Fabio Rodriguez Region Manager de Portugal e Espanha da OrCam Technologies

Como a tecnologia pode tornar a leitura mais inclusiva

05/05/2021

Desde os primórdios da civilização que os livros são um marco na educação da humanidade: quer se trate de manuais escolares ou de leitura por lazer, é desta forma que o conhecimento é registado e passado entre gerações. A vantagem da leitura é que, atualmente é uma atividade bastante acessível a grande parte da população. Mas existe ainda algum caminho
a percorrer, junto de pessoas com deficiência.

Nos anos 80 e 90, o investimento na educação de crianças com alguma deficiência incidi sobretudo na criação de escolas especiais, que fossem ao encontro das necessidades desses jovens. O racional por detrás desta criação era simples: poder dar o apoio e cuidado extra necessário, sem prejudicar nenhum aluno. No entanto, desde aí que se compreendeu que o
aspeto social da educação é crucial para a aprendizagem, e que os desafios de aprendizagem são mais bem endereçados num ambiente inclusivo, desenhado para as necessidades de todos.

E como é possível assegurar que esse ambiente é criado? Uma das formas de incluir e integrar os alunos no sistema educacional é através da tecnologia. A tecnologia como forma de integração é uma técnica cada vez mais utilizada na educação, em vários países. Em Portugal, existem escolas de referência para estes alunos, em que é feita essa aposta. Aqui, o principal objetivo das tecnologias de assistência passa por oferecer recursos  complementares, para criar independência no percurso escolar. Adicionalmente, estudos comprovam que a utilização destas tecnologias tem impacto na autoestima, otimismo e bem-estar dos jovens.

No contexto escolar e como auxílio à leitura, o tipo de tecnologias mais disponíveis e acessíveis são as tecnologias de assistência para pessoas cegas (sejam leitores de ecrã, lupas ou ecrãs ou máquinas em Braille). Mas apesar de se servirem de ferramentas valiosas, a verdade é que a leitura para alunos e pessoas cegas ainda é limitada.

Uma das limitações neste contexto prende-se com a dificuldade de acesso aos livros. A maioria das pessoas cegas ou com dificuldades de visão utiliza livros em formato Braille, com letras impressas em tamanho maior ou audiobooks. Todos estes formatos têm em comum a escassez de oferta e a demora no tempo de publicação do livro, face à edição base, limitando
estes leitores. Adicionalmente, e segundo a associação Action for Blind People do Reino Unido, existem menos pessoas a aprender Braille todos os anos, ou seja, uma procura mais limitada, o que enviesa também a oferta e publicação de mais títulos neste formato.

Assim, de modo que uma criança cega cultive o gosto pela leitura, sem ser através das opções referenciadas, é necessário servir-se das tecnologias. Felizmente, atualmente, existe um mundo de sistemas de acessibilidade na leitura disponíveis para pessoas cegas e com dificuldades de visão que não existia antes.

Nos smartphones, uma panóplia de aplicações permite a leitura dos textos digitais e impressos em voz alta, enquanto novas tecnologias como a Inteligência Artificial e o Machine Learning trouxeram dispositivos intuitivos para uma variedade de patologias de visão, que trabalham como companheiros de leitura e aprendizagem.

Mas há trabalho a ser feito: por um lado para que os novos sistemas e a tecnologia sejam integrados com os sistemas tradicionais e, por outro, para que as tecnologias de assistência para a leitura estejam disponíveis em todos os contextos da vida dos utilizadores, perfeitamente integrados com a sua vivência.

A leitura abre mundos, dá conhecimento e, como dizia a jornalista Margaret Fuller, cria líderes (“Today a reader, tomorrow a leader”). De modo a assegurar que todos estão incluídos num futuro que se avizinha mais rico e dignificado, é preciso que sejam abertas portas e criadas pontes, para tornar a leitura inclusiva. E a ponte é a tecnologia.

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