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O relato que aqui deixamos, não sendo exaustivo, permite um olhar diferente sobre o modo e as causas da evolução da pandemia em Portugal desde que foram registados os dois primeiros casos, um médico de 60 anos que esteve de férias no norte de Itália e um homem de 33 anos que esteve em Espanha em trabalho. Foi a 4 de fevereiro de 2020. Alguns dias mais tarde, a 14, Portugal reportou mais um caso suspeito. Tratava-se de uma criança de idade não confirmada que havia regressado da China. O propósito desta análise é o de tentar identificar as causas que levaram a que num dado momento Portugal fosse o país com maior taxa de infeção por milhão de habitantes em todo o mundo ultrapassando mesmo os EUA e o Brasil, apontados desde o início como maus exemplos. Recorde-se que a 23 de janeiro último, Portugal tornou-se o pior país do mundo em mortes por milhão de habitantes. O que aconteceu para que atingíssemos um tão infame lugar no pódio? Foi, como muitos apontam, as extravagâncias do Natal e fim-de-ano?

Vejamos:
A 3 de março de 2020 o Primeiro-Ministro António Costa visitou os doentes em quarentena no Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto). Nesse mesmo dia foi dado início a um inquérito no seguimento do furto de máscaras de proteção do Hospital de Santa Luzia, em Elvas. A procura por máscaras e desinfetantes aumentou, em fevereiro 353,4% e 136,9%, respetivamente. Comparativamente com igual período de 2019, as máscaras registaram “um aumento exponencial” de 1.829%.
A 8 de Março dá-se o primeiro confinamento setorial: O ministério da Justiça decidiu suspender as visitas aos estabelecimentos prisionais de todo o país aos fins-de-semana. Com o intuito de impedir a propagação da COVID-19, os reclusos poderiam apenas receber duas visitas por dia e apenas durante dias úteis.
Também a Escola E.B 2,3 de Idães, em Felgueiras, o ICBAS, a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, e o edifício do curso de História da Universidade do Minho foram encerrados devido ao surto de COVID-19. O Presidente da República iniciou uma quinzena em isolamento profilático, tendo suspendido toda a agenda oficial que estava programada depois de estar em contacto com uma turma da escola de Idães.
Dias mais tarde, a 12 de março, o primeiro-ministro António Costa decretou o fecho de todos os estabelecimentos de ensino públicos e privados a partir de 16 de março até 9 de abril, pelo menos. Nesse dia o total de infetados atingia os 78, não havendo nenhum óbito a registar.
No mesmo dia, a Primeira e Segunda Ligas de futebol decidiram pela suspensão total dos jogos por tempo indeterminado.
No dia seguinte é declarado o Estado de Alerta em todo o País.
O Governo da Região Autónoma da Madeira, em face da evolução da pandemia no país, decretou a quarentena obrigatória a partir da meia-noite do dia 14 de março, para todos os passageiros que chegarem ao Aeroporto Cristiano Ronaldo, que serve aquela Região Autónoma, sem aguardar pela concordância do governo central.
A 14 de março de 2020 havia 169 casos confirmados e 1704 suspeitos de infeção. Ainda nenhum óbito. No dia seguinte eram 245 os casos confirmados. Neste dia, todos os museus, monumentos e palácios nacionais, sob a tutela da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) são encerrados e o primeiro-ministro, anuncia limites à circulação da fronteira com Espanha, limitando-a à circulação de trabalhadores transfronteiriços e mercadorias.
A 16 de março Portugal regista o primeiro óbito. Há 331 casos confirmados de infeção por coronavírus. O total de casos suspeitos sobe para 2908.
No dia seguinte é anunciado o primeiro óbito.
No dia seguinte, a 18 de março, é declarado o estado de emergência em todo o país.
Os dias que se seguem são de aumento exponencial do caso de infeções. O número de novos casos aumenta dramaticamente na região de saúde L.V.T. atingindo um valor recorde de 203. O número de mortes ascendia a 30.
A 22 de Março, com o evoluir da situação é decretado pelo Governo, após declaração do Estado de Emergência pelo Presidente da República, o primeiro confinamento. A liberdade de circulação é limitada ao essencial. É ainda decidido o encerramento dos estabelecimentos como os que se destinem a atividades recreativas, culturais, desportivas, e de restauração, entre outros, bem como a suspensão das atividades de comércio a retalho, com exceção daquelas que disponibilizem bens de primeira necessidade ou outros bens considerados essenciais.
Proíbem-se celebrações religiosas e determina-se que que os serviços públicos são prestados essencialmente através dos meios digitais, mantendo-se o atendimento presencial apenas por marcação para os serviços considerados essenciais.
A 2 de maio foi feita a transição do estado de emergência, que vigorava no país desde o dia 18 de Março, para o estado de calamidade. Nesta altura, o país contava com 25.190 casos totais confirmados e 1.023 mortes, com uma taxa percentual de aumento de casos de 0,8% comparado com o dia anterior.
Hoje, quase um ano depois e 12 estados de emergência, 806626 casos confirmados, 16430 óbitos e mais de dois mil internados em enfermaria e em unidades de cuidados intensivos, (já foram mais do dobro) importa perguntar. O que aconteceu?
Uma leitura da curva da mortalidade não deixa espaços para dúvidas: não foram os excessos do Natal e do Ano Novo que estragaram o quadro.
De facto, a curva do número de óbitos começou a aumentar, de forma sustentável e contínua em a 17 de Setembro último, depois do Governo ter decidido a reabertura dos estabelecimentos de ensino. Foi esta reabertura, classificada como inócua pelo Governo, que conduziu ao desastre que se veio a verificar. E foi também depois do reencerramento delas, anunciado por António Costa a 21 de janeiro, que a curva começou a baixar significativamente.
Ouvem-se agora multidões de “expertos” a gritar pela reabertura. Que as crianças não aguentam mais ficar em casa. A pergunta que me surge fazer-lhes é se essa vontade assenta em qualquer evidência científica ou trata-se apenas de um consenso, muito utilizado em Portugal e que mais não configura do que um conjunto mais ou menos alargado de “achas” nesse sentido. O fulano “A” acha, os “B”, “C” e D” também e temos consenso. Isto não é evidência, como é óbvio.
E ninguém entenderá nova razia, como a que tivemos em janeiro.
MMM



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