Governo “acha difícil” o “cenário extremo” de regresso ao estado de emergência

25 de Junho 2021

O Governo "acha difícil" que se coloque o "cenário extremo" do regresso ao estado de emergência, face à evolução do plano de vacinação, e admite que a matriz de risco seja repensada quando atingidos "determinados objetivos".

“Acho difícil, tendo em conta a circunstância em que estamos no plano de vacinação, que o cenário [de regresso ao estado de emergência], que é um cenário extremo, se coloque em cima da mesa”, disse o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, em entrevista à TVI24 na quinta-feira.

“Não podemos também desvalorizar medidas como as que estamos a implementar, que são também de enorme intensidade. Reduzir os horários do comércio e da restauração num concelho como Lisboa é uma medida com muita violência e não é uma medida de somenos”, adiantou.

Questionado sobre o possível regresso a um estado de emergência face ao agravar da situação pandémica em Portugal, o secretário de Estado recusou ser taxativo por receio de projetar “nas pessoas uma ideia de que afinal está tudo bem e não precisamos de nos preocupar”, tendo depois evitado responder se era essa a consequência das palavras do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que foi perentório a recusar um regresso a esse cenário.

Também questionado sobre alterações na matriz de risco, defendidas por alguns especialistas e até pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), o socialista Fernando Medina, Duarte Cordeiro, que é também o coordenador da resposta à Covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo, disse que “poderá fazer sentido, mas depois de atingir determinados objetivos”.

Entre esses objetivos estão a vacinação completa dos maiores de 60 anos, por ser a faixa etária a partir da qual se registou a quase totalidade das mortes por Covid-19 no país, havendo cerca de 700 mil pessoas com estas idades ainda por vacinar.

Sublinhando os avanços do plano de vacinação em direção às metas definidas, a redução da mobilidade em zonas de maior incidência para evitar contágios e a introdução do certificado digital para permitir a livre circulação para dentro e fora da área metropolitana de Lisboa (AML) são processos que podem vir a permitir “repensar um pouco todo este processo”, revendo não só a matriz de risco como as regras que vão sendo impostas.

No entanto, ressalvou que a matriz utiliza referenciais internacionais que permitem comparabilidade entre países, sendo “a forma como os países olham uns para os outros”.

“Quando nos olhamos nesta matriz estamos a olhar como nos olham. Eu não sei se isso é assim tão errado. Outra coisa é podermos, para além disso, quando definimos um conjunto de regras para atacarmos a situação termos em consideração que a realidade hoje é um pouco diferente da realidade de há um ano”, disse.

Para Duarte Cordeiro, elementos como a vacinação, a testagem e instrumentos para cortar a propagação do vírus “devem contar” na reavaliação do modelo, mas alertou que não se devem ignorar “riscos reais” que existem, como a maior transmissibilidade da variante Delta e o crescimento do número de internamentos hospitalares, nomeadamente em cuidados intensivos.

Excluiu qualquer limitação de circulação entre concelhos da AML, por não ver na medida uma “mais-valia” para travar contágios numa região que se encontra numa situação epidemiológica “homogénea” e referiu que o eventual uso do certificado digital para acesso a eventos culturais, por exemplo, tem que ser “equilibrado com a acessibilidade aos testes”, o que justifica que o Governo esteja a ponderar que estes sejam comparticipados.

Sobre a preocupação dos autarcas do Algarve do impacto da contabilização de todos os testes à Covid-19 feitos para a definição do nível de risco na região que recebe no verão milhões de pessoas em férias, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares admitiu que é preciso “distinguir a existência de cadeias de transmissão num determinado território do nível de risco que possa justificar ou não medidas”.

Duarte Cordeiro, que já foi vice-presidente da CML e número dois de Fernando Medina no executivo municipal, negou ter qualquer conhecimento acerca dos procedimentos de envio de dados pessoais de ativistas e requerentes de manifestações para embaixadas estrangeiras, defendendo a atuação de Medina neste caso.

“Não [nunca me apercebi do envio de dados para embaixadas estrangeiras]. De todo o modo, acho que o presidente da CML tem respondido muitíssimo bem e com enorme dignidade a toda esta questão. É muito raro encontrarmos alguém que não só reconhece que fez um erro como está disponível para o corrigir e o está a corrigir de uma forma que não volta a acontecer”, disse.

“É algo que não poderia ser do conhecimento do presidente da CML, porque se o fosse ele teria corrigido imediatamente”, reiterou, sublinhando a disponibilidade de Medina para prestar esclarecimentos na Assembleia da República sem ser obrigado a fazê-lo e recusou que o autarca não tenha assumido responsabilidades políticas no caso, como é acusado.

“Responsabilidade política é uma pessoa ter a coragem de admitir um erro”, disse.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Rafaela Rosário: “A literacia em saúde organizacional pode ser muito relevante para promover a saúde em crianças”

No II Encontro de Literacia em Saúde em Viana do Castelo, a investigadora Rafaela Rosário apresentou os resultados de um estudo pioneiro desenvolvido em escolas TEIP – Territórios Educativos de Intervenção Prioritária, instituições localizadas em contextos socioeconomicamente vulneráveis que recebem apoio específico do governo para combater o insucesso escolar e a exclusão social. A investigação demonstrou como uma abordagem organizacional, envolvendo professores, famílias e a própria comunidade escolar, conseguiu reverter indicadores de obesidade infantil e melhorar hábitos de saúde através de intervenções estruturadas nestes contextos desfavorecidos

RALS promove II Encontro de Literacia em Saúde

Viana do Castelo acolhe o II Encontro de Literacia em Saúde, organizado pela Rede Académica de Literacia em Saúde. O evento reúne especialistas e profissionais para debater estratégias de capacitação da população na gestão da sua saúde. A sessão de abertura contou com a presença de representantes da academia, do poder local e de instituições de saúde, realçando a importância do trabalho colaborativo nesta área

ULS da Cova da Beira celebra 15 anos com mais de 220 nascimentos através de Procriação Medicamente Assistida

O Serviço de Medicina Reprodutiva da Unidade Local de Saúde (ULS) da Cova da Beira assinala este domingo 15 anos de atividade, tendo realizado tratamentos que resultaram no nascimento de mais de 220 bebés. Esta é a única estrutura do setor público localizada no interior de Portugal com capacidade para oferecer uma resposta integrada e completa em todas as valências da Procriação Medicamente Assistida (PMA).

Coimbra intensifica campanha de vacinação com mais de 115 mil doses administradas

A Unidade Local de Saúde de Coimbra registou já 71.201 vacinas contra a gripe e 43.840 contra a COVID-19, num apelo renovado à população elegível. A diretora clínica hospitalar, Cláudia Nazareth, reforça a importância da imunização para prevenir casos graves e reduzir hospitalizações, com mais de 17 mil doses administradas apenas na última semana

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights