Estudo conclui que farmacêuticos hospitalares devem ser mais e ter mais intervenção clínica

17 de Junho 2021

Os farmacêuticos hospitalares devem ter mais intervenção clínica e ter maior disponibilidade para a integração na equipa de saúde e tal só é possível com um aumento destes profissionais, conclui um estudo esta quinta-feira divulgado.

O trabalho – “Valorização do Desempenho do Farmacêutico Hospitalar” -, realizado pela Nova SBE – School of Business and Economics para a Ordem dos Farmacêuticos (OF), com o apoio da Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares (APFH), evidencia o potencial clínico e económico de diversas atividades desenvolvidas por estes profissionais nos hospitais portugueses.

Como exemplo, destaca a revisão da medicação, a reconciliação da terapêutica, a avaliação de alternativas terapêuticas ou a monitorização/farmacovogilância da utilização de (novos) fármacos, intervenções que “permitem prevenir riscos, erros de medicação, promover a adesão à terapêutica ou obter poupanças diretas com a aquisição de medicamentos”.

Os autores do estudo consideram que os farmacêuticos hospitalares são “atores essenciais” no funcionamento da estrutura hospitalar, responsáveis pela gestão de uma tecnologia de saúde com um custo anual de 1,3 mil milhões de euros para os hospitais portugueses, e sublinham que a limitação de recursos especializados nas farmácias hospitalares “dificulta o desenvolvimento sustentado e generalizado de práticas clínicas que otimizam a utilização dos medicamentos”.

O trabalho, que é hoje à tarde apresentado na Ordem dos Farmacêuticos, reconhece que a participação do farmacêutico hospitalar nas áreas clínicas tem crescido, mas sublinha que a maioria do seu tempo é ainda dedicada à distribuição de medicamentos nos regimes de internamento e de ambulatório.

“Este é um panorama que cumpre ser ajustado, por um imperativo de sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), promovendo a qualidade assistencial e por consequência, a qualidade do nosso SNS”, escrevem os autores.

O estudo frisa a necessidade de ter mais farmacêuticos hospitalares, para que possam “compatibilizar as funções associadas à distribuição de medicamentos com uma maior disponibilidade para a integração na equipa de saúde”, contribuindo desta forma para a prevenção da doença e a melhoria da saúde das pessoas.

“Década a década, sentimos que a não renovação geracional, através de uma carreira que além da progressão pelo mérito (…) é a questão da retenção deste capital humano. Para retermos os profissionais de saúde (…) não podemos permitir que adquiram durante toda a vida a formação que fizeram no Serviço Nacional de Saúde e depois não a aplicarmos nas atividades de maior valor”, disse a bastonária da OF, Ana Paula Martins.

Sobre a necessidade de acrescentar sangue novo, a bastonária disse ter “uma grande convicção” de que será possível abrir vagas para a “residência farmacêutica” a abertura de vagas para a Residência Farmacêutica em janeiro do próximo ano.

“Para nós é um marco histórico, abrir em janeiro com as vagas que forem possíveis”, acrescentou a bastonária, que termina o seu mandato no final deste ano, sublinhando: “isto nunca seria possível se o Ministério da Saúde e a ACSS não tivessem colocado isto como uma das prioridades”.

O estudo hoje divulgado cita a Organização Mundial de Saúde para lembrar que os erros de medicação são uma causa importante de morbilidade e mortalidade, tendo também um elevado custo financeiro, e sublinha que parte significativa desses erros pode ser evitada e que o farmacêutico hospitalar é “o profissional que primordialmente pode contribuir” para esta tarefa.

Estima-se que as reações adversas medicamentos sejam responsáveis por 400 mil mortes anuais em todo o mundo. Os erros de medicação representam um elevado custo financeiro para os sistemas de saúde, na ordem dos 35 mil milhões de euros, e cerca de 10% dos custos associados à prestação de cuidados. São também a causa de internamento hospitalar de quase 85 milhões de pessoas e a eles se devem também quase 1/4 dos eventos adversos que ocorrem nos hospitais.

Dada a sua intervenção na utilização e na gestão dos medicamentos, a farmácia hospitalar tem “um papel determinante na qualidade dos serviços de saúde, com reflexos na otimização dos resultados dos doentes”, sublinham os autores, frisando que, simultaneamente, “ao gerir a segunda maior rubrica do orçamento dos hospitais, a sua atividade também tem um impacto para a população em geral, associado aos efeitos dos seus atos sobre os custos de saúde”.

O estudo recolheu ainda o depoimento de alguns médicos e todos foram unânimes em sublinhar a relevância do farmacêutico hospitalar, a quem atribuem “um papel complementar” ao seu e que veem como “um parceiro na prestação de cuidados”.

LUSA/HN

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