Especialistas debatem uso racional de sangue nos cuidados paliativos

15 de Junho 2021

Um grupo de especialistas reúne-se, em formato digital, esta terça-feira, a partir das 18h30, para debater o "Uso Racional de Sangue nos Cuidados Paliativos".

“O sangue é um recurso escasso, não há engenharia genética que o consiga produzir”, afirmou o gastrenterologista e hepatologista Rui Tato Marinho, Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, diretor do Centro de Medicina Paliativa dessa Faculdade e diretor do Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte, que organiza o evento e será um dos oradores.

“Houve um impacto muito grande da pandemia nas dádivas de sangue, que tornou ainda mais escasso este recurso, que além de tudo é muito caro. Se o sangue e os seus derivados fossem considerados medicamentos, eram dos mais caros e aqueles em que o país mais milhões gasta”, disse Rui Tato Marinho, citado em comunicado.

De acordo com o especialista, estima-se “que temos à volta de 90 mil portugueses a precisar de cuidados paliativos, dos quais 80 mil adultos e cerca de 8 mil crianças. São pessoas em situação muito difícil, e não são só estas pessoas que estão em sofrimento, mas também as suas famílias”. “Eu diria que talvez meio milhão de portugueses são direta ou indiretamente afetados pelos cuidados paliativos”, acrescentou.

E uma das complicações mais frequentes nas pessoas em fim de vida é a anemia, lê-se no comunicado. “É muito fácil encontrar, nos cuidados paliativos, pessoas com anemia, que tendencialmente poderiam ser transfundidas. O que queremos é alertar para a melhor gestão do sangue em situações em que já não há praticamente nada a fazer, a não ser dar conforto. É não usar o sangue em vidas que não vão ser salvas e, por outro lado, direcioná-lo para salvar a vida de quem mais precisa”, explicou Rui Tato Marinho.

Paulo Pina, especialista em medicina paliativa e Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, outro dos oradores do evento, sublinhou que, “na medicina paliativa, dado que a maioria dos doentes tem uma condição de terminalidade, ou seja, ainda que nem todos sejam doentes terminais, são doentes com doenças incuráveis, é preciso ser mais prudente no pedido de sangue”.

“Nós não dizemos que somos contra ou a favor do sangue, somos a favor da proporcionalidade, ou seja, somos a favor de tudo, se a situação do doente assim o permitir”, referiu Paulo Pina, reforçando que “o médico tem de ser mais criterioso e não usar de forma obstinada nem os exames complementares de diagnóstico, nem os tratamentos”. Quanto ao uso racional de sangue, classifica-o como “vital, porque estamos a falar de um recurso caro e nem sempre muito abundante, que está dependente de doações”.

Paulo Pina defende também a necessidade de mais “literacia, para os leigos e para os profissionais de saúde. O modelo triunfalista da medicina tem de ser abandonado”. E alertou: “Nós não conseguimos tratar todos nem curar todos, temos é de cuidar de todos os que nos procuram, sem abandonar doentes. Mas não podemos prometer que os vamos curar a todos. E os tratamentos têm de ser proporcionais às patologias”.

Álvaro Beleza, diretor do Serviço de Sangue do Hospital de Santa Maria, também participará no debate e falará sobre o uso racional de sangue e as melhores estratégias para o seu aproveitamento.

A moderação estará a cargo da jornalista de Saúde Marina Caldas.

Aberto a todos os profissionais de saúde, o evento reforça ainda a existência de estratégias para gerir melhor este escasso e caro recurso. “Na anemia, o ferro injetável é uma dessas alternativas; promover as dádivas de sangue como um dever humanitário e de cidadania; reaproveitamento do sangue gasto durante uma cirurgia, etc.”, indicou Rui Tato Marinho.

Mais informações em https://www.medicina.ulisboa.pt/conversa-com.

PR/HN/Rita Antunes

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