Sessenta sem-abrigo do Porto vão ser reincluidos social e profissionalmente

14 de Janeiro 2021

 Sessenta pessoas em situação de sem-abrigo da cidade do Porto vão ser reincluídas social e profissionalmente, no âmbito do projeto Porto Sentido, iniciado no ano passado.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Escola Superior Saúde Santa Maria, José Manuel Silva, afirmou esta quinta-feira que o projeto “Porto Sentido – Habitação, Capacitação, Reinserção” pretende que as pessoas em situação de sem-abrigo do Porto “tenham o que é indispensável a qualquer ser humano”: um teto e uma chave que lhes dê acesso ao seu espaço.

Iniciado em 2020, o projeto, coordenado pela Escola Superior Saúde Santa Maria, Santa Casa da Misericórdia do Porto e Serviço de Assistência Organizações de Maria (SAOM), tem como investidor social a Câmara do Porto.

O Porto Sentido, financiado em cerca de 700 mil euros pelo programa Norte 2020, já está a acompanhar cerca de 30 pessoas.

Este grupo será acompanhado durante um ano e meio, sendo que, numa segunda fase, será reconduzido um segundo grupo (composto por cerca de 30 pessoas em situação de sem-abrigo) durante o mesmo período.

O programa de acompanhamento é seguido por sete técnicos facilitadores.

A seleção, levada a cabo por uma rede de instituições da cidade que atuam nesta área, tem como principal requisito a “motivação destas pessoas para se reintegrarem social e profissionalmente”.

“Os requisitos prendem-se com a motivação das pessoas para integrarem um projeto com estas características. Portanto, o principal fator é a motivação e as características intrínsecas das pessoas”, afirmou José Manuel Silva.

Os beneficiários do projeto estão a ser alojados em residências disponibilizadas pela autarquia, pela Santa Casa da Misericórdia do Porto e em alojamentos alugados especificamente para o projeto.

“Trata-se de começar por disponibilizar um alojamento com o objetivo de as pessoas seguirem um programa de formação e acompanhamento que, no final, lhes permita tornarem-se autónomas”, acrescentou.

Além de “um teto”, os beneficiários têm também um plano individual de saúde, monitorizado por uma psicóloga e um enfermeiro da Escola Superior Saúde Santa Maria.

“Este projeto comporta também uma dimensão sanitária relacionada com organização de um plano individual de saúde para cada um deles”, afirmou José Manuel Silva, acrescentando que, no âmbito deste plano, se detetou que a maioria dos sem-abrigo sofre de “graves problemas estomatológicos”.

Nesse sentido, em articulação com a organização Mundo a Sorrir, os coordenadores estão a organizar um plano de saúde oral, para o qual procuram doadores, uma vez que a higiene oral não está contemplada no financiamento.

“O plano individual de saúde está plenamente dotado de financiamento, a questão que se coloca é que o programa de saúde oral não estava previsto inicialmente”, explicou o responsável.

Outro dos objetivos do Porto Sentido é reintegrar profissionalmente os grupos de acordo com as habilitações profissionais de cada um, tendo para o efeito sido disponibilizada uma Bolsa de Formação, à qual as empresas podem recorrer.

“As empresas podem disponibilizar-se para receber como colaboradores os beneficiários do programa que tenham aptidões para se incluir em postos de trabalho específicos de cada empresa”, esclareceu José Manuel Silva, acrescentando que haverá acompanhamento por parte dos facilitadores durante o período experimental.

Neste momento, os coordenadores do projeto estão a articular com a Associação Empresarial de Portugal (AEP) e a Associação Comercial do Porto a possibilidade de os beneficiários poderem reintegrar alguns postos de trabalho.

“Vários já estão no mercado de trabalho”, assegurou, acrescentando que “o objetivo é que as pessoas fiquem autónomas do ponto de vista social e profissional, possam organizar-se como qualquer um de nós, com o seu próprio espaço, emprego e necessidades básicas supridas”.

No âmbito do projeto, está ainda a ser desenvolvido um processo de investigação sobre as histórias de vida dos beneficiários que outrora foram sem-abrigo.

LUSA/HN

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