António de Sousa Uva Médico do trabalho, Imunoalergologista e Professor catedrático da NOVA (ENSP)

+COVID-19: ainda as escolas!

02/08/2021

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+COVID-19: ainda as escolas!

08/02/2021 | Opinião

No século passado, por vezes (ainda que raramente), usava-se em Medicina, o que se chamava “uma prova terapêutica” em situações peculiares que, no contexto das doenças do aparelho respiratório, poderia dar-se como exemplo a terapêutica tuberculostática em determinadas circunstâncias clínicas (a imagiologia e outos elementos de diagnóstico mais precisos estavam então muito menos disponíveis). Mal comparado, era uma espécie da popular “prova do algodão”, que também envolvia obviamente riscos, como qualquer outra decisão terapêutica, nessa circunstância agravados pelo grau de incerteza …

Não sei porque me lembrei disso a propósito da discussão em torno do encerramento das escolas como estratégia de acção de controlo da “espiral” pandémica agora verificada, pelo menos aparentemente. Remete-me para a minha participação, durante largos anos, em Comissões Científicas e como perito, no contexto da então Comunidade Económica Europeia, no âmbito da fixação de concentrações máximas admissíveis de substâncias químicas nos locais de trabalho e a constatação do insuficiente conhecimento, na maioria dos casos, para tais decisões com base, apenas, no conhecimento científico disponível.

Serão os escassos estudos disponíveis a esse respeito, quer em quantidade quer em qualidade, suficientes para suportar, por si só, uma qualquer decisão?

Se existia conhecimento suficiente e robusto sobre essa matéria porque foram tão diversas, por vários países, as políticas adoptadas a tal respeito?

Será pela constatação de pronunciados escotomas de conhecimento a esse respeito?

Será pela circunstância da aparente inconsistência de diferentes opiniões a esse respeito?  

Será pela diversidade de leituras por diferentes peritos (e pseudo-peritos) a tal respeito?

Poder-se-á falar de Saúde Pública baseada na Evidência como se fala de Medicina baseada na Evidência (entendendo-se esta como sinónimo de prova)? Terá sido a criação da quarentena, há muitos séculos, suportada por estudos científicos? Recordo algum ar jocoso de (também alguns) alunos de pós-graduação em Saúde quando em muito recentes aulas de Saúde Pública baseada na Evidência usava este “velhinho” conceito da quarentena … Recordo-me que cheguei a interpretar ser entendido por alguns como um professor igualmente vetusto que evocava tal obsoleta estratégia de acção …

Uma coisa é certa, com ou sem nexo de causalidade, a movimentação de mais de um terço da população (convém ter presente que não são apenas alunos, mas também educadores, pais e encarregados de educação e tudo o que se liga a essa movimentação …) parece não deixar dúvidas em relação à aparente eficácia obtida, como muitos defenderam com veemência. E, baseado ou não em conhecimento científico, a repercussão nos Centros de Saúde e nos Hospitais já se sente e em semana(s) sentir-se-á, seguramente, muito mais.

Acresce a circunstância que na primeira vaga, com valores de incidência dez vezes inferiores, com ainda menos conhecimentos científicos e contra um parecer de um órgão nomeado pelo Governo para esses efeitos, a decisão foi diferente e poderá ter sido uma das razões do, erradamente, denominado “milagre português”. Julgo que nunca se conhecerá, com total nitidez, essas inter-relações e interdependências!

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