Desinformação e ciberataques ligados à vacinação irão aumentar no semestre português

12 de Dezembro 2020

O aumento de ciberataques e de desinformação que surgiu com a pandemia da Covid-19 continuará durante a presidência portuguesa da União Europeia (UE), tornando-se a vacinação um dos temas privilegiados […]

O aumento de ciberataques e de desinformação que surgiu com a pandemia da Covid-19 continuará durante a presidência portuguesa da União Europeia (UE), tornando-se a vacinação um dos temas privilegiados pelos cibercriminosos, referem responsáveis à Lusa.

“Se, durante o início da pandemia, o tema utilizado pelos ‘hackers’ era a Covid-19, agora estamos a ver um grande desenvolvimento na utilização da vacina. A vacina, neste momento, é o tema, é o assunto que os cibercriminosos estão a utilizar para atrair vítimas para os seus ataques”, refere Marco Barros Lourenço, responsável pela Investigação e Inovação da Agência Europeia para a Segurança das Redes e da Informação (ENISA, na sigla em inglês), em entrevista à Lusa.

Segundo o investigador português, o facto de as pessoas quererem “procurar informação muito rapidamente” – da fiabilidade das vacinas, à maneira como serão administradas ou aos efeitos secundários que poderão criar – “dá azo” a várias ações que podem tomar a forma de campanhas de desinformação ou de ciberataques.

“Durante o início da pandemia, vimos [mensagens] SMS falsas da Direção-Geral da Saúde (DGS) e de outras autoridades noutros Estados-membros. Vamos ver, provavelmente – e já estamos a começar a ver – mensagens a chamar as pessoas para serem vacinadas e clicarem no ‘link’ para se registarem para obterem uma vacina, por exemplo. São situações das quais, tipicamente, os ‘hackers’ tentam tirar vantagem”, sublinha Barros Lourenço.

Esta tendência tornou-se clara na quarta-feira passada quando a Agência Europeia do Medicamento (AEM) anunciou que tinha sofrido um ciberataque, tendo sido pirateados documentos relacionados com a vacina contra a Covid-19 da Pfizer e da BioNTech.

Também Irene Plank, diretora de comunicação estratégica no Ministério de Relações Externas da Alemanha e responsável pela desinformação durante a presidência alemã, refere, em entrevista à Lusa, que a pandemia criou um “cenário de sonho” para quem quer difundir desinformação.

“A Covid-19 foi algo que fez com que as pessoas se sentissem muito inseguras, ninguém sabia ao certo do que é que se tratava… E, quando se procura informação na Internet, cria-se um cenário de sonho para quem quer difundir informação. Foi, claro, o que aconteceu”, refere Plank.

Interrogada acerca da resposta dada pela presidência alemã às campanhas de desinformação, Irene Plank refere que, nos casos em que a integridade física das pessoas não foi posta em causa, a presidência optou por ignorar as campanhas e abrir canais de informação credíveis.

“A nossa filosofia geral é: não, não desmascaramos. Preferimos utilizar a nossa própria comunicação, que é baseada em factos, (…) e tentar fazer com que chegue a esses espaços [de desinformação]. Acreditamos na força das narrativas baseadas em factos”, frisa Plank.

Ainda que ressalvando que, na maioria dos casos, “não havia muito esforço por trás das ações” de desinformação, nem o intuito de se “criar uma história completa”, Plank salienta que o objetivo costumava ser o de “enfraquecer a coesão dentro da UE e, também, dentro das sociedades respetivas que compõem a UE”.

A responsável alemã sublinha assim que pode dizer “de maneira segura” que Portugal terá de continuar a “lidar com toda a desinformação ligada à Covid”.

“Acho que podemos dizer com segurança que a presidência portuguesa irá continuar a lidar com os desafios originados pela pandemia, incluindo com toda a desinformação ligada à Covid”, refere Plank.

Também Hanna Smith, diretora de investigação e análise no Centro Europeu de Excelência para Combate às Ameaças Híbridas, frisa à Lusa que “não há dúvidas” que o que tem sido visto “em termos de desinformação e ciberataques” continuará, incluindo durante a presidência portuguesa.

“A melhor maneira de olharmos para o fenómeno é pensar que irá continuar, que os ataques irão continuar e, por isso, temos de monitorizar a 360º graus o maior número de áreas possível”, sublinha Hanna Smith.

LUSA/HN

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