Idosos do interior dispostos a lutar contra a doença

27 de Março 2021

Idosos residentes em Penalva do Castelo, no distrito de Viseu, e em Fornos de Algodres, no distrito da Guarda, encaram a vacinação como forma de combater a “guerra” que o mundo trava contra a Covid-19.

Em dois centros de saúde do interior do país encontram-se disponíveis dois postos de vacinação, em funcionamento dependendo do número de vacinas de cada dia e em zonas isoladas dos espaços dedicados às restantes consultas.

Aos 88 anos, João Antunes, residente em Penalva do Castelo, olha para a pandemia como uma “guerra” que se tem de combater.

“Todos somos soldados que, com a nossa pequena arma, temos de o combater [o vírus], para o destruirmos. A guerra nunca durou uma vida inteira, dura muitos anos, mas há um dia que morre. A guerra termina”, afirma.

Esta forma de olhar para o processo de vacinação revelou-se a regra entre os idosos de ambas as vilas, que se mostram até surpreendidos quando ouvem falar de medo.

Lionel e Briolanja Abrantes vivem na freguesia da Matela, Penalva do Castelo, distrito de Viseu, onde “só houve uma pessoa” infetada com covid-19. Do conjunto de idosos com 80 anos, “só há três pessoas que não foram vacinadas”.

“Medo? Não, nada”, disse Lionel Abrantes. E a mulher, Briolanja, concluiu: “Faz de conta que foi como eu agora estou aqui, não senti nada, nada”.

Como para toda a regra há uma exceção, em Sezures, no mesmo distrito, Manuel de Campos confessa que a mulher, Inez Rodrigues, não pretende ser vacinada. “A minha mulher diz que não a quer [a vacina], mas eu quero-a. Já lhe disse que se ela não quer, que me dê as duas a mim”, brinca.

Inez Rodrigues, de 68 anos, mostra-se mais cética ao comparar a atual pandemia a uma gripe, para a qual nunca foi vacinada, ainda que com noção de que “a gripe controla-se e isto não se controla”.

Nesta freguesia, “houve um [caso positivo] e não foi grave, a senhora nem teve sintomas”.

“Trabalha num lar e, como foram testadas, deu positivo”, relata a mulher.

No Centro de Saúde de Fornos de Algodres, na Guarda, estavam, no dia 12, ainda por vacinar, 222 pessoas com mais de 80 anos, mas Luísa Amaral, médica e coordenadora, não consegue evitar as incertezas associadas à Covid-19.

“Fiz as duas doses, fiquei com 30 mil de anticorpos, mas durante quanto tempo?”, questiona-se.

O ponto positivo está diretamente relacionado com os idosos, o grupo que “tem menos efeitos secundários”, quando comparados, por exemplo, com jovens enfermeiros.

No mesmo dia, as pessoas com idade compreendida entre os 50 e os 79 anos, com patologias, continuavam a ser vacinadas com a vacina AstraZeneca, mas, devido ao ambiente de desconfiança que atingia um pouco toda a Europa e que então se sentia com maior intensidade, havia já o caso de uma pessoa que se recusou a levar a vacina.

Com a pandemia provocada pela covid-19, as rotinas da população mais idosa do interior foram alteradas.

“Uma pessoa não pode estar ao pé de ninguém, nem da família. Eu e uma irmã andávamos sempre juntas e agora não. Temos medo, porque ela vai para um lado e eu vou para outro e não sabemos o que apanhamos”, conta Maria da Conceição Jacinto, que, aos 78 anos, já foi vacinada no Centro de Saúde de Fornos de Algodres.

Na aldeia de Algodres, Maria e João Rebelo, respeitam “muito [as medidas de segurança], mas no terreno anda-se sem máscara”, o local onde se refugiam desde o início do período de confinamento.

“Eu sou aquela pessoa que não pode estar em casa, tenho de estar na terra”, refere Maria Rebelo, que não se deixa vencer pelo medo que sente do coronavírus.

LUSA/HN

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