente um dos nossos maiores ativos, gerador de um valioso soft power, que pode ser usado na consecução dos nossos objetivos diplomáticos.

A receita para uma saúde global saudável é simples, é necessária uma liderança responsável, uma sociedade civil envolvida, uma governança global para a saúde assim como sistemas de saúde fortes e ágeis, com foco na deteção e vigilância precoce contando com o indispensável investimento sustentado. É tempo de agir, resolver a atual crise de saúde pública, promovendo desta forma a recuperação económica e a normalização da atividade programada. Não esquecendo que as novas emergências de saúde não aguardam pela sua vez. A inação custará muito mais que os preparativos. Segundo a OMS, a fatura da resposta à Covid ascende a 11 triliões de dólares, a que acrescem mais 10 triliões em perdas de futuras receitas. O custo da preparação teria ficado apenas em 5 dólares por pessoa.

Ninguém está seguro, até todos estarem seguros. Esforços têm de ser feitos, a nível mundial, para que a saúde de todos esteja protegida, tanto de doenças antigas como a poliomielite, da pandemia atual ou de futuras doenças.

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Assaltada base da ambulância de emergência do INEM na Maia

A base da ambulância de emergência médica da Maia do INEM foi assaltada hoje, tendo sido roubados um computador e peças de fardamento do instituto, disse à Lusa fonte o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH).

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights