Rui Nogueira: “As vacinas que temos disponíveis são muito seguras”

29 de Abril 2021

Rui Nogueira Antigo presidente da APMFG

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Rui Nogueira: “As vacinas que temos disponíveis são muito seguras”

A propósito da Semana Europeia de Vacinação o médico de família, Rui Nogueira, sublinha a importância da vacinação para o aumento da esperança de vida. O antigo presidente da APMFG afirma que a proteção fornecida pelas vacinas permite “resolver doenças muito graves”, recusando, assim, aquilo que chama de “aventura” da imunidade natural conseguida à custa de muitas vidas. “É importante acreditar nos cuidados de saúde e no nosso Plano Nacional de Vacinação”.

HealthNews (HN)- Qual o papel das vacinas para o aumento da esperança de vida a nível mundial?

Sem dúvida que as vacinas são fundamentais. Porquê? Porque nos ajudam a resolver um conjunto de doenças muito graves. Com a vacinação massiva e com o Plano Nacional da Vacinação (PNV) é possível resolver doenças que eram problemas incríveis antes da década de 60 e que têm vindo a ser controladas. 

Rui Nogueira (RN)- As vacinas ajudam a prevenir doenças facilmente evitáveis…

Exatamente, são doenças graves e cuja vacinação em massa, que é uma das características da vacinação, evita que os agentes dessa doenças (sejam vírus ou bactérias) se propagem e causem a doença. Talvez uma das mais emblemáticas seja a poliomielite. 

Mais recentemente, o sarampo é notícia porque há algumas correntes contra vacinas que advogam a necessidade de deixar a imunidade natural acontecer. É uma aventura que não nos devemos meter porque a imunidade conseguida à custa de sacrifício de muitas pessoas não é admissível quando temos soluções melhores. 

HN- A medicina familiar alertou recentemente para a importância de se manter a cobertura vacinal e de tomar as novas vacinas incluídas no PNV. Este alerta resulta da perceção de que durante a pandemia houve um relaxar por parte dos pais e das próprias pessoas para a importância da vacinação?

RN- Não queremos que aconteça ou que tenha acontecido, mas é possível que tenha havido algum afastamento dos pais que, faltando a consultas programadas, provocou uma menor cobertura vacinal. Estamos a falar de comunidades muito específicas que podem ter faltados às vacinas e que, por isso, não tenham cumprido o calendário.  

É importante frisar que durante a pandemia nós não cancelamos as consultas e, portanto, as vacinas até aos dois anos de idade. Mantivemos sempre em segurança estas consultas, mas aconteceram faltas… Atualmente, estamos a ter esse papel de convocar os pais para novo agendamento, de maneira a recuperar algum atraso que tenha havido.  

HN- Da experiência que tem qual foi a área mais afetada?

RN- Eu julgo que terão sido as crianças do segundo ano de vida. O primeiro problema pode ser a vacina do sarampo que, sendo uma vacina combinada, é extremamente importante não falhar. 

Nos primeiros meses de vida julgo que terá havido menos falhas. De qualquer forma, muitos sinceramente nas minhas crianças não vejo grandes faltas, salvo raras exceções. 

HN-Normalmente, associamos as vacinas à infância, mas sabemos que a vacinação é essencial ao longo de toda a vida. Afinal, quais os principais grupos de risco e para que condições?

RN- Temos várias áreas. A população jovem tem risco de transmissão da hepatite b e, portanto, temos que garantir a vacinação. Outro grupo, também de jovens, tem risco de contrair a doença de HPV. Esta vacina passou a ser incluída no PNV para os rapazes e deve ser feita entre os 10 e os 13 anos. É importante que o jovem seja vacinado antes do início da atividade sexual. 

Há ainda outra vacina extremamente importante que não está ainda bem calendarizada e que é indicada para a terceira idade, falo da vacina do pneumococo. Esta vacina não é obrigatória nem é sequer gratuita e que acho que deveria ser para grupos específicos de doentes, nomeadamente doentes idosos. 

HN- Sendo gratuita para as crianças e alguns grupos de adultos algumas vacinas são comparticipadas pelo Estado em apenas 37%. A comparticipação integral não seria uma forma de incentivar a vacinação?

RN- Seria uma forma de incentivar, promover e facilitar. Acho que no caso da vacina contra o pneumococo tinha todo o interesse. Neste contexto em que vivemos, com um vírus com incidência pulmonar, é importante revermos o conceito de vacinação anti-pneumocócica (que previne pneumonias). Esta vacina, apesar de ser comparticipada, não é barata. No caso de um casal só faz sentido se os dois fizerem a vacina. 

HN- Os cuidados de saúde primários assumem um papel de extrema importância para a cobertura vacinal nacional. A pandemia que hoje vivemos veio de algum modo afetar esse papel?

RN- Afetar eu não diria… Acho que veio promover e torná-lo ainda mais evidente. 

HN- Digo isto por causa da retirada de médicos de família das consultas para apoiar as áreas dedicadas à Covid-19…

RN- Isso levanta outra questão que é a necessidade de investimento nos cuidados de saúde primários. 

O nosso serviço nacional de saúde deu muito boa conta de si, deu excelente resposta à pandemia mesmo em condições adversas de grande sobrecarga de trabalho. Claro que para que isto seja possível, ou até para repor alguma da capacidade de resposta, é necessário um investimento inequívoco dos cuidados de saúde primários. Precisamos de uma rede robustecida de centros de saúde, com profissionais motivados, com carreiras profissionais atraentes para que seja possível fazer crescer esta rede de cuidados de proximidade. Há muito a fazer a este nível. Muitas vezes enche mais o olho construir um grande hospital do que construir dez centros de saúde. Os cuidados hospitalares são fundamentais, mas a verdade é que temos de olhar com cuidado para o investimento que é feito nos centros de saúde. Se é verdade que temos de ter hospitais de altíssimo nível, os centros de saúde têm, também, de ser acarinhados para podermos continuar a apostar em cuidados de saúde de qualidade. 

HN- Tendo em conta que se assinala a Semana Europeia da Vacinação que mensagem gostaria de deixar?

RN- É importante acreditar nos cuidados de saúde e no nosso Plano Nacional de Vacinação. As vacinas que temos disponíveis são muito seguras, com um benefício incrivelmente grande que as pessoas devem continuar a valorizar. 

Entrevista de Vaishaly Camões

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