Programa FOCUS. Rastreios abrandaram durante a pandemia, mas nunca pararam

13 de Dezembro 2020

Na União Europeia 1 em cada 2 pessoas que vivem com VIH é diagnosticada tardiamente. Isto é particularmente preocupante nas populações migrantes e em homens heterossexuais, que registam um diagnóstico tardio de 57% e 63%, respetivamente. Comparativamente, 40% dos homens que fazem sexo com homens são diagnosticados tardiamente.

Decorreu no passado dia 19 de novembro uma reunião entre os vários parceiros internacionais do programa FOCUS que trabalham na linha da frente em mais de 90 cidades dos Estados Unidos, Espanha e Portugal, organizado pela Gilead Sciences. Por Portugal estiveram presentes a Dr.ª Inês Vaz Pinto, do Hospital de Cascais (na imagem) como oradora convidada, e a deputada do Parlamento Europeu e perita em Saúde Pública, Dr.ª Sara Cerdas. Segundo Inês Vaz Pinto, o impacto da pandemia de Covid-19 fez-se sentir no número de rastreios efetuados, mas nunca pararam.

Na União Europeia 1 em cada 2 pessoas que vivem com VIH é diagnosticada tardiamente. Isto é particularmente preocupante nas populações migrantes e em homens heterossexuais, que registam um diagnóstico tardio de 57% e 63%, respetivamente. Comparativamente, 40% dos homens que fazem sexo com homens são diagnosticados tardiamente. O diagnóstico tardio é problemático para o individuo, com aumento da morbilidade e mortalidade, assim como para a sociedade, com acréscimo das despesas de saúde e oportunidades perdidas para quebrar cadeias de transmissão.

Para melhorar a estratégia de rastreio e permitir diagnósticos mais atempados, a Gilead desenvolveu, em 2010, o Programa FOCUS para capacitar os governos e as organizações parceiras para desenvolver e partilhar boas práticas na prevenção de Vírus Transmitidos pelo Sangue, segundo as orientações das autoridades de saúde.

O Hospital de Cascais foi o primeiro a implementar o programa na UE. “A alteração do nosso registo de saúde eletrónico permitiu-nos integrar o rastreio nos cuidados de saúde prestados no serviço de urgências”, recorda a coordenadora da unidade de VIH do Hospital de Cascais, Dra. Inês Vaz Pinto. “Testámos mais de 34 mil doentes em 28 meses e encontrámos uma seroprevalência de 0,8% para o VIH e 1,6% para o a hepatite”, continua a médica, detalhando como o programa permitiu à equipa diagnosticar pessoas que desconheciam as suas infeções, permitindo ainda reduzir os diagnósticos tardios de VIH de 91% para 42%.

A Dr.ª Inês Vaz Pinto destaca também a resistência da estratégia a eventos tão perturbadores como uma pandemia. “Claro que a COVID-19 também teve um impacto no nosso projeto de rastreio, mas nunca parámos”, acrescenta. “O rastreio já está a subir novamente e estamos muito entusiasmados com os resultados até agora”.

Coube à Deputada do Parlamento Europeu e perita em Saúde Pública, Dra. Sara Cerdas, encerrar a sessão de partilha com a sua análise. “O VIH e as hepatites virais são bastante importantes porque estamos a falar de epidemias anteriores à COVID-19, que parecem ter-se perdido à medida que se transformaram em doenças crónicas ou curáveis” afirma a decisora política, “mas não podemos esquecê-las e temos de trabalhar em conjunto com os estados membros e com as diferentes partes interessadas para termos uma perspetiva melhor para estas doenças”.

A eurodeputada salienta ainda a importância do plano EU4Health 2021-2027, recentemente aprovado, que confirmou o valor acrescentado das recomendações para o VIH da UE. “O VIH e as hepatites virais constam deste pacote e haverá ferramentas e instrumentos para melhores abordagens para alcançar os objetivos da OMS para 2030”.

“O VIH não deve ser esquecido, as hepatites virais não devem ser esquecidas”, desafia a Dra. Sara Cerdas, “são doenças com enorme peso não só para os indivíduos como para as sociedades, mas também para cada Estado membro”.

O Programa FOCUS EU

O modelo de rastreio do programa FOCUS baseia-se na integração dos testes na prática clínica de rotina, utilizando as infraestruturas e o pessoal existentes para gerar eficiências. Na prática, significa tirar maior partido das visitas da população às instituições prestadores de cuidados de saúde e testá-la no local. Os peritos em saúde pública chamam-lhe “Rastreio Oportunista”. A ideia é implementar os testes ao VIH baseados em diretrizes das autoridades de saúde pública que reduzem preconceitos estabelecidos enquanto respeitam os direitos do doente.

O programa FOCUS na UE inclui hospitais, centros de saúde, organizações de base comunitária, agências governamentais e outras organizações de saúde pública que promovem o rastreio, diagnóstico e ligação aos cuidados de saúde. Juntos, os parceiros FOCUS da UE já realizaram mais de 270 mil testes para o VIH, hepatite B e C.

O Diagnóstico tardio de VIH é uma ameaça permanente para o indivíduo e para a saúde pública, e é especialmente problemático em populações sem contacto frequente com o sistema de saúde. Investindo no rastreio temos a oportunidade de reduzir os casos de VIH não diagnosticados e de dar mais um passo para parar o vírus.

PR/HN/João Marques

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