Sindicato quer reforço de 20 mil enfermeiros

1 de Julho 2021

O presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) defendeu esta quinta-feira, durante uma concentração em frente ao Ministério da Saúde, a necessidade de reforçar o número de profissionais para dar melhor resposta no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

José Carlos Martins considerou que o reforço de enfermeiros que tem havido é insuficiente face ao aumento das necessidades de saúde “decorrente daquilo que não foi respondido”, com ou sem o novo agravar da pandemia de Covid-19.

“De acordo com os indicadores da própria Ordem dos Enfermeiros seriam necessários cerca de 20 mil enfermeiros, sobretudo para que tenham condições de prestar cuidados em casas das pessoas. Temos cerca de 3,5 milhões de pessoas com mais de 65 anos, cerca de um milhão com mais de 75 anos, em situações de dependência, com doenças crónicas que não se podem deslocar aos serviços de saúde”, afirmou à Lusa o presidente do SEP.

O dirigente sindical considerou ainda “intolerável” o quadro de medidas tomadas pelo governo, sendo por isso necessária a saída dos enfermeiros à rua para “reafirmar a necessidade urgente” de agendar uma reunião, já solicitada pelo SEP, com a tutela.

“O aumento do número de doentes internados, a aceleração do processo de vacinação e o plano de recuperação suspenso exalta a necessidade de mais enfermeiros. É neste quadro que a partir de hoje o governo impede as administrações de contratar novos enfermeiros, reduz em 50% o valor do trabalho extraordinário, não resolve nenhum dos problemas anteriores e continua a não decidir atribuir a menção de relevante [na avaliação de desempenho], o que nos leva hoje a entregar um abaixo-assinado com 10 mil assinaturas”, acrescentou.

A concentração organizada pelo SEP reuniu cerca de uma centena de enfermeiros que foram dar os seus testemunhos pessoais, com os sapatos do serviço na mão a simbolizar o desgaste da profissão e apelar para a contratação única, progressão na carreira e valorização da profissão.

O enfermeiro Francisco Branco veio dos Açores protestar contra o sistema de avaliação do desempenho dos enfermeiros, cuja avaliação permite ou não a progressão na carreira, considerando que os enfermeiros deveriam ser todos avaliados com a classificação “excelente, porque demonstraram que estiveram à altura”. No entanto, “não há orientação do Ministério da Saúde para que isso seja uma regra para o país inteiro”.

“Com a pandemia todos os objetivos foram alterados, fomos prejudicados e reclamamos que nos anos na pandemia a avaliação fosse tida com essa consideração”, defendeu.

Enfermeira há 24 anos, Conceição Braga está decidida a trocar Portugal por Inglaterra, uma vez que sente que será mais valorizada pelo número de horas de trabalho.

“Em Portugal não somos valorizados a nível económico, nem a nível das próprias chefias que não reconhecem o trabalho que estamos a fazer. Um colega que trabalhe em Inglaterra num turno faz o nosso salário mensal. Não faz sentido nós aqui trabalharmos um mês inteiro e não ganharmos para as despesas”, disse.

Neste quadro, perante a quarta vaga da pandemia e o desgaste dos enfermeiros, o presidente do SEP afastou a hipótese de faltarem “os cuidados essenciais e emergentes”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Egas Moniz anuncia novos cursos na área da saúde e ambiente

A crescente procura por profissionais na área da saúde e do ambiente, impulsionada pelas preocupações ambientais e também pelas questões de saúde pública, leva a que as ofertas das instituições de ensino superior sejam cada vez mais abrangentes e diferenciadas. A Egas Moniz School of Health and Science lançou novos cursos que respondem às diferentes necessidades destes setores.

Joana Bordalo e Sá diz que, com ou sem Direção Executiva, nunca se vai conseguir uma reforma correta sem os recursos humanos

Joana Bordalo e Sá também já reagiu à demissão da DE-SNS: “mostrou ser uma estrutura pouco funcional e bastante pesada”, disse ao HealthNews. Nas ULS, por exemplo, “há uma grande desorganização” que a DE-SNS não ajudou a resolver. Daqui para a frente, com ou sem Direção Executiva, nunca se vai conseguir uma reforma correta sem resolver o problema dos recursos humanos. É a opinião da presidente da FNAM.

Nuno Rodrigues: “O SIM espera que a saída do Professor Fernando Araújo não prejudique o desenvolvimento da reforma estrutural em curso”

Em reação à demissão do diretor-executivo do SNS, Nuno Rodrigues disse hoje ao HealthNews que certamente não foi uma decisão tomada de ânimo leve, que espera que a saída de Fernando Araújo não prejudique o desenvolvimento da reforma estrutural em curso e que o Sindicato Independente dos Médicos estará sempre disponível para o diálogo e para tentar encontrar as melhores soluções.

DE-SNS sai após relatório exigido pela ministra

Fernando Araújo anunciou hoje a demissão da Direção Executiva do SNS e, em comunicado de imprensa, esclareceu que irá ainda assim apresentar o relatório solicitado pela ministra da Saúde, do qual teve conhecimento “por email, na mesma altura que foi divulgado na comunicação social”.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights