Fernando Pimentel dos Santos: “O FRAX pode e deve ser utilizado”

25 de Maio 2021

Fernando Pimentel dos Santos, Reumatologista no Hospital Lusíadas Lisboa

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Fernando Pimentel dos Santos: “O FRAX pode e deve ser utilizado”

Depois de admitir que a osteoporose é “um problema de saúde pública”, o Reumatologista Fernando Pimentel dos Santos, do Hospital Lusíadas Lisboa, destaca o papel do FRAX® (Fracture Risk Assessment Tool) como importante meio de diagnóstico. O especialista sublinha que esta ferramenta “mais do que a massa óssea, dá-nos o risco de fratura”, uma avaliação que defende deve ser feita “a partir dos 50 anos” nos homens e “após a idade da menopausa”. Em pleno contexto de pandemia alerta para os riscos do confinamento, reforçando a ideia de que “os doentes têm que ser avaliados em qualquer situação”.

HealthNews (HN)- A osteoporose é uma doença silenciosa que cresce a nível mundial, a par do envelhecimento populacional e, do ponto de vista de alguns especialistas, a ritmo preocupante. Existem dados epidemiológicos que nos permitam informar do seu peso em termos de número de doentes? 

Fernando Pimentel dos Santos (FPS)- No estudo epidemiológico EpiReumaPT (2011-2013) foi estimada uma prevalência de 10,2% na população Portuguesa (17% no género feminino e 2,6% no género masculino), ou seja, cerca de 100 mil pessoas (considerando a população de 10 milhões).

HN- Estamos a falar de um problema de saúde pública?

FPS- A osteoporose só por si passa despercebida, ou seja, não dá sintomas. É, porém, uma situação que determina um aumento do risco de fraturas e, assim, elevados níveis de incapacidade para as pessoas afetadas. Trata-se realmente de um problema de saúde pública. No estudo citado foi estimada uma prevalência de fraturas de fragilidade de 20,7% e curiosamente a proporção de pessoas devidamente medicadas é tremendamente baixa.

Estima-se que as fraturas por fragilidade total na União Europeia aumentem de 2,7 milhões em 2017 para 3,3 milhões em 2030, ou seja, um aumento de 23%. Os custos anuais relacionados com as fratura resultantes (€ 37,5 bilhões em 2017) deverão aumentar 27%. Soma-se a perda da qualidade de vida das pessoas afetadas.

HN- A medição da Densidade Mineral Óssea constitui um componente central no diagnóstico. Neste sentido, o FRAX surge como uma ferramenta capaz de calcular o risco absoluto de fraturas osteoporótica a 10 anos. O que destacaria do papel desta nova tecnologia no diagnóstico da osteoporose?

FPS- O importante desta ferramenta é que, mais do que a massa óssea, dá-nos, de facto, o risco de fratura. O FRAX é um algoritmo em que são avaliados os fatores de risco gerais, como o género, a idade, a história familiar, entre outros, aos quais se pode ou não adicionar os parâmetros de massa óssea. O resultado obtido é importante para, de uma forma simples, podermos tomar a decisão: “vou ou não tratar este doente?” e “como o vou tratar?”.

Por outro lado, a densitometria é importante, porque é com base nos seus resultados que podemos fazer o diagnóstico da osteoporose. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, um valor de T-scores de ≤-2.5 em qualquer osso indica osteoporose. De forma adicional também é revelante como forma de monitorizar os doentes quando se inicia uma terapêutica farmacológica (permite de forma indireta ver se o tratamento está ou não a ser feito e que impacto na massa óssea está a ter).

HN- A partir de que idade considera que as pessoas deveriam ver avaliado o seu risco de fratura osteoporótica?

FPS- No caso das mulheres sempre após a idade da menopausa. A não ser que haja um risco particular, que tenha sido identificado, não faz sentido fazer a determinação antes.

No caso dos homens considera-se que a partir dos 50 anos pode também ser avaliado o risco de fratura osteoporótica. Antes dessa idade o risco de fratura é baixo em pessoas saudáveis pelo que não se justifica a avaliação densitométrica. O FRAX só está validado para idades superiores a 40 anos.

HN- Consegue identificar outras situações, para além da idade, que justifiquem esta avaliação?

FPS- Depende da história familiar e da história pessoal de cada individuo. Se ao longo da vida a pessoa teve necessidade de fazer terapêuticas com corticóides, se a pessoa teve alguma doença inflamatória, se faz/fez grandes consumos de álcool ou tabaco ou se houve história de fraturas osteoporóticas nos seus ascendentes… Estas são algumas das situações que devem motivar a avaliação da massa óssea em idade mais precoce.

HN- Esta nova solução pode ser utilizada em teleconsulta?

FPS- A utilização do FRAX pode e deve ser utilizada. É um instrumento que está acessível online, na página do FRAX. Podemos usar o algoritmo que foi validado para a população Portuguesa. Para cada variável considerada, só é preciso responder ‘sim’ ou ‘não’. Portanto, esta solução está à distância de um ‘click’. Hoje em dia, nós, médicos, estamos sempre a utilizar o computador e, por isso, podemos sempre recorrer a esta ferramenta. É fácil e é relevante que se faça.

HN- Tendo em conta que é um método feito para uso profissional. Quais os desafios desta ferramenta para uso por parte do doente?

FPS- O doente também pode usar o FRAX se quiser ter uma perceção daquilo que é o seu próprio risco. No entanto, é importante haver alguém, da parte médica, que saiba interpretar exatamente os valores que se obtém e sabê-los enquadrar no contexto clínico do doente. É importante ter o apoio de um profissional de saúde.

Acho que apesar de ser uma ferramenta que o próprio doente também pode usar, a interpretação do mesmo deve ser feita por um médico. O doente pode sempre colocar todas as dúvidas que tenha.

HN- Milhares de portugueses viram-se obrigados confinar por causa da pandemia da Covid-19. O cenário da osteoporose piorou?

FPS- Provavelmente. Para manter uma boa “saúde” óssea é fundamental o movimento e as pessoas mais confinadas tendem a mexer-se menos. Esse é um fator de risco acrescido para a osteoporose, não só para a massa óssea (que pode diminuir), mas também para o músculo (tendência a sofrer atrofia) e para o próprio equilíbrio. A pessoa que se movimenta menos pode ficar com o seu sentido de equilíbrio comprometido e, portanto, estar sujeita a maior número de quedas.

Para além disso, o facto de estarmos confinados faz com que tenhamos menos exposição solar. A produção de vitamina D é importante para a massa óssea e para a função muscular.

Há uma conjugação de fatores que pode ajudar a perspetivar que a realidade, em relação à osteoporose e ao risco fraturário, possa aumentar neste contexto pandémico.

HN- O afastamento dos utentes dos cuidados primários irá ter impacto nos tratamentos? 

FPS- É importante que, em qualquer situação, todas as pessoas possam ter o acompanhamento do seu médico de família. É algo essencial. Haja pandemia ou não existem seguramente doenças crónicas e que têm de continuar a ser monitorizadas e avaliadas. Se não for presencial que seja à distância. Os doentes têm que ser avaliados em qualquer situação. Não podemos nunca fazer com que estas pessoas deixem de ter um acompanhamento minimamente adequado para manter um equilíbrio em relação a estas várias situações crónicas.

HN- Que conselhos deixa para prevenir ou melhorar o prognóstico dos doentes durante a pandemia?

FPS- Hábitos de vida saudáveis. Estejamos em período de confinamento ou não é sempre possível ir à rua a fazer um passeio. Se as pessoas continuarem a andar, seja pelo exercício cardiovascular que a marcha representa, seja pelo sentido de equilíbrio que é preciso para marchar já é um fator positivo. Sair de casa e apanhar um pouco de sol é uma forma de estimular a produção de vitamina D.

É importante, também, fazer exercício físico em casa de forma global. Existem na internet várias aulas dadas por pessoas qualificadas que nos permitem fazer exercícios de equilíbrio, de amplitude de movimentos e de tonificação muscular que a pessoa pode seguir e fazer de forma regular.

Evitar bebidas alcoólicas e tabaco e manter uma dieta equilibrada é também muito importante.

 

 

 

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