Catarina Soares Enfermeira mestre e especialista em Enfermagem de Reabilitação

Retenção urinária – a algaliação intermitente como estratégia adaptativa

02/24/2021

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Retenção urinária – a algaliação intermitente como estratégia adaptativa

24/02/2021 | Consultório

A retenção urinária (RU) define-se pela incapacidade da pessoa urinar ou esvaziar completamente a bexiga. Pode manifestar-se por sensação de pressão, micções frequentes e curtas, jato urinário fraco e/ou dificuldade em iniciar a micção. Pode ter como causa uma obstrução no trato urinário ou danos neurológicos, e tem como consequências comuns a incontinência, a distensão da bexiga, infeções urinárias e lesões renais crónicas. A algaliação intermitente (AI) é considerada mundialmente como a prática de excelência na adaptação a este problema, pois permite o enchimento e simula o esvaziamento fisiológico da bexiga1.

 A AI é um procedimento que pode ser realizado pela pessoa com RU ou cuidador, com técnica limpa e utilizando cateteres que sejam manuseados sem necessidade de contacto direto com os mesmos. O procedimento deve refletir um equilíbrio entre as capacidades sensoriomotoras e cognitivas da pessoa, as suas preferências relativas ao material e a sua motivação para realizar esta técnica várias vezes por dia. De forma a facilitar este processo, os cateteres devem seguir determinadas características, tais como2:

  • Fácil abertura, inserção e remoção
  • Requerer contacto mínimo
  • Pré-lubrificação
  • Não aderência e fricção na uretra
  • Não necessitar de lubrificação adicional
  • Fácil manuseamento
  • Ser rígido o suficiente para inserir mas maleável à anatomia do trato urinário

 No ensino da AI à pessoa com RU, o enfermeiro avalia os seus conhecimentos e capacidades, antecipa as possíveis dificuldades e previne complicações associadas à AI3. Neste sentido, um dos aspetos mais importantes é a adequação dos primeiros cateteres apresentados à pessoa, que devem ser de lubrificação hidrofílica e bacteriostática, pois diminuem o risco de infeções urinárias, de trauma uretral e são mais fáceis de manusear em qualquer ambiente1.

Da nossa experiência como enfermeiros a trabalhar em reabilitação, os cateteres pré-lubrificados reúnem características facilitadoras no ensino e adesão à realização de AI. Alguns aspetos a salientar:

  • São pré-lubrificados com solução hidrofílica e bacteriostática em quantidade adequada, o que diminui o risco de trauma uretral, com consequente hematúria1, e o desconforto na algaliação.
  • Existem em comprimentos e diâmetros diferentes que se adequam a pessoas com diferentes necessidades.
  • O seu sistema de manuseio diminui consideravelmente o contacto necessário à realização da AI, nomeadamente o revestimento maleável, com recortes em áreas específicas. Estes facilitam a abertura do cateter, a sua progressão na uretra e o suporte e esvaziamento do saco. A salientar que o invólucro que reveste o set é perfeitamente dispensável e, em caso de pessoas com alteração da destreza manual, pode traduzir-se num obstáculo.
  • O recorte para esvaziar o saco coletor é de fácil manuseio, o que simplifica a colheita de urina e/ou o esvaziamento seguro, evitando o contacto com urina.
  • A válvula anti refluxo facilita a progressão da urina quando a AI é realizada no leito (em que a ação da gravidade é baixa), na fase final da AI, para assegurar que terminou a drenagem de urina, e quando o equipamento é descartado.
  • Os sacos coletores apresentam uma graduação de leitura fácil e fidedigna, com capacidade de 1L, que é bastante adequado para o propósito.
  • A possibilidade de utilizar cateteres com saco coletor acoplado ou não, consoante o contexto e as características da pessoa, facilitam a realização de AI sentado em cadeira de rodas, na sanita e no leito. Tal promove uma maior liberdade na socialização, integração, participação e, consequentemente, no bem-estar e qualidade de vida da pessoa.

Da experiência com pessoas com RU com diferentes características, acreditamos que os cateteres pré-lubrificados dão resposta às necessidades específicas de cada um, e são um recurso valioso para os profissionais que neles confiam todos os dias.

 Referências Bibliográficas

1- Campeau, L., Shamout, S., Baverstock, R.J., Carlson, K.V., Elterman, D.S., Hickling, D.R., Steele, S.S. & Welk, B. (2020). Canadian Urological Association Best Prectice Report: Catheter use. Canadian Urological Association Journal, 14 (7), 281-289. DOI: 10.5489/cuaj.6697.

2- Murphy, C. (2019). Innovating urinary cateter design: An introduction to the engineering challenge. Journal of Engineering in Medicine, 233 (1), 48-57. DOI: 10.1177/0954411918774348.

3- Shamout, S., Biardeau, X., Corcos, J. & Campeau, L. (2017). Outcome comparison of diferente approaches to self-intermittent catheterization in neurogenic patients: a systematic review. International Spinal Cord Sociaty, 55, 629-643. DOI: 10.1038/sc.2016.192.

Catarina Soares, enfermeira mestre e especialista em Enfermagem de Reabilitação
Teresa Lopes, enfermeira
João Lopes, enfermeiro especialista em Enfermagem de Reabilitação

1 Comment

  1. Ana sousa

    Bom dia eu faco esvaziamento vesical de 3 em 3h ao meu filho desde os 3 anos tem agora 8 anos ao prencipio foi um pouco complicado mas agora com o decorrer do tempo esta melhor ate ele ja se abituou a situacao devido a ter uma bexiga neuroplastica e fazer refluxo urinario e infeccoes urinarias frequentes ele foi diagnosticado com o sindrome xfragil obg

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