Ana Castro Rollo, Interna de Formação Específica em Medicina Geral e Familiar, USF Nova Era

A equipa de Saúde na frente de combate ao COVID 19

12/17/2020

[xyz-ips snippet=”Excerpto”]

A equipa de Saúde na frente de combate ao COVID 19

17/12/2020 | Opinião

Chegado o final deste ano de desafios, é natural fazer uma retrospetiva. Como ano atípico que foi, pondo em causa tanto do que julgávamos certo, este ano exige uma introspeção.

Foi natural valorizar o que passava como garantido: o abraço da amizade, a aproximação, o toque,  o convívio com quem nos é querido. A exigência de afastamento dos mais vulneráveis, como proteção dos mesmos, torna-nos mais duros, pela certeza de que assim estarão mais seguros, apesar da dor que fica pela condição, mesmo quando são necessárias alternativas mirabolantes para nos mantermos presentes.

Todos nós, e falando agora de nós como Profissionais de Saúde, vimo-nos perante o ataque da Pandemia Covid-19. A incerteza que esta trouxe, a mudança de rotinas. O ter de ir quando todos tinham de ficar. A tentativa de proteger ao máximo os nossos utentes, foi mal entendida pela população em geral. Continuamos a ouvir que “deixaram de fazer consultas”, “parecem astronautas com medo do vírus”, quando na verdade trabalhamos mais do que alguma vez seria possível imaginar e sempre com o intuito de proteger os que nos procuram. Este trabalho invisível da linha da frente do Serviço Nacional de Saúde é mal entendido. Quando digo linha da frente, falo de todos nós, Profissionais de Saúde, todos os que fazem esta roda girar e que muitas vezes com pouco, fazem muito.

Logo desde cedo iniciou-se a organização. Nunca se reuniu tanto e de tantas formas, na procura de alcançar e aprender soluções. Nunca fechamos as portas, sempre mantivemos as consultas, apesar de grande parte se ter transformado em não presencial. Não deixamos de ver os diabéticos, os hipertensos, as crianças e as grávidas ou quem se apresenta com uma doença de novo ou agravada. Somos nós que diariamente entramos em casa dos suspeitos e infetados por Covid-19 através do telefonema, mas dando segurança e aconselhando os 80% casos ligeiros a moderados sobre como atuar. Enfermeiros e Médicos unem-se nesta tarefa. Mantém-se o domicílio, os cuidados de penso. As Secretárias Clínicas desdobram-se em papéis, emails, telefonemas, procuram ajudar, resolver, criar soluções. Levam com múltiplas queixas ao balcão, porque o trabalho é invisível aos olhos de quem não quer ver. Vejo as Assistentes Operacionais a procurarem deixar tudo como manda o controle de infeção, a aprenderam novas formas de limpar e como o fazer, permitindo que tudo esteja bem. Vejo o Segurança a manter a ordem e muitas vezes a ter de fazer tarefas antes impensáveis. Vejo os meus colegas Médicos, muitas vezes já cansados, muitos sem possibilidade de férias, mas a fazer tudo e muitas vezes para lá da hora de saída. Numa altura em que o desgaste vai tomando forma, olho à minha volta e sinto um orgulho enorme por ser Profissional de Saúde. Não pelo reconhecimento a nível superior, mas pelo que vejo acontecer. Vejo-os diariamente, os meus Colegas de Guerra, e os esforços que fazem para que tudo corra bem.  

Mantém-se os objetivos, apesar de haver mais obstáculos para os alcançar. O trabalho em equipa faz-nos chegar mais longe e é de cabeça erguida e de coração cheio que sinto fazer parte de uma… A equipa dos Profissionais de Saúde.

Bem hajam, mantenham-se seguros e protejam-se. “Isto também passará.”

10 Comments

  1. elisabete

    Muito, muito obrigado Ana pelo que disseste.

  2. Ricardo Castro Rollo

    Parabéns a vocês, médicos na linha da frente! Excelente artigo.

  3. Rachel Marques

    Muito Obgd pelo artigo. Muito bom

  4. Teresa Afonso

    Parabéns a vocês na linha da frente!! Obrigada

  5. Adauto

    Estrutura mental superior, ao descrever e principalmente um sentimento de humanismo raro nos tempos geo estratégico político onde os seres humanos já não são considerados como tal, pela cor, diferenças e estatuto social.

  6. Olinda Rollo

    Texto maravilhoso, esclarecedor ,acerca do trabalho incansável e por vezes árduo, feito pelos profissionais de saúde a nível dos Centros de Saúde . Parabéns Ana , muito orgulho ? ???

  7. Teotónio

    Grande texto com poderosa comunicação. Diz por palavras aquilo que muitos pensam.
    Parabéns e um beijinho,Dra Ana Rollo, do tio e padrinho cheio de orgulho.

  8. Teresa Costa

    Excelente artigo, escrito com muita cabeça mas também com o coração, que nos faz sentir muito gratos pelo trabalho destes profissionais.
    Parabéns e muito obrigada.
    És uma grande mulher!!!
    Teresa Costa

  9. Luís Rocha

    Mensagem cativante pela autenticidade e emoção genuína.
    (palavras que valem mais que muitas imagens)
    Parabéns pela excelência da escrita.
    Obrigado pelo trabalho nobre e corajoso.

  10. Ana Maria Ribeiro

    Obrigada pelo empenho que demonstram diariamente. Bem hajam

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

OMS lança nova rede de laboratórios para os coronavírus

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma nova rede de laboratórios para coordenar as capacidades à escala global de deteção, monitorização e avaliação de coronavírus potencialmente novos ou em circulação com impacto na saúde pública.

Apresentados resultados de medicamento para esclerose múltipla

Numa análise post-hoc, os novos dados revelam evidências de benefícios cognitivos na esclerose múltipla recidivante após o tratamento inicial com MAVENCLAD® (cladribina em comprimidos), com melhoria cognitiva sustentada ou estabilidade observada a dois anos.

Federação da paralisia cerebral sensibiliza novo PM para apoios

A Federação das Associações Portuguesas de Paralisia Cerebral (FAPPC) pediu a intervenção do novo primeiro-ministro para um conjunto de reclamações que, em alguns casos, estão inalteradas há uma década, queixando-se da falta de respostas do anterior executivo.

Neurocientista discursa sobre música e drogas psicadélicas como moduladores poderosos da criatividade

O diretor do Centro de Investigação Psicadélica e da Consciência Johns Hopkins nos EUA vai marcar presença no 14º Simpósio “Aquém e Além do Cérebro”, promovido pela Fundação BIAL e que decorre de 3 a 6 de abril na Casa do Médico, no Porto. O neurocientista vai discursar sobre algumas evidências empíricas que sugerem que as drogas psicadélicas podem ser moduladores poderosos da criatividade.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights