Covid-19: Pessoas infetadas têm maior risco de morrer depois de sofrer uma paragem cardíaca

10 de Fevereiro 2021

Os pacientes com Covid-19 que sofrem uma paragem cardíaca dentro ou fora do hospital têm muito mais probabilidade de morrer do que os pacientes que não estão infetados. Em particular, as mulheres correm um risco nove vezes superior, segundo uma investigação publicada no “European Heart Journal”.

O estudo, realizado na Suécia, incluiu 1.946 pessoas que sofreram uma paragem cardíaca fora do hospital e 1.080 dentro do hospital, entre 1 de janeiro e 20 de julho de 2020. Durante a fase pandémica do estudo, a Covid-19 esteve envolvida em pelo menos 10% de todas as paragens cardíacas fora de hospitais e 16% das paragens cardíacas em hospitais.

Os pacientes com coronavírus que tiveram uma paragem cardíaca fora do hospital tinham um risco 3,4 vezes maior de morrer nos 30 dias seguintes, enquanto que os pacientes com uma paragem cardíaca no hospital tinham um risco 2,3 vezes maior. Nenhum destes pacientes tinha tido alta do hospital quando se realizou o estudo em outubro de 2020. Muitos morreram e os restantes continuavam a ser tratados no hospital.

O primeiro autor do estudo, Pedram Sultanian, estudante no doutoramento da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, destaca que o “estudo mostra claramente que a paragem cardíaca e a Covid-19 são uma combinação muito letal. Os pacientes com coronavírus devem ser intensivamente monitorizados e devem ser tomadas as medidas necessárias para prevenir uma paragem cardíaca como, por exemplo, o uso de monitores cardíacos contínuos para doentes de alto risco.

Este é o primeiro relatório detalhado das características e resultados dos pacientes com Covid-19 que sofreram de uma paragem cardíaca. Os investigadores analisaram os dados do Registo Sueco de Reanimação Cardiopulmonar (SRCR), um registo nacional que começou a recolher dados sobre a Covid-19 a partir de 1 de abril de 2020.

Os investigadores incluíram todas as paragens cardíacas registadas no SRCR de 1 de janeiro a 20 de julho de 2020 e dividiram-nas num grupo pré-pandémico (antes de 16 de março) e num grupo pandémico (de 16 de março a 20 de julho).

Através da análise dos dados, descobriram que 7,6% dos pacientes pré-pandémicos continuavam com vida 30 dias depois de sofrer uma paragem cardíaca fora do hospital. Depois de começar a pandemia, 9,8% dos pacientes sem Covid-19 e 4,7% dos que tinham Covid-19 sobreviveram durante 30 dias mas 83,4% dos pacientes com Covid-19 morreram em 24h.

No que diz respeito aos eventos ocorridos dentro do hospital, na fase pré-pandémica, 36,4% dos pacientes sobreviviam durante 30 dias. Mas assim que começou a pandemia,  39,5% dos pacientes sem Covid-19 e 23,1% dos pacientes com Covid-19 sobreviveram durante 30 dias; 60,5% dos pacientes com Covid-19 morreram no período de 24h.

Quando compararam os casos pré-pandémicos com os casos de Covid-19, os investigadores perceberam que o risco geral de morrer depois de uma paragem cardíaca fora do hospital quase triplicou: aumentou 4,5 vezes para os homens e um terço para as mulheres. O risco geral de morrer depois de uma paragem cardíaca num hospital aumentou quase mais que o dobro, aumentando em 50% nos homens e mais de nove vezes nas mulheres.

Os investigadores também identificaram um aumento de 2,7 vezes na taxa de paragem cardíaca fora do hospital causada por problemas respiratórios e um aumento de 8,6% na reanimação cardiopulmonar (RCP) apenas por compressão durante a pandemia.

A percentagem de pessoas que foram tratadas tanto com compressão torácica como reanimação boca a boca passou de 33% antes da pandemia para 23% durante a pandemia. Em março, o Conselho Europeu de Reanimação e o Conselho Sueco de Reanimação emitiram diretrizes recomendando que as testemunhas que presenciam uma paragem cardíaca devem evitar a reanimação boca a boca e concentrar-se nas compressões torácicas em caso de suspeita de infeção por Covid-19.

Um dos autores do estudo, Araz Rawshani, médico e investigador da Universidade de Gotemburgo, refere que “ainda que estudos anteriores tenham indicado que a reanimação cardiopulmonar feita apenas por testemunhas possa ser tão eficaz como as compressões e a ventilação juntas, isto pode não aplicar-se a casos de Covid-19, já que sofrem principalmente de insuficiência respiratória”.

“Acreditamos que se trata de uma descoberta importante que poderia ajudar as autoridades a lidar com a pandemia”, destaca.  “Dado que a Covid-19 se transmite através de gotículas, os transeuntes deveriam evitar a reanimação boca a boca, de acordo com as recomendações atuais. Não há uma resposta unânime sobre como deve adaptar-se a sociedade e os profissionais de saúde a este problema”.

O investigador refere, por outro lado, que “o estudo também mostra que menos pacientes hospitalizados com Covid-19 foram monitorizados com eletrocardiogramas [ECG], que potencialmente salva vidas. já que permite detetar uma paragem cardíaca de imediato. Acreditamos que os pacientes com Covid-19 devem ser controlados com ECG e monitorização da saturação de oxigénio, já que isto permitiria um reconhecimento rápido de batimentos cardíacos irregulares e a diminuição da saturação de oxigénio”.

Informacão bibliográfica completa:

“Cardiac arrest in COVID-19: characteristics and outcomes of in- and out-of-hospital cardiac arrest. A report from the Swedish Registry for Cardiopulmonary Resuscitation”, by Pedram Sultanian et al.

European Heart Journal. doi:10.1093/eurheartj/ehaa1067

NR/AG/HN/Adelaide Oliveira

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