Menor mobilidade de doente de Parkinson faz aumentar quedas e internamentos

9 de Abril 2021

Associação de doentes e médicos alertaram esta sexta-feira para o aumento de quedas de doentes de Parkinson durante o confinamento devido à menor atividade física, constituindo a principal razão que os leva a dar entrada nos hospitais.

Nas vésperas de se assinalar o Dia Mundial da Doença de Parkinson, no dia 11 de abril, os presidentes da Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson (APDPk) e a Sociedade Portuguesa das Doenças do Movimento (SPDMov) falaram à agência Lusa sobre o impacto da pandemia no dia-a-dia destes doentes.

“Com o confinamento, o acesso à rua está mais limitado e há um agravamento das quedas porque os doentes não conseguem fazer tanto exercício físico e também está um bocadinho limitado o acesso às terapias de reabilitação, o que aumenta a ansiedade e agrava a qualidade de vida dos doentes de Parkinson”, disse a presidente da APDPk, Ana Botas.

Ana Botas explicou que a falta de atividade física acaba por provocar uma maior atrofia muscular e, consequentemente, uma maior probabilidade de queda, sendo esta a principal razão pela qual as pessoas dão entrada no hospital e uma das principais causas de morte nestes doentes.

As quedas têm sido “uma das grandes queixas” dos doentes de Parkinson nas consultas, contou à Lusa o presidente da SPDMov, Miguel Coelho, advertindo que é uma situação que “pode ter complicações muito dramáticas como fraturas do colo do fémur ou hematomas cerebrais”.

Mas, segundo o neurologista no Hospital Santa Maria, em Lisboa, a pandemia afetou os doentes de Parkinson de “diversas maneiras”.

No primeiro confinamento, em que houve interrupção dos tratamentos de fisioterapia, os doentes “perderam muita mobilidade e isso notou-se muito” quando ocorreu o desconfinamento e regressaram às consultas.

Para o especialista, “um grande ensinamento para este segundo confinamento foi não terem encerrado as clínicas de fisioterapia”.

Por outro lado, o tratamento desta doença necessita de “ajustes terapêuticos” com frequência e o facto de as consultas terem sido interrompidas em muitos hospitais, embora se tenha feito “um grande esforço” para as manter por telefone, fez com “que muitas vezes a medicação pudesse não estar idealmente ajustada à condição do doente”.

O isolamento social foi outro fator que “influenciou muito” a vida dos doentes que se sentiram “muito sozinhos”.

“Os que estavam mais independentes, muitos ficaram em casa sozinhos, longe da família, e isso fez com que a interação com o meio exterior fosse menor”, o que teve “alguma repercussão também em termos cognitivos”.

Nas consultas, os doentes queixavam-se que “a memória tinha ficado bastante pior durante o período em que estiveram em isolamento, mas sobretudo ficaram muito mais tristes”, disse Miguel Coelho.

Houve muitos que disseram que o sentiram mais foi “a saudade dos netos” e isso teve “um grande impacto” no seu estado anímico, disse, observando que a depressão é o fator com mais impacto na qualidade de vida dos doentes.

Também o adiamento de algumas terapias mais avançadas usualmente aplicadas nos casos mais graves, nomeadamente a cirurgia de Parkinson e as terapêuticas com dois medicamentos dados sob “a forma de bomba” fez com que “muitos doentes que já estão bastante incapacitados não pudessem usufruir dessas terapias”.

Esta situação teve “uma consequência secundária” que será sentida durante bastante tempo: o aumento da lista de espera para esses tratamentos.

Alguns doentes também recusaram ir à consulta com medo de contrair a Covid-19, uma situação que levou Miguel Coelho a apelar aos doentes para irem às consultas porque os hospitais “têm todas os circuitos preparados e as condições de desinfeção e higienização”.

A doença de Parkinson, que afeta cerca de 18 mil pessoas em Portugal, vai estar em destaque, no fim de semana, no Congresso Anual da SPDMov.

LUSA/HN

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