“Valores de hipertensão persistentemente elevados podem provocar um quadro de insuficiência cardíaca e fibrilhação auricular”, alerta Manuel de Carvalho Rodrigues, cardiologista do Hospital Pêro da Covilhã. “Se a hipertensão, por definição, tem de ser muito bem controlada, neste doentes por maioria de razão”.
A idade é outro fator de risco importante. De acordo com o especialista, “o número de doentes portugueses com fibrilhação auricular ronda os 2% mas, nos grupos etários acima dos 65 anos, os valores sobem para 10%”.
A fibrilhação auricular está associada a um risco quatro a cinco vezes superior de AVC isquémico cardioembólico. “A fibrilhação auricular é altamente embólica porque resulta de uma desorganização completa, em termos mecânicos, da estrutura do coração, que faz com que o sangue circule em turbilhões”.
Este bombear de fluxos muito heterogéneos e com muita turbulência, “propicia a criação de trombos e êmbolos que, disparados à distância, provocam enfartes e, principalmente, acidentes vasculares cerebrais (AVC)”, prossegue o cardiologista. “Sabendo nós que a hipertensão arterial é, talvez, o fator de maior risco para o AVC, veja-se o risco que corre o doente hipertenso e em fibrilhação auricular, se ambas as patologias não estiverem controladas!”.
Esta associação entre hipertensão e fibrilhação auricular é “muito relevante em termos cardiovasculares” porque “estamos perante fatores de risco “cujo total não é igual ao somatório de cada uma das parcelas isoladamente”.
“Sendo ambas as patologias sinérgicas no risco, não têm terapêutica sinérgica”. Assim, “precisamos de tratar a fibrilhação auricular independentemente do doente apresentar ou não hipertensão arterial, e precisamos de tratar a hipertensão arterial tenha o doente, ou não, fibrilhação auricular”.
Para o diagnóstico da fibrilhação auricular “basta um eletrocardiograma simples”. Quanto ao tratamento, os anticoagulantes orais “são 100% eficazes”.
Isso significa que “basta anticoagular os doentes com fibrilhação auricular, de forma eficaz e nas doses corretas, e manter a pressão arterial dentro dos valores recomendados, para o doente deixar de ter um risco acrescido de doenças cardioembólicas ou cardiocerebrovasculares embólicas”.
“Com uma ferramenta tão eficaz contra uma doença tão maligna, não há nenhuma razão para continuar a haver doentes que não fazem anticoagulação oral”, refere Manuel de Carvalho Rodrigues. “Estamos a falar de sangue muito mais fluido sujeito a uma pressão muito elevada. O risco de hemorragia é muito maior. Mas é também uma doença que se pode prevenir nas suas consequências, bastando para isso tratar e controlar de forma adequada”.
Entrevista de Adelaide Oliveira
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