Observando e sentindo na pele a inconstância dos avanços e recuos nas medidas relacionadas com a pandemia associada ao SARS-coV-2, estando permanentemente pendente dos comunicados semanais do Governo para decidir como gerir o tempo livre, os escassos períodos de férias, o precioso tempo com a família e com os amigos, eis-me perante um número crescente de questões que me colocam e que me assaltam a mente, para as quais não consigo encontrar resposta e que vão complicando em vez de simplificar, confundindo em vez de clarificar, dificultando em vez de facilitar.
Sem ser exaustivo, aqui vão:
1. Os Centros Comerciais fechavam à hora do almoço durante o fim de semana. Porquê? Não teria sido melhor alargar o horário em vez de o reduzir para diluir a afluência em vez de a concentrar?
2. Estou num restaurante há 2 horas. Porque tenho de sair às 22,30? O que acontece depois disso? O risco aumenta?
3. Não posso sair da Área Metropolitana de Lisboa (agora já posso…) a partir das 15,30 de sexta-feira mas posso sair às 15,00. Porquê? No fundo, as pessoas acabaram por estar mais tempo fora dessa Área, o que foi o contrário do pretendido.
4. Tenho de ir para casa as 23,00. Porquê? Estando calor, é melhor conviver ao ar livre ou obrigar os jovens a estarem juntos em espaços fechados?
5. Tenho de fazer um teste para ir ao restaurante ao fim de semana, mas não durante a semana. Porquê?
6. Se fazemos um teste para entrar num restaurante ou temos certificado digital porque só podem estar 4 pessoas numa mesa? E porque têm de sair as 22,30?
7. Se nas esplanadas não é necessário teste, qual a base do limite de seis pessoas? E se forem 7?
8. Se estiver num hotel durante uma semana, qual a vantagem de apresentar ou realizar um teste no check-in? E os restantes dias?
9. Os testes não seriam úteis para eventos desportivos? Na final de ténis em Wimbledon este último domingo, a lotação estava esgotada e todos exibiam uma pulseira atestando a realização de teste ou vacina…
10. E nos bares e discotecas? É melhor ter os jovens em festas privadas não controladas do que em locais com lotação limitada e com exigência de teste ou vacina?
11. O que tem sido feito para estimular os jovens a serem vacinados?
Como se enquadra tudo isto na permissividade exibida pelo Estado noutras situações?
Numa fase inicial, esta comunicação errática e ambígua era mais compreensível, face à escassez de medidas. Neste momento, a comunicação é péssima, as medidas não obedecem a critérios minimamente racionais, são criadas avulso, interferem com a liberdade dos cidadãos e com a economia, não são explicadas porque não têm explicação e impedem qualquer tipo de planeamento pessoal ou empresarial.
Governar é difícil. Bem sei. Decidir é tramado. Bem sei.
Mas uma linha de comunicação fluida, honesta e clara ajuda muito.
Mais ainda: uma capacidade de observar e interpretar a realidade de um modo inteligente, racional e objectivo, definindo compromissos e sabendo que a perfeição não existe, poderá contribuir para uma gestão mais eficaz do presente e do futuro.
Entendo que temos de ser flexíveis. Entendo que temos de nos adaptar. Não entendo passos dados sem rumo, sem fundamento, sem outro objectivo que não o de mostrar que algo está a ser feito. Mesmo sendo inútil e prejudicial.
O cansaço é enorme, o desgaste também. Manter uma política de constante massacre com números e estatísticas e de medidas irracionais, aumenta esse cansaço e esse desgaste. E importa mudar este estado de coisas.
Se tivesse esperado mais umas horas, após novo comunicado, teria seguramente mais algumas perguntas para adicionar. Mas não me apetece esperar…
E ainda bem que o fez ! Parabéns pela escrita!