Médicos de Saúde Pública consideram que reforço do rastreio deveria ter acontecido antes

10 de Fevereiro 2021

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública afirmou esta quarta-feira que o reforço da capacidade de rastreio da Covid-19 deveria “ter acontecido antes” do aumento de casos, considerando que se foi “atrás do prejuízo”.

“Este reforço tinha de ter acontecido antes, para [que] quando as necessidades surgem elas possam ser rapidamente supridas e não permitir-nos esse acumular de inquéritos pendentes que, obviamente, prejudica aquilo que é o controlo da pandemia, porque não nos permite interromper as cadeias de transmissão”, disse à agência Lusa Ricardo Mexia.

A ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou hoje, numa audição na Comissão de Saúde, na Assembleia da República, em Lisboa, que a capacidade de rastreio dos casos de Covid-19 quase triplicou entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021.

“[Quero] referir também o reforço da capacidade de rastreio das autoridades de saúde pública, quer através da mobilização de funcionários da administração central e local, estudantes e de elementos das forças de segurança e armadas. Em 13 de dezembro, o número de profissionais, equivalentes a tempo integral, a realizar inquéritos epidemiológicos era de 427 e em 04 de fevereiro ultrapassavam os 1.100”, disse Marta Temido.

Em 27 de janeiro, a Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública alertou para a necessidade de um “reforço importante” do número de rastreadores, para seguimento de contactos de risco de Covid-19, salientando que havia cerca de 40 mil inquéritos epidemiológicos em atraso.

“O que aconteceu foi que nós fomos atrás do prejuízo, mais uma vez”, declarou hoje Ricardo Mexia, lembrando os sucessivos avisos da associação de que “era necessário reforçar estes meios”, para que, quando fossem necessários, “estivessem disponíveis e tivessem capacidade de resposta”, e não ocorrer “o prejuízo de não conseguir responder em tempo útil às solicitações”.

Para o presidente da associação, quando houve “dezenas de milhar de inquéritos epidemiológicos pendentes tem a ver com esta dissociação entre aquilo que são as necessidades e aquilo que eram os recursos”.

Sem dúvidas de que os recursos foram reforçados, “numa fase inicial, de forma muito incipiente, entretanto, talvez de forma mais robusta”, mas sem conseguir “fazer face àquilo que são as necessidades”, o médico defendeu, no entanto, ser fundamental que se perceba de que forma “as intervenções reduziram, efetivamente, aquilo que era a incidência”.

“Porque podemos reduzir o número de inquéritos pendentes de forma quase artificial, mas isso depois não se repercute naquilo que nos interessa, que é interromper as cadeias de transmissão e, naturalmente, proteger a saúde dos portugueses”, observou.

Ricardo Mexia adiantou que “o mês de janeiro demonstra bem o facto” de em vez de as autoridades terem sido reativas e não proativas.

“O tempo que demorámos a implementar as soluções, o tempo que demorámos a reforçar os meios, tudo isso, naturalmente, compromete aquilo que é a nossa capacidade de enfrentar um problema que tem uma magnitude extraordinária”, declarou.

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública insistiu na necessidade da proatividade.

“Sermos proativos, identificarmos as necessidades antes de elas surgirem permite-nos recrutar os meios, reforçar a capacidade, por forma a que quando ela é necessária esteja disponível e não tenhamos depois de a reforçar à posteriori”, acrescentou.

Lusa/HN

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