Associação de Vinhos e Espirituosas quer fim da proibição de venda após as 20:00

16 de Dezembro 2020

A Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal (ACIBEV) apelou esta quarta-feira ao Governo para que não prorrogue a proibição de venda de bebidas alcoólicas após as 20:00, medida que diz “prejudicar o setor do vinho e a economia nacional”.

“A ACIBEV vem por este meio reiterar a sua preocupação sobre a continuidade de medidas legislativas que proíbem a venda de bebidas alcoólicas depois das 20:00, em virtude da pandemia, e faz um apelo ao Governo para que não prorrogue tais medidas”, lê-se num comunicado da associação.

Segundo salienta, “num momento tão difícil para as empresas, em que o canal Horeca [hotelaria, restauração e cafetaria] continua a ter quebras muito significativas, é vital poder continuar a vender nos estabelecimentos de comércio a retalho, incluindo supermercados e hipermercados e nas esplanadas, sem restrições que não têm qualquer justificação de saúde”.

Assegurando que o vinho “é um setor responsável e está sempre disponível para colaborar em todas as políticas e medidas que visem acautelar a saúde pública”, a ACIBEV diz compreender a medida decretada em março passado pelo Governo de proibir o consumo de bebidas alcoólicas na via pública, “por potenciar o convívio e a violação da regra do distanciamento social, em especial no verão, exigida pela pandemia”.

“No entanto, num país como o nosso, em que o consumo de vinho está associado às refeições e à dieta mediterrânica, não entendemos qual a justificação para a proibição da venda de bebidas alcoólicas, após as 20:00, nos estabelecimentos de comércio a retalho, incluindo supermercados e hipermercados”, salienta.

Segundo a ACIBEV, “esta medida, sem qualquer evidência científica, prejudica todos consumidores que pretendem fazer as suas compras em horário pós-laboral e tem incentivado a aglomeração de pessoas no horário anterior às 20:00”.

Adicionalmente, “fomenta a separação estrutural dos locais destinados às bebidas alcoólicas, por ser mais fácil ‘fechá-los’ após as 20:00, desincentivando as ações de promoção dos vinhos portugueses nos pontos de venda, associadas por exemplo a produtos da dieta mediterrânica (os chamados ‘second placement’)”.

De acordo com a associação, pela mesma razão tem-se verificado, especialmente nas grandes superfícies, a supressão dos “topos” (prateleiras com maior destaque), “que têm níveis de venda mais interessantes para as empresas”.

No comunicado, a ACIBEV contesta também “que a proibição da venda de bebidas alcoólicas seja alargada às esplanadas, quando os estabelecimentos de restauração e bebidas já provaram que podem ser adotadas medidas de distanciamento social”.

“Esta medida é claramente discriminatória. Desde que sejam cumpridas as regras de distanciamento social, não compreendemos qual a diferença entre estar a consumir uma bebida não alcoólica numa esplanada ou uma bebida alcoólica”, argumenta.

Para a associação, “estas regras, cuja evidência científica não está comprovada, transmitem uma mensagem de saúde errada à população e acabam por fomentar o seu desrespeito”.

“Ficamos com a ideia de que o objetivo destas medidas não são o combate à Covid-19 e aos comportamentos de risco com ela associados, mas sim a diminuição do consumo de bebidas alcoólicas, afetando negativamente um produto nacional como o vinho, que é parte integrante da vida e cultura portuguesas e é apreciado por milhões de pessoas de forma moderada e responsável”, considera.

Especificamente no setor do vinho, cujas exportações portuguesas atingiram em 2019 “o valor mais alto de sempre”, de 822 milhões de euros, a ACIBEV destaca o “impacto negativo” da pandemia, quer a nível nacional, quer das vendas para o exterior.

E se, no mercado interno, “as empresas que vendiam na distribuição conseguiram aguentar as vendas (embora a um preço mais baixo), aquelas que dependiam essencialmente do canal Horeca entraram numa profunda crise”, refere.

Segundo a associação, “as vendas para a restauração sofreram uma quebra de cerca de 50%, tanto em volume como em valor, e não é expectável que a situação melhore nos próximos meses, pois a situação epidemiológica está a agravar-se e a confiança dos consumidores está em níveis muito baixos”, para além do fluxo de turistas ser muito mais reduzido.

Assim, destaca, no primeiro semestre deste ano o mercado nacional de vinho (distribuição e restauração) sofreu uma quebra de 10,2% em volume e de 23,9% em valor, tendo-se registado uma diminuição do preço médio de 15,3% face ao período homólogo de 2019.

Já as exportações de vinho nacional, “após uma quebra significativa no primeiro semestre de 2020 (-1,2% em volume e -0,9% em valor), registaram novamente um aumento nos meses de julho e agosto (3,4% em volume e 2,3% em valor) em relação ao período homólogo de 2019”.

Segundo precisa, a quebra nas exportações do primeiro semestre do ano deveu-se essencialmente ao segundo trimestre (quebras de 4,9% em volume e 2,9% em valor), período em que a pandemia começou a afetar intensamente os países da Europa, após uma tendência de subida no primeiro trimestre (aumento de 2,9% em volume e de 1,2% em valor).

Apontando a “grande volatilidade” registada nos mercados internacionais – onde se destacam, entre os principais mercados de exportação de Portugal, as “quebras acentuadas” nas vendas para a China, Angola, Alemanha e França, enquanto o Canadá, Brasil e EUA registaram um aumento significativo – a ACIBEV salienta que “o mercado nacional é fundamental” para as empresas do setor.

“Só uma situação sólida no mercado interno permite aguentar a situação financeira das empresas, manter os postos de trabalho e, sempre que possível, alavancar os investimentos na exportação”, remata.

A pandemia de Covid-19 provocou pelo menos 1.636.687 mortos resultantes de mais de 73,4 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 5.815 pessoas dos 358.296 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

LUSA/HN

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