Estudo concluiu que placas que provocam Alzheimer podem não ter efeito destrutivo

15 de Abril 2021

Algumas placas que se formam no cérebro, causadoras da doença de Alzheimer, podem desempenhar um papel protetor, benéfico, e não destrutivo, como se pensava, segundo um estudo esta quinta-feira divulgado pelo Instituto Salk, nos Estados Unidos.

A investigação, publicada na revista científica Nature Immunology, concluiu que as células imunitárias do cérebro formam algumas placas como defesa na doença de Alzheimer, sugerindo uma nova direção terapêutica, indicando que os tratamentos para destruir as placas do núcleo denso podem fazer mais mal do que bem, por eliminá-las poder causar mais danos.

“Mostramos que as placas de núcleo denso não se formam espontaneamente. Acreditamos que são construídas pela microglia como mecanismo de defesa, pelo que talvez seja preferível serem deixadas em paz”, disse o professor no Laboratório de Neurobiologia Molecular de Salk, Greg Lemke, citado num comunicado divulgado pela instituição.

Greg Lemke recomendou que os cientistas que procuram uma cura para a doença de Alzheimer devem deixar de tentar concentrar-se em destruir as placas de núcleo denso e começarem a procurar tratamentos que privilegiem a redução da produção da proteína beta-amilóide, que se acumula em placas no cérebro dos doentes, ou terapias que facilitem o seu transporte para fora do cérebro.

Na nota divulgada pelo Instituto Salk, é referido que a visão tradicional sustenta que as células imunitárias de limpeza do lixo do cérebro, chamadas microglia, inibem o crescimento das placas, “comendo-as”.

Os cientistas responsáveis pelo estudo sublinharam terem demonstrado que, pelo contrário, as microglia, principais células imunes do sistema nervoso central, que inclui o cérebro, a medula espinal e a retina, promovem a formação de placas de núcleo denso, e que esta ação varre o material de placas finas para longe dos neurónios, onde causa a morte celular.

A instituição californiana dedicada a pesquisas biológicas explicou que a doença parece ser causada por proteínas anormais que se agregam entre as células cerebrais para formar as placas de identificação, que interrompem a atividade que mantém as células vivas, e existem numerosas formas de placas, sendo que as mais prevalentes são caraterizadas “como difusas” e “denso-núcleo”.

“Os cientistas têm acreditado de uma forma geral que ambos os tipos de placas se formam espontaneamente a partir do excesso de produção de uma molécula precursora, chamada proteína precursora amilóide mas, de acordo com o novo estudo, é a microglia que forma placas de núcleo denso de fibrilhas beta-amilóide difusas, como parte da sua limpeza celular”, acentuou o Instituto Salk, no mesmo comunicado.

Segundo o autor principal do artigo científico, Youtong Huang, a investigação a que se dedicou “parece mostrar que quando há menos placas de núcleo denso, parece haver efeitos mais prejudiciais”.

“Com mais placas difusas, há uma abundância de neurites distróficas, um substituto para os danos neuronais. Não creio que haja uma decisão clínica distinta sobre qual a forma de placa mais ou menos prejudicial, mas, através da nossa investigação, parece termos descoberto que as placas de núcleo denso são um pouco mais benignas”, acrescentou Youtong Huang.

A doença de Alzheimer é uma condição neurológica que resulta em perda de memória, incapacidade de pensamento e alterações comportamentais, que se agravam à medida que se envelhece.

LUSA/HN

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