Tiago Meirinhos: “A principal dificuldade dos doentes é compreender a vantagem do tratamento da osteoporose”

26 de Maio 2021

Tiago Meirinhos Reumatologista no Centro Hospitalar Tâmega Sousa

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Tiago Meirinhos: “A principal dificuldade dos doentes é compreender a vantagem do tratamento da osteoporose”

De acordo com o reumatologista do Centro Hospitalar Tâmega Sousa, Tiago Meirinhos, o grande desafio da osteoporose “é os doentes estarem alerta para esta doença”. Por se tratar de uma patologia crónica, o especialista fala na importância da adesão ao tratamento, a qual estima que seja inferior a 50%. “A osteoporose na escala de doenças importantes é das que fica no fim”, admite.

HealthNews (HN)- A Osteoporose é uma doença silenciosa que só apresenta sintomas em fases avançadas. Que sinais destacaria da doença?

Tiago Meirinhos (TM)- Efetivamente é uma doença silenciosa que por si não provoca sintomas, exceto quando temos uma fratura e aí, sim, temos uma dor ou uma limitação funcional.

Em termos de prevenção ela deve começar bem cedo, uma vez que os picos de massa óssea são atingidos por volta dos 30 anos. O exercício físico deve ser feito em carga e o aporte de cálcio deverá ser adequado, através de uma alimentação variada.

A prevenção de quedas é muito importante numa idade mais avançada. Quando as pessoas têm uma densidade óssea mais baixa, seja osteoporose ou não, é muito importante não caírem. As fraturas ocorrem quando temos uma queda… e, por isso mesmo, é muito importante haver certos cuidados em casa, nomeadamente iluminação. Alguns medicamentos que diminuem a atenção da pessoa devem ser moderados nesta faixa etária – já que sabemos que aumentam o risco que queda.

HN- Quando é que o médico suspeita que o doente possa estar perante um quadro de osteoporose?

TM- A suspeita e confirmação ocorre naqueles doentes que têm uma fratura de fragilidade, que habitualmente acontece na anca, na coluna vertebral ou no punho… Mas diria que aí já vamos tarde de mais.

Nos restantes doentes devemos pensar de forma séria em avaliar a osteoporose a partir dos cinquenta anos. Essa avaliação é feita com base num pequeno questionário, chamado FRAX, e que tem algumas variáveis como: o peso, a altura, o consumo de tabaco e de álcool. Sabemos que o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas são fatores de risco para a osteoporose. Sabemos também que os doentes que fazem terapêuticas com corticoides têm risco aumentado de osteoporose. Nesses teremos de fazer uma avaliação mais cedo.

Por tudo isto, é muito importante, a partir dos cinquenta anos, avaliar de forma regular o risco de osteoporose. Em caso de dúvida podemos avançar com uma densitometria que é o exame que, no fundo, nos dá a densidade óssea.

HN- Como é feito o diagnóstico?

TM- O diagnóstico é clínico e pode ser feito após uma fratura, mas deve ser feito previamente com a ferramenta [FRAX], complementada muitas vezes com uma densitometria (que não é obrigatória). Existem critérios densitométricos para a osteoporose e que têm a ver com a densidade óssea. No entanto, o diagnóstico desta doença pode ser um diagnóstico clínico e o mais importante é estimarmos o risco de fratura. É completamente diferente uma osteoporose com risco de fratura de 11% ou de 40%. Esse risco é revelado através do FRAX, o qual nos permite verificar o risco a 10 anos.

HN- Em que altura o doente é indicado para iniciar o tratamento?

TM- Existem recomendações nacionais, da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, que definem limites do risco de fratura a partir dos quais é justificado tratar. Esse risco é considerado, com desintometria ou sem, e deve ser feito quando os doentes têm um risco superior a 11% de uma fratura major ou 3% do colo do fémur. Esses doentes têm uma probabilidade de fratura alta o suficiente para se justificar um tratamento farmacológico, sendo que o tratamento não farmacológico começa bem mais cedo.

HN- E qual é a taxa de adesão ao tratamento? 

TM- Estima-se que menos de 50% dos doentes façam o tratamento após um ano. Por ser uma doença silenciosa os doentes não reconhecem o benefício imediato daquela terapêutica e, alguns abandonam o tratamento. A toma de alguns medicamentos não é muito prática, uma vez que é preciso tomar a medicação todas as semanas em jejum e não se podem deitar de seguida. Estes fatores diminuem a adesão e obviamente aumenta o risco de fraturas, que é precisamente aquilo que não queremos.

HN- A maioria dos medicamentos é utilizada tanto para prevenção como para tratamento. Que outras soluções não medicamentosas são utilizadas para tratar esta doença? Recordo que já falou na prática de exercício físico…

TM- O exercício físico para a osteoporose deve ser feito em carga. É importante fazer caminhadas e exercícios com algum grau de peso para fortalecer o osso.

Outros tratamentos dizem respeito aos níveis de vitamina D. Devemos ter níveis adequados para que o cálcio se fixe no osso. A vitamina D tem também um papel na redução de quedas no sentido em que melhora a sarcopenia, portanto a qualidade do músculo e o equilíbrio.

É preciso também estimular o abandono do álcool e tabaco.

HN- Quais as principais dificuldades dos doentes com osteoporose?

TM- Eu diria que a principal dificuldade dos doentes é compreender a vantagem do tratamento. As pessoas só percebem os contributos quando já é tarde de mais. Portanto, o grande desafio é os doentes estarem alerta para esta doença. Sabemos que a percentagem de pessoas que fratura a anca tem uma taxa de mortalidade muito alta, comparativamente com a restante população. Isto significa que uma pessoa depois de partir a anca, de ser internada e operada tem uma taxa de mortalidade aumentada que temos de evitar.

HN- Qual é o impacto na qualidade de vida?

TM- Uma pessoa que sofre um destes tipos de fratura pode deixar de ter uma vida normal. O doente fica imobilizado, acamado e com dor crónica muitas vezes difíceis de tratar.

Para além disto a osteoporose tem custos socioeconómicos muito altos. Os doentes quando são internados e operados tem um determinado custo. Muitas vezes  têm alta para unidades de fisioterapia de reabilitação que têm também custos. Em alguns casos os filhos deixam de trabalhar para poderem tratar dos pais acamados e esse custo não é contabilizado. Ou seja, os custos socioeconómicos desta doença são muito elevados. Embora alguns estudos já estimem o valor, a verdade é que o valor ainda está subestimado.

HN- Qual o balanço que faz do acompanhamento dos doentes durante este período da pandemia?

TM- Estes doentes, tal como outros perderam o seu elo de ligação que era a consulta ou o tratamento. Deixaram de ser acompanhados e não tenho dúvidas de que quando formos analisar vamos ver que houve mais fraturas.

Vai ser possível recuperar o tempo perdido?

Talvez não seja possível para 100% dos doentes, mas enquanto médico acredito que é possível. As pessoas com a pandemia evitam a procura de cuidados de saúde que consideram menos importantes…  A osteoporose na escala de doenças importantes para os doentes é das que fica no fim.

 

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