João Valente Nabais Vice-Presidente da Federação Internacional da Diabetes, Professor Auxiliar da Universidade de Évora, Assessor da Direção da APDP

2021, Odisseia na diabetes!

01/20/2021

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2021, Odisseia na diabetes!

20/01/2021 | Opinião

Celebra-se em 2021 o centenário da descoberta da insulina, com diversas iniciativas ao longo do ano e em diversos sítios de Portugal. Para saber mais sobre estas iniciativas e sobre a história da insulina aconselho aceder ao site www.100anosinsulina.pt .

A descoberta da insulina é um dos marcos mais importantes da medicina! Antes da sua descoberta, e uso, o diagnóstico de diabetes significava uma sentença de morte. Posso dizer que, sem a insulina, eu já teria morrido há muitos anos. Esta hormona é para mim, e todas as pessoas com diabetes tipo 1, o elixir da vida. Sim, é uma chatice não ser também o elixir da juventude…mas não se pode ter tudo.

O ano de 1921 marca a descoberta da insulina por Frederik Banting, Charles Best, John MacLeod e James Colip, cujo trabalho foi alicerçado no conhecimento produzido até então por um conjunto variado de cientistas, como por exemplo Paul Langerhans que descobriu as células produtoras de insulina (mais tarde chamadas de ilhéus de Langerhans). Por curiosidade, referir que Paul tem uma ligação a Portugal por ter vivido na ilha da Madeira, para onde se mudou em 1874 na tentativa de curar uma tuberculose pulmonar com a ajuda do clima ameno da ilha.

Os resultados encorajadores realizados em cães motivaram Banting e Best a iniciar os testes em humanos. A primeira injeção de insulina foi administrada em 11 de Janeiro de 1922 a Leonard Thompson, um rapaz de 14 anos que estava em estado critico motivado pela diabetes. Esta primeira experiência não teve o sucesso esperado pois não houve redução de glucose nem de corpos cetónicos. Após um trabalho de purificação do extrato pancreático, nos primórdios a insulina era extraída de pâncreas de animais, a segunda injeção foi administrada a 23 de Janeiro de 1922 com um sucesso absoluto!

Os investigadores rapidamente perceberam o impacto da sua descoberta e que esta seria a salvação de muitas pessoas em todo o Mundo. Com o objetivo de tornar este tratamento rapidamente acessível, venderam a patente à Universidade de Toronto por 1 dólar que depois criou um Comité para as negociações com a empresa Eli Lilly, a primeira empresa a produzir em massa a insulina decorriam os primeiros meses de 1922. No seguimento, em 1923, o cientista biomédico August Krogh, cuja esposa tinha diabetes, fundou com o Dr. Hans C. Hagerdon na Dinamarca a empresa Nordisk Insulin Company para a produção de insulina.

Desde então muitas evoluções científicas na produção de insulina tiveram lugar, e muitas mais vão acontecer seguramente, mas…o que pensariam os descobridores da insulina se alguém lhe dissesse que ao fim de 100 anos a insulina ainda não estaria disponível para toda a população Mundial? Ficariam incrédulos! Mas, infelizmente é isso que acontece na atualidade. Quer seja pelo preço, quer seja pela dificuldade de acesso e armazenamento ainda hoje em dia há muitas, demasiadas, pessoas que morrem por não terem acesso a este medicamento milagroso e salvador. Ao longo dos anos diversas iniciativas tentaram dar resposta a este problema, uma das quais a “Life for a child” cujo lema é: “No child should die of diabetes” (Nenhuma criança deve morrer pela diabetes) https://lifeforachild.org.

Em Portugal, a história da diabetes e da insulina está ligada ao Dr Ernesto Roma e à Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), fundada em 1926. Esta é a primeira associação de pessoas com diabetes do Mundo e a quem se deve a introdução da insulina em Portugal. O Dr. Roma frustrado pelas mortes de pessoas com diabetes que, sendo pobres, não conseguiam assistência médica e comprar a insulina, mobilizou pessoas ricas, pacientes e amigos para fundar a então Associação Protectora dos Diabéticos Pobres e, assim, fornecer insulina aos que não a podiam adquirir. Para além disso, o Dr. Roma foi também um pioneiro na educação das pessoas com diabetes pois desde o início percebeu a importância deste pilar do tratamento da diabetes.

Para mim a data de Janeiro de 2021 tem um significado muito especial. Fez no dia 5 de Janeiro que celebrei 40 anos a viver com a diabetes. O diagnóstico foi feito em Évora, onde ainda resido, e de imediato fui encaminhado para a APDP. Entrei na APDP no dia 11 de Janeiro de 1981 onde recebi a minha primeira, das milhentas desde então, injeção de insulina. Coincidência ter sido no mesmo dia de Leonard, mas separado vários anos! Não sou assim um dinossauro tão antigo!

Desde esse dia muito mudou! Passei de uma injeção por dia com uma seringa de vidro, que parelha com uma agulha monstruosa, para usar uma bomba de insulina inteligente. Bom…alguma coisa tinha que ser inteligente por estas bandas…

É na APDP que me sinto em casa, é lá que tenho o prazer de ter feito amizades fortes para a vida, é lá que tenho um atendimento de qualidade, é lá que tantas vezes oiço: APDP to Major Tom (o título desta crónica tinha que fazer algum sentido) e é lá que espero poder contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas com diabetes através de uma sociedade melhor, mais justa, mais igual e menos discriminatória.

 

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