OMS desaconselha acordos bilaterais para adquirir vacinas porque levam a nacionalismos

9 de Abril 2021

O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde desaconselhou esta sexta-feira a realização de acordos bilaterais para aquisição de vacinas anti-covid-19, considerando que isso leva a desigualdade na distribuição e a um “nacionalismo das vacinas”.

“Os acordos bilaterais podem levar a uma maior iniquidade” da distribuição e a escassez de doses “aumenta o nacionalismo e o uso de vacinas para fins políticos”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus numa conferência de imprensa ‘online’ da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizada em Genebra.

A crítica foi secundada pelo presidente executivo da Aliança das Vacinas (Gavi), o epidemiologista Seth Berkley, também presente na conferência.

“Sempre que é feito um acordo bilateral [para compra de vacinas] há menos doses distribuídas equitativamente”, disse, sublinhando que “é preciso haver mais solidariedade”.

As negociações bilaterais têm aumentado à medida que quer as os Governos federais, como no caso do Brasil, quer os representantes de blocos de países, como no caso da União Europeia, enfrentam problemas e atrasos nas entregas de remessas de vacinas.

Há já várias semanas que a Hungria, Estado-membro da União Europeia, adquiriu e administrou pelo menos duas vacinas ainda não aprovadas pelo regulador europeu de Saúde, a russa Sputnik V, e a chinesa Sinopharma (que foi aplicada ao próprio primeiro-ministro).

Na quinta-feira, a Alemanha anunciou que vai dar início a discussões com a Rússia para uma possível compra da Sputnik V, caso a vacina anti-covid-19 seja aprovada pelas autoridades europeias.

“Expliquei, em nome da Alemanha, ao Conselho de ministros da Saúde da UE que iríamos discutir bilateralmente com a Rússia para saber, antes de mais nada, quando e que quantidades poderiam ser entregues”, afirmou o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn.

Jens Spahn justificou a sua decisão explicando que a Comissão Europeia tinha anunciado que não negociaria em nome dos 27 a compra do fármaco Sputnik V, ao contrário do que tem feito com outras vacinas contra a Covid-19.

A questão do uso da Sputnik V é polémica na Europa. Recentemente, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês criticou a Rússia por fazer da sua vacina uma ferramenta de “propaganda política” no mundo.

A Baviera, maior Estado federado da Alemanha, anunciou na quarta-feira ter negociado um “contrato preliminar” para receber 2,5 milhões de doses da vacina russa, embora a compra esteja dependente da autorização da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para uso do medicamento.

O regulador europeu não estabeleceu um prazo para a sua decisão sobre a Sputnik V como fez com os outros laboratórios que submeteram as suas vacinas para aprovação, sobre as quais a EMA se pronunciou num período entre dois e quatro meses.

A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.903.907 mortos no mundo, resultantes de mais de 133,9 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

LUSA/HN

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