Sílvia Correia Pneumologista, especialista em Medicina do sono, Coordenadora do Laboratório de sono do Hospital Pedro Hispano

Os efeitos da COVID-19 no nosso sono

03/19/2021

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Os efeitos da COVID-19 no nosso sono

19/03/2021 | Opinião

A pandemia por COVID-19 veio causar graves problemas de saúde, mesmo nos que não contraem a doença, como é o caso das perturbações do sono. A COVID-19 tem gerado a uma escala global ansiedade, medo da infeção, isolamento social, desemprego, problemas financeiros e até conflitos familiares. Assim, não é difícil entender que o número de pessoas com problemas em adormecer ou em manter o sono tem vindo a aumentar. Também a ausência de horários regulares, associados ao confinamento, veio causar perturbações do nosso ritmo de sono (chamado ritmo circadiano).

O efeito da pandemia no sono tem sido estudado nos últimos meses. Um estudo publicado recentemente sobre a prevalência de distúrbios do sono em pandemia por COVID-19 demonstrou que actualmente 20% da população sofre de insónia (dificuldade em dormir), 18.5% de ansiedade e 24.5% de depressão. De facto, a pandemia aumentou em quase 40% o número de pessoas com insónia. Estes números são preocupantes. Nos profissionais de saúde, estes números ainda são mais acentuados, com 36% referindo dificuldade em dormir, 45% ansiedade e 50% sintomas de depressão, sobretudo naqueles com contacto direto com doentes com suspeita ou diagnóstico de COVID-19.

O confinamento imposto pela pandemia por COVID-19 tem alterado as nossas rotinas diárias e os nossos ritmos de sono vigília. O teletrabalho leva a que não haja horários para acordar, sair de casa, nem para as refeições. A ausência de exposição solar ou luz artificial de manhã leva ao aparecimento de distúrbios do ritmo circadiano. Assim, surge um ciclo de sono e acordar desregulado, com um atraso na libertação da hormona que nos faz sentir sono, a melatonina, no fim do dia, levando à dificuldade em adormecer. Este distúrbio chama-se Atraso de fase e trata-se habitualmente com horas definidas para a exposição solar e com a toma de melatonina.

A dificuldade em adormecer e os acordares durante a noite têm sido associados às preocupações inerentes à pandemia nomeadamente a ansiedade, medo da infeção e do futuro, desemprego, problemas financeiros e até conflitos conjugais. Já o acordar mais cedo com dificuldade em readormecer pode estar associado à presença de depressão, que sabemos ter vindo a aumentar de forma significativa em todo o mundo. A insónia é aguda quando existe há menos de 3 meses e crónica, quando perdura para além dos 3 meses.

Quando a insónia é aguda, se adotarmos atitudes que favoreçam o sono, esta pode ser revertida. Apesar de estarmos em confinamento, tente deitar-se entre as 22h e 24h, evitando variações na hora de dormir e acordar. Exponha-se à luz solar de manhã, mas evite a exposição à luz intensa à noite. Tenha refeições nos horários habituais e pratique exercício físico diariamente, evitando as 3h antes de dormir para a prática de exercício. Use o quarto apenas para dormir e para a atividade sexual: retire os equipamentos eletrónicos do quarto, incluindo televisão e telemóvel. Evite a cafeina, álcool e nicotina 4 a 6h antes de dormir. Desligue os dispositivos eletrónicos pelo menos 30 minutos antes de dormir (TV, Tablet, telemóvel).

Para além de medidas de higiene do sono, a suplementação com magnésio (em comprimidos ou ampolas) pode ajudar. Verifique os seus níveis de vitamina D e faça reposição se houver carência, sempre sob orientação médica. Se estes métodos não funcionarem, recorra a um especialista em medicina do sono para excluir alguma patologia que possa estar a causar e perpetuar a insónia. Um exemplo é a presença de apneia do sono em que a pessoa ressona e tem paragens na respiração durante o sono. Estas paragens na respiração podem passar despercebidas e podem causar insónia e depressão. Na insónia crónica, a terapia cognitivo-comportamental do sono é essencial.

 

 

 

Bibliografia

Lin L, Wang J, Ouyang X, et al. The immediate impact of the 2019 novel coronavirus (COVID-19) outbreak on subjective sleep status. Sleep Med 2020;77:348e54.

 

Lai J, Simeng M, Wang Y, et al. Factors associated with mental health outcomes among health care workers exposed to Coronavirus disease 2019. JAMA Network Open 2020;3(3).

 

Zhang C, Yang L, Liu S, et al. Survey of insomnia and related social psychological factors among medical staffs involved with the 2019 novel Coronavirus disease outbreak. Front Psychiatry 2020 Apr 14;11:306.

 

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