É frequente a abordagem dos aspectos da saúde numa perspectiva do ciclo de vida, ainda que sempre com mais enfoque nos extremos desse ciclo e, na actualidade, com mais ênfase nos idosos. Há sempre um “apagão” nos quarenta ou mais anos que se trabalha e a que não se dá suficiente importância e, note-se, que tal corresponderá a cerca de metade desse ciclo.
O empenho nos últimos tempos na Europa (ainda que insuficiente) na literacia em saúde hipovaloriza sistematicamente o contributo da área que denominamos Saúde Ocupacional ou Saúde do Trabalhador (ou, ainda, Medicina do Trabalho se a abordagem se centrar apenas no domínio das Ciências Médicas).
Vem isto a propósito de duas perspectivas totalmente distintas das relações entre o trabalho e a saúde ou a doença (o que em Saúde Ocupacional denominamos os modelos salutogénico e patogénico). Essas perspectivas são tão “desequilibradas” que é raro abordar essas matérias numa perspectiva salutogénica.
Seria interessante reflectir mais sobre aquela realidade já que o trabalho é um denominador comum para, praticamente, a totalidade dos cidadãos em qualquer parte do mundo e, por isso, um determinante de saúde.
Não será o trabalho humano um factor de desenvolvimento das comunidades e uma actividade geradora de riqueza? Porque terá que ser “uma cruz que se transporta” como se fosse uma pena ou de um castigo?
Quais serão as razões, então, para a pouca valorização dos aspectos da saúde associados ao trabalho? Terá a ver com uma cultura dominante de pouca valorização do trabalho, com pouca diferenciação, frequentemente baseado em baixos salários?
Repare-se que a parca abordagem desses aspectos é, quase sempre, centrada nos acidentes de trabalho e, mais raramente, nas doenças profissionais e, quase nunca, nas outras doenças “ligadas” ao trabalho e, menos ainda, na organização do trabalho de que o actual teletrabalho é um bom exemplo. Mas não deveria o trabalho ser, sobretudo, uma fonte de realização pessoal e até de bem-estar e prazer?
Ganhariamos, seguramente, todos como isso.
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