Política de refugiados adotada por Merkel “alterou mentalidades” na Alemanha

30 de Maio 2021

A entrada de um milhão de refugiados na Alemanha em 2015 alterou mentalidades, acredita a portuguesa Eva Oliveira, mas poderá haver um recuo pós Merkel, apesar do país ter capacidade e condições para receber mais pessoas.

A diretora do departamento de Serviços Sociais da Cruz Vermelha da delegação de Rhein-Neckar/Heidelberg defende as medidas tomadas pela chanceler, há seis anos, temendo uma mudança de comportamentos devido ao agravamento das situações económicas do país.

“Acho que Merkel atuou muito bem, viu-se que havia pressão, mesmo dentro do próprio governo e por parte dos outros estados (…) Continuo a dizer que ainda há capacidade para receber mais refugiados, os que estão presos na Grécia poderiam vir, há capacidade de os acompanhar e integrar”, sustentou, em declarações à agência Lusa.

Eva Oliveira formou-se em Estudos do Médio Oriente, prosseguindo os estudos na Síria e na Palestina. Em 2015, começou por trabalhar como voluntária a fazer traduções de e para árabe, passando depois a dar aulas de integração. Agora é a diretora de um departamento com cerca de 50 funcionários, numa das delegações mais fortes da Alemanha no trabalho com refugiados.

“Quanto à implementação, foi bastante caótica, mas tem que se pensar na quantidade de pessoas que chegaram assim de repente. A Alemanha não estava preparada para receber um milhão de refugiados. Há críticas de que correu tudo muito mal. Eu digo que não. Correu bem para aquilo que aconteceu, para a quantidade de pessoas que chegaram e que foram recebidas”, admitiu.

Quase meio milhão de pessoas solicitaram refúgio na Alemanha em 2015 e outras 750 mil no ano seguinte. O ministro do Interior na época, Thomas de Maizière, admitiu, no ano passado, que houve momentos de perda de controlo.

“A Alemanha é grande. Houve uma alteração na mentalidade (dos alemães). Na altura, abriu-se bastante aos refugiados (…) Ainda assim, não houve essa abertura em toda a Alemanha. As áreas onde há menos contacto com os estrangeiros não têm essa abertura. Não tiveram em 2015, nem vão ter agora, nem no futuro”, considerou.

Eva Oliveira, a viver na Alemanha desde 1997, concorda com o mote “Wir schaffen das” (Vamos conseguir), dito por Merkel e repetido por muitos vezes sem conta durante a sua governação.

“É verdade. A Alemanha tem a capacidade e as infraestruturas para poder receber e integrar as pessoas, se estas quiserem ser integradas”, sublinhou, lamentando a diminuição dos números de voluntários que atribuiu à “propaganda” e às “dificuldades” decorrentes da pandemia de covid-19.

“Acho que estamos a recuar (…) com o vírus, vemos que há mais pobreza, há pessoas que perderam as suas casas, os empregos, a sua subsistência. Sempre que a situação da sociedade piora em termos económicos, a primeira coisa que as pessoas fazem é virarem-se contra os estrangeiros e os refugiados”, lamentou.

Por isso, “não estou a ver que nos próximos tempos possamos ter uma melhoria”.

As eleições para escolher um novo chanceler na Alemanha estão marcadas para o dia 26 de setembro.

LUSA/HN

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