Estudo revela que 63% dos idosos têm anticorpos seis meses após vacinação

17 de Agosto 2021

Um estudo esta terça-feira divulgado revela que 63% dos idosos com mais de 70 anos têm anticorpos contra o coronavírus que causa a Covid-19 seis meses após a vacinação.

O estudo, conduzido pelo Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), envolveu 260 idosos de cinco lares, além de 160 funcionários, em que a quase totalidade (98,1%) continuava, ao fim do mesmo tempo, com anticorpos contra o SARS-CoV-2.

Em declarações à Lusa, o coordenador do estudo, o imunologista Carlos Penha-Gonçalves, precisou que estes dados reportam-se ao período decorrido após a primeira toma da vacina, assinalando que, nos idosos, “a robustez da resposta” à vacinação “é similar” à dos funcionários, com uma idade média de 45 anos, “poucas semanas após a vacinação”.

“Depois, começa a registar-se decaimento de anticorpos”, afirmou. Uma situação previsível.

Em comunicado, o IGC refere que os dados “confirmam que, à semelhança do que acontece com outras vacinas, a diminuição dos anticorpos gerados pela vacinação” contra a Covid-19, uma doença respiratória, “é mais rápida na população mais idosa”.

O IGC realça que “a tendência de decrescimento de anticorpos começou a ser notada três meses após a segunda dose em cerca de 15% dos participantes” com mais de 70 anos.

Tanto idosos como funcionários dos cinco lares tomaram a vacina da Pfizer/BioNTech, administrada em duas doses intervaladas.

Para o investigador do IGC Carlos Penha-Gonçalves, coordenador do estudo, citado no comunicado, “o decréscimo dos níveis de anticorpos vacinais com o tempo é natural e expectável e não significa ausência de proteção contra a infeção”.

De acordo com o IGC, “espera-se que as pessoas que tiveram resposta por anticorpos logo a seguir à vacinação tenham desenvolvido memória imunológica que lhes permitirá combater a infeção em subsequentes contactos com o vírus: esse é o princípio da vacinação”.

Contudo, “enquanto houver circulação do vírus na população, como é atualmente o caso, é indispensável que se mantenham os cuidados de proteção individual”, como o uso de máscara, o distanciamento físico ou a higienização das mãos, “mesmo após o processo de vacinação e ao longo do tempo”.

Carlos Penha-Gonçalves explicou à Lusa que “a continuação das medidas individuais de proteção contribuirá para a redução da transmissão da doença”, uma vez que “as pessoas vacinadas podem hospedar o vírus sem demonstrar doença”. Tanto mais que a variante Delta do SARS-CoV-2, dominante em Portugal, “tem uma capacidade de transmissibilidade mais alta”.

Por isso, as medidas sanitárias devem “ser mantidas” até o índice de transmissibilidade do novo coronavírus “cair para valores muito baixos por efeito conjugado da vacinação e das medidas protetoras”, sustentou.

O estudo avaliou a persistência de anticorpos induzidos pela vacinação contra a Covid-19 e seguiu-se a um outro que mediu a efetividade da vacina na produção de anticorpos também em residentes e funcionários de lares de idosos.

Nos idosos, a produção de anticorpos é mais lenta e a sua queda é mais rápida do que nos mais jovens.

Segundo o Instituto Gulbenkian de Ciência, será “importante continuar a acompanhar a evolução da queda dos anticorpos ao longo do tempo”, em particular nos idosos, população mais vulnerável à Covid-19 devido, pela idade, à debilidade do seu sistema imunitário.

“A condução de rastreios é um instrumento imprescindível para garantir o acompanhamento da evolução da resposta vacinal e obter dados para apoiar as decisões sobre a possível revacinação e vacinas a utilizar”, sublinha o IGC, que tem realizado estudos sobre a efetividade de diferentes vacinas contra a Covid-19 em diversas idades e grupos profissionais.

À Lusa, Carlos Penha-Gonçalves disse que “o acompanhamento das pessoas com baixos níveis de anticorpos poderá trazer informação sobre a necessidade de reforço vacinal”, acrescentando que os estudos que o IGC está a fazer sobre a efetividade das vacinas contra a Covid-19 “vão prolongar-se até ao fim deste ano”.

Ainda de acordo com o investigador, “o acompanhamento de pessoas vacinadas que ficam infetadas poderá oferecer dados que permitam identificar estratos ou grupos da população que beneficiariam” com o reforço da vacinação.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 17.584 pessoas e foram registados 1.006.588 casos de infeção, segundo o mais recente boletim da Direção-Geral da Saúde.

A Covid-19 é uma doença respiratória provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, tipo de vírus detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e que se disseminou rapidamente pelo mundo.

Existem quatro variantes do SARS-CoV-2 consideradas preocupantes pela Organização Mundial da Saúde, sendo a Delta a mais contagiosa.

Os especialistas têm advertido que as vacinas em circulação contra a Covid-19, não sendo 100% eficazes, como qualquer vacina, previnem a doença grave e a morte, mas não evitam a infeção e a transmissão do vírus.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Chamadas para o SNS24 disparam 71% ao ano, mas taxa de atendimento cai para 75%

O serviço de atendimento telefónico SNS24 registou um crescimento anual de 71% no volume de chamadas desde 2023, ultrapassando os níveis pré-pandemia. Contudo, a capacidade de resposta não acompanhou este boom, com a taxa de chamadas atendidas a cair para 74,9%, levantando dúvidas sobre a sustentabilidade do modelo

ULSEDV Promove Primeiro Encontro Conjunto para Cuidados da Mulher e da Criança

A Unidade Local de Saúde de Entre Douro e Vouga organiza a 11 e 12 de novembro de 2025 as suas primeiras Jornadas da Saúde da Mulher e da Criança. O evento, no Europarque, em Santa Maria da Feira, visa consolidar a articulação clínica entre os hospitais e os centros de saúde da região, num esforço para uniformizar e melhorar os cuidados prestados.

Projeto “Com a Saúde Não Se Brinca” foca cancro da bexiga para quebrar estigma

A Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde lançou uma nova temporada do projeto “Com a Saúde Não Se Brinca” dedicada ao cancro da bexiga. Especialistas e doentes unem-se para combater o estigma em torno dos sintomas e alertar para a importância do diagnóstico atempado desta doença, que regista mais de 3.500 novos casos anuais em Portugal.

Maria Alexandra Teodósio eleita nova Reitora da Universidade do Algarve

O Conselho Geral da Universidade do Algarve elegeu Maria Alexandra Teodósio como nova reitora, com 19 votos, numa sessão plenária realizada no Campus de Gambelas. A investigadora e atual vice-reitora, a primeira mulher a liderar a academia algarvia, sucederá a Paulo Águas, devendo a tomada de posse ocorrer a 17 de dezembro, data do 46.º aniversário da instituição

Futuro da hemodiálise em Ponta Delgada por decidir

A Direção Regional da Saúde dos Açores assegura que nenhuma decisão foi tomada sobre o serviço de hemodiálise do Hospital de Ponta Delgada. O esclarecimento surge após uma proposta do BE para ouvir entidades sobre uma eventual externalização do serviço, que foi chumbada. O único objetivo, garante a tutela, será o bem-estar dos utentes.

Crómio surge como aliado no controlo metabólico e cardiovascular em diabéticos

Estudos recentes indicam que o crómio, um mineral obtido através da alimentação, pode ter um papel relevante na modulação do açúcar no sangue e na proteção cardiovascular, especialmente em indivíduos com diabetes tipo 2 ou pré-diabetes. Uma meta-análise publicada na JACC: Advances, que incluiu 64 ensaios clínicos, revela que a suplementação com este oligoelemento está associada a melhorias em parâmetros glicémicos, lipídicos e de pressão arterial, abrindo caminho a novas abordagens nutricionais no combate a estas condições

Alzheimer Portugal debate novos fármacos e caminhos clínicos em conferência anual

A Conferência Anual da Alzheimer Portugal, marcada para 18 de novembro na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, vai centrar-se no percurso que vai “Da Ciência à Clínica”. Especialistas vão analisar os avanços no diagnóstico, novos medicamentos e a articulação entre cuidados de saúde e apoio social, num evento que pretende ser um ponto de encontro para famílias e profissionais

Bayer anuncia redução significativa de marcador renal com finerenona em doentes com diabetes tipo 1

A finerenona reduziu em 25% o marcador urinário RACU em doentes renais com diabetes tipo 1, de acordo com o estudo FINE-ONE. Este é o primeiro fármaco em mais de 30 anos a demonstrar eficácia num ensaio de Fase III para esta condição, oferecendo uma nova esperança terapêutica. A segurança do medicamento manteve o perfil esperado, com a Bayer a preparar-se para avançar com pedidos de aprovação regulatória.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights