Kathy Hochul, primeira mulher a chegar ao cargo político mais alto no Estado de Nova Iorque

23 de Agosto 2021

O Estado de Nova Iorque vai assistir a uma mudança histórica na terça-feira ao empossar Kathy Hochul, democrata de 62 anos, como primeira mulher governadora, em substituição do governador demissionário Andrew Cuomo.

Vice-governadora desde 2015, Kathy Hochul irá subir no cargo e tornar-se 57.ª governadora de um Estado que tem quase 19,5 milhões de habitantes (mais do que as populações de Portugal e Suíça juntas) e que é o centro financeiro e comercial dos Estados Unidos da América.

A mudança ocorre na sequência da demissão de Andrew Cuomo, governador há dez anos, por acusações de assédio sexual.

Kathy Hochul toma posse na terça-feira, com uma cerimónia oficial privada marcada para as 00:01 locais (05:01 em Lisboa). No primeiro dia, a governadora deverá reunir-se com legisladores estaduais e, posteriormente, discursar na televisão.

Cumpre-se assim a principal função de ‘lieutenant governor’, vista tipicamente como um cargo simbólico e cerimonial, para substituir o governador em caso de ausência, morte, destituição ou demissão.

“Como alguém que serviu em todos os níveis de governo e é próximo na linha de sucessão, estou preparada para liderar como 57.ª governadora do Estado de Nova Iorque”, escreveu Hochul na rede social Twitter, em 10 de agosto, após o anúncio da demissão de Cuomo.

Nascida a 27 de agosto de 1958, Hochul é originária de Buffalo, segunda maior cidade do Estado, na fronteira com o Canadá e a cerca de 500 quilómetros de distância de Nova Iorque.

De educação católica, inclusivamente com um doutoramento em Direito pela Universidade Católica da América, a nova governadora discorda da igreja no tema do aborto ou interrupção voluntária da gravidez (que o Vaticano proíbe). Casada desde 1984 com William Hochul, é mãe de dois filhos.

Inicialmente advogada de profissão, Hochul foi assessora legislativa antes de tornar-se legisladora no governo local de Hamburg, nos EUA, durante 13 anos, de 1994 a 2007.

Uma das principais responsáveis da administração do condado Erie entre 2007 e 2011, Kathy Hochul passou pela Casa dos Representantes dos EUA, em Washington, como congressista federal entre 2011 e 2013, em representação da zona distrital 26 de Nova Iorque.

Foi em 2014 que a veterana política iniciou o caminho de ascensão ao governo estadual de Nova Iorque, quando Andrew Cuomo, que concorria ao segundo mandato como governador, anunciou o nome como parceira de corrida eleitoral e candidata a vice-governadora.

Nos primeiros quatro anos como vice-governadora de Nova Iorque (2015-2019), Kathy Hochul teve responsabilidades no desenvolvimento económico regional e na liderança do grupo de trabalho sobre Abuso e Dependência de Heroína e Opioides.

A antiga legisladora foi também dirigente da campanha de combate ao abuso sexual em ‘campus’ universitários promovida por Andrew Cuomo e dedicou-se aos direitos das mulheres e situação das famílias do Estado.

Em 2018, a vice-governadora terá sido questionada, por conselheiros de Andrew Cuomo, sobre a disponibilidade para se afastar de livre vontade do cargo para concorrer ao Senado federal, escreveu o jornal New York Times.

Isto porque Andrew Cuomo queria concorrer pela terceira vez a governador com um vice-governador com diferentes características, para contrariar críticos. Hochul não cedeu e foi reeleita vice-governadora.

Outro concorrente a vice-governador em 2018, Jumaane Williams declarou, numa entrevista citada pelo jornal New York Times, que o vice deve manter-se vigilante para qualquer desvio do governador e deixou a opinião de que isso não terá acontecido com Hochul e Cuomo.

“Cuomo não poderia ser quem era sem uma estrutura capacitadora”, disse Williams. “As pessoas ajudaram a possibilitar isso, explicitamente ou por meio do silêncio”.

Quando Andrew Cuomo, acusado de assédio sexual a várias mulheres, anunciou a sua demissão, a 10 de agosto corrente, a antiga advogada mostrou-se a favor da decisão e procurou distanciar-se do governador.

“Acho que é claro que o governador e eu não temos estado próximos, nem fisicamente, nem de outras formas”, referiu.

Em 12 de agosto, poucos dias depois de ser dada como sucessora no governo do Estado, Kathy Hochul anunciou a vontade de se recandidatar à liderança em 2022, comprovando a estratégia da declaração de distanciamento do antigo chefe.

A verdade é que Cuomo e Hochul nunca foram vistos como colegas próximos de trabalho, raramente aparecendo em conjunto em eventos públicos.

A primeira governadora de Nova Iorque herda uma situação relativamente controlada da pandemia de covid-19, ainda que preocupante, por o número de casos estar a aumentar no Estado de Nova Iorque – uma média de 4 mil novos casos diários e cerca de 18 mortes por dia.

O governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, demitiu-se face a uma série de acusações de assédio sexual e depois de uma investigação da procuradora-geral de Nova Iorque divulgar que tinha assediado sexualmente pelo menos 11 mulheres.

A pressão e oposição ao governador estavam a aumentar de vários nomes políticos e públicos, incluindo o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que pediam a demissão de Cuomo, juntamente com um processo de destituição (‘impeachment’) que estava a ser preparado pelo poder legislativo do Estado.

Os investigadores indicaram que Cuomo submeteu as mulheres a beijos indesejados, apalpou seios ou nádegas ou tocou-lhes de forma inadequada, fez comentários insinuantes sobre a aparência delas e sobre a sua vida sexual.

Nas conclusões, os investigadores indicaram também que Cuomo criou um ambiente de trabalho “repleto de medo e intimidação”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Abertas candidaturas para o Prémio Grünenthal Dor 2023

A Fundação Grünenthal premeia anualmente trabalhos de investigação clínica ou básica, a quem atribui um prémio no valor de 7500 euros. O período de apresentação de candidaturas decorrerá até 30 de maio de 2024.

ULSVDL adota solução inovadora para gestão e rastreabilidade do instrumental cirúrgico

No âmbito da candidatura ao Sistema de Apoio à Modernização Administrativa (SAMA) “DIR@2020 – Desmaterializar, Integrar e Robotizar”, a Unidade de Reprocessamento de Dispositivos Médicos (URDM) da Unidade Local de Saúde Viseu Dão Lafões (ULSVDL) deu um passo importante para otimizar os seus processos, ao implementar uma solução de gestão e rastreabilidade do instrumental cirúrgico

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights