Médicos alertam para aumento de agressividade dos utentes por falta de acesso a consultas

26 de Abril 2021

O Sindicato Independente dos Médicos alertou esta segunda-feira que a retirada de médicos de família das consultas para apoiar as áreas dedicadas à Covid-19 está a causar ansiedade nos utentes e a aumentar a agressividade contra os profissionais de saúde.

Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, afirmou que a deslocação dos médicos para desempenharem funções em Áreas Dedicadas à Covid-19, Centros de Vacinação e vigilância de casos suspeitos ou confirmados por infeção SARS-CoV-2 está a causar “gravíssimos danos” na saúde dos utentes.

“Estando o Ministério da Saúde persistentemente sem querer contratar profissionais de saúde para esse efeito, sem se organizar junto de autarquias, que se disponibilizaram para fazer a contratação de médicos, enfermeiros e funcionários administrativos faz com dezenas de milhares de portugueses tenham os seus diagnósticos e o acompanhamento das doenças crónicas mais tardios”, salientou.

Para o dirigente sindical, trata-se de uma questão de organização: “os médicos não se eximem do seu trabalho extraordinário, nos seus fins de semana de fazer essa vacinação, mas é impossível, é impraticável, que esse tipo de acompanhamento seja feito” aos utentes.

Além dos seus utentes, os médicos estão a ver doentes sem médico atribuído e os doentes com pulseiras verdes e azuis (menos urgentes) que são enviados dos hospitais para os centros de saúde, uma tarefa “totalmente impossível”.

Médico de família, contou que só na última semana iniciou o tratamento a dois doentes hipertensos e a quatro diabéticos e identificou dois cancros do cólon, um cancro dos pulmões e um nódulo suspeito da mama.

“Se estivesse na vacinação naturalmente isso era impossível”, elucidou, pedindo ao Ministério da Saúde que se organize.

“A vacinação é estratégica e é fundamental, mas que se organize de forma a que não prejudiquem ainda mais os já pouco acompanhados utentes do Serviço Nacional de Saúde”, apelou.

Roque da Cunha disse que esta situação está a causar também “a maior das perturbações em termos de ansiedade, de aumento das crises depressivas por dificuldade de acesso às consultas”.

Ao mesmo tempo, têm-se assistido ultimamente a um “aumento da agressividade” dos utentes contra os médicos por não conseguirem ter consulta.

O SIM alertou há uma semana, por carta, a ministra da Saúde para esta situação, e agora foi a vez de alertar todos os diretores executivos dos Agrupamentos de Centros de Saúde, todos os diretores clínicos e todos presidentes das unidades de saúde locais.

“O facto de haver um milhão de portugueses sem médico de família, o facto de se saber que este processo patriótico de vacinação irá decorrer nos próximos 12 a 18 meses, algo a que se irá juntar a necessidade da vacinação da gripe, tem feito com que os diretores-executivos tenham retirado (…) os médicos de família, os enfermeiros, e os administrativos daquilo que é a sua função, o acompanhamento das doenças crónicas”, salientou.

Roque da Cunha assegurou que o SIM irá utilizar “todos os instrumentos legais” para demonstrar, que para além das “responsabilidades morais e éticas” do Ministério da Saúde, “existem responsabilidades civis e de dolo eventual a toda uma população que necessita de ser acompanhada”.

“O Ministério da Saúde por inação está a ser corresponsável pelo aumento da mortalidade e das incapacidades resultantes das doenças por não serem devidamente tratadas e por não haver acessibilidade por parte dos utentes aos seus médicos”, acusou.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Abertas candidaturas para o Prémio Grünenthal Dor 2023

A Fundação Grünenthal premeia anualmente trabalhos de investigação clínica ou básica, a quem atribui um prémio no valor de 7500 euros. O período de apresentação de candidaturas decorrerá até 30 de maio de 2024.

ULSVDL adota solução inovadora para gestão e rastreabilidade do instrumental cirúrgico

No âmbito da candidatura ao Sistema de Apoio à Modernização Administrativa (SAMA) “DIR@2020 – Desmaterializar, Integrar e Robotizar”, a Unidade de Reprocessamento de Dispositivos Médicos (URDM) da Unidade Local de Saúde Viseu Dão Lafões (ULSVDL) deu um passo importante para otimizar os seus processos, ao implementar uma solução de gestão e rastreabilidade do instrumental cirúrgico

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights