TENDINITES

7 de Setembro 2021

João Paulo Goucha Médico Ortopedista, Coordenador do Centro Ortopédico e da Coluna Hospital Cruz Vermelha

[xyz-ips snippet=”Excerpto”]

TENDINITES

07/09/2021 | Hospital cruz vermelha

Tendinite é a inflamação dos tendões, isto é, as estruturas fibrosas que unem os músculos aos ossos. A função dos tendões é transmitir a força desenvolvida pelo músculo para o osso, originando o movimento das articulações.

Apesar do fato de a natureza ter proporcionado aos tendões uma grande resistência a tensões externas muito grandes, como durante a corrida em que a tensão aplicada ao tendão de Aquiles atinge aproximadamente uma tonelada, as patologias dos tendões são bastante frequentes.

Se negligenciada, a tendinite pode causar uma redução na força muscular, bem como uma limitação no movimento das articulações envolvidas.

Essa patologia afeta mais frequentemente os ombros, cotovelos, mãos, pulsos, joelhos e tornozelos.

O que a carateriza? tem dor?

O que caracteriza uma tendinite é a inflamação. Que é uma reação tecidular específica. Expressa-se, principalmente por dor e limitação da função. Com consequente incapacidade na execução de movimentos ou esforços em que o tendão afetado participe. Pode, ainda, existir aumento do volume, calor e vermelhidão, quando o tendão em causa é superficial.

Pode caracterizar as diferentes tendinites:

Seria demasiado extensivo falar de todas as tendinites. Tentarei caracterizar uma por casa região anatómica.

– No joelho

Tendinite do rotuliano.

É a inflamação do tendão rotuliano. Frequente em saltadores. Há dor e limitação da mobilidade do joelho, que se agrava com o impacto no solo. 

-No ombro

Tendinite do supra-espinhoso.

É a inflamação do tendão do supra-espinhoso, um dos músculos do ombro. Que contribui para formar a coifa dos rotadores. Manifesta-se por dor e limitação da mobilidade do ombro, que pode ser dramática.

-No pé 

Fasceíte plantar.

É uma inflamação do tendão conjunto dos músculos plantares do pé. Manifesta-se por dor na zona posterior da planta do pé, podendo causar grande desconforto na marcha. 

-Na Coxa

Tendinite da fascia lata.

A fascia lata é uma banda tendinosa que vai do osso ilíaco ao joelho, podendo haver tendinite ao longo do seu trajeto. Quando a inflamação é mais intensa na região trocantérica (a eminência óssea que palpamos na face externa da raiz da coxa), pode causar dor e incapacidade funcional. Que se pode traduzir por claudicação. E em casos extremos, por um ressalto, mais ou menos impressionante, da anca.

-No pulso

Doença de deQuervain.

É a tendinite dos tendões do primeiro compartimento dorsal do punho. O longo abdutor e o curto extensor do polegar. Que causa dor bordo radial (o lado do polegar) do punho e limitação na utilização do punho e polegar. Por vezes brutalmente (inacreditavelmente) incapacitante.

-Na mão

Tendinites dos flexores dos dedos.

Por vezes causando dor e grande incapacidade. No limite, com um ressalto. Que se designa por dedo em gatilho ou dedo em mola.

Causas e fatores de risco

A tendinite geralmente desenvolve-se após tensões repetidas dos tendões o que leva ao longo dos anos ao desgaste e espeçamento destas estruturas. Traumatismos repetidos, vícios posturais, excesso de peso, situações congênitas (como joelho valgo ou pé chato) e exercícios físicos que envolvem sobrecarga repetida de determinadas articulações e grupos musculares (tenistas, dançarinos etc.) também podem contribuir para o seu aparecimento. O risco de desenvolver tendinite também pode aumentar na presença de doenças reumáticas e metabólicas, como a artrite reumatóide, gota, hipercolesterolemia, diabetes e durante a ingestão de alguns medicamentos.

Na grande maioria dos casos, as tendinites são causadas pela repetição contínua de microtraumas repetidos por excesso de trabalho ou desporto. Apenas raramente um tendão saudável sofre uma rotura aguda. Os tendões saudáveis, se submetidos a tensão excessiva, são de fato tão resistentes que provocam rotura do músculo ou avulsão do segmento ósseo ao qual estão ligados. Se o tendão se encontra enfraquecido por microtraumas contínuos, a sua resistência diminui gradualmente, tornando-o mais suscetível a lesões.

Entre as principais causas de tendinite salientamos:

– Sobrecarga funcional por aumento da frequência e intensidade do treino desportivo, “overtraining”.

– Roupas e calçados inadequados, em corrida em terrenos irregulares ou particularmente difíceis, escorregadios ou muito macios, como em areia.

– Execução técnica incorreta do exercício com desequilíbrio entre força muscular e resistência tendinosa (mais frequente quando se tomam esteróides anabolizantes).

– Injeções locais repetidas de corticosteroides.

– Falta de aquecimento prévio ao treino e desporto.

– Reinício precoce do treino e desporto após uma lesão.

– Vícios posturais.

Em geral, surgem tendinites devido à atividade física com a qual não se está acostumado. Para um atleta, pode ser uma mudança radical no programa de treino. Para indivíduos sedentários, o início de um novo emprego, de um esforço físico exigente ou um novo desporto.

Mais raramente as tendinopatias são causadas por doenças sistémicas, como artrite reumatoide, gota, hipercolesterolemia, insuficiência renal. Existem também vários fatores congénitos que predispõem a tendinopatias, como as diferênças de comprimento e desvios das pernas, anormalias da coluna vertebral, valgismo ou varismo dos joelhos entre outros.

O envelhecimento e as variações hormonais também favorecem o estabelecimento de tendinites, como nos atletas mais idosos que retomam o treino após um longo período sedentário. Isso ocorre porque ao longo dos anos, tendões e músculos perdem a elasticidade, tornando-se mais sensíveis a eventos traumáticos ou micro-traumáticos repetidos.

Sintomas de uma tendinite

Geralmente o sinal mais precoce é o aparecimento de dor nos movimentos e na palpação dos tendões afetados. Às vezes, se a inflamação incluir as bainhas dos tendões, pode aparecer inchaço local, calor ao toque e raramente vermelhidão local da pele. A tendinite também pode predispor à formação de nódulos, como por exemplo na inflamação dos tendões do punho e calcificações. Muitas vezes, há um déficit na força dos músculos conectados aos tendões lesionados.

Uma rutura completa ou parcial do tendão causa dor aguda e súbita que geralmente ocorre durante um movimento exigente. Durante os desportos, a dor da tendinite sub-aguda ou crónica pode ser sentida claramente no início do aquecimento, depois desaparece durante o treino e reaparece no final da sessão.

Como é feito o diagnóstico?

A tendinite é avaliada através do exame clínico do doente, associado aos exames de imagem, principalmente a ultrassonografia e a ressonância magnética nuclear.

A ressonância magnética permite diagnosticar corretamente as causas da dor no tendão e permite uma avaliação detalhada da localzação e extensão da lesão.

A ultrassonografia também permite avaliar corretamente as patologias tendínosas e embora menos precisa do que as imagens por ressonância magnética, ela é frequentemente usada por ser menos dispendiosa mais disponível e rápida de fazer.

Como curar a tendinite

O tratamento da tendinite deve incluir várias medidas, incluindo descanso do membro, aplicação de compressas frias ou gelo na área afetada e medicamentos anti-inflamatórios (AINE). Se a dor for extremamente intensa ou resistente ao tratamento com AINE, pode ser indicado o uso de infiltrações de corticosteróides. Quando existe lesão mais pronunciada dos tendões ou recidiva depois de tratamento conservador ou infiltrações, é necessária uma abordagem cirúrgica.

O tratamento da tendinite varia de acordo com os tendões afetados pela inflamação, sintomas e problemas associados à patologia.

Geralmente, são recomendadas as seguintes medidas:

– Descanso: na fase aguda da tendinite, é importante prestar atenção para não sobrecarregar a articulação e as estruturas anexas ao tendão lesado. Os esforços podem agravar a dor associada à inflamação, além de predispor a complicações como ruptura do tendão ou extensão do processo inflamatório.

– A aplicação de compressas frias e de gelo envolvido em pano na área afetada, em intervalos regulares, por alguns dias.

– Se existe dor associada à tendinite, o médico pode recomendar tomar medicamentos anti-inflamatórios e analgésicos.

– Se os sintomas forem extremamente graves ou recidivarem após o tratamento inicial, pode ser indicado o uso de corticosteróides.

– No caso de bloqueio do tendão, lesão grave ou ruptura do tendão, é necessária cirurgia, seguida de fisioterapia adequada para restaurar o movimento normal da articulação, músculos e tendão em si.

Os medicamentos usados ​​para tratar a tendinite são principalmente anti-inflamatórios não esteróides, cuja função é reduzir a inflamação e aliviar a dor causada pela doença.

Em situações mais graves, pode ser necessário recorrer a injeções locais de corticosteroides, em associação com um anestésico local. A infiltração consegue controlar o processo inflamatório quando o tratamento com AINEs não resulta, mas deve ser aplicada apenas pontualmente. De fato, infiltrações repetidas de medicamentos esteróides podem aumentar a fragilidade do tendão com risco de ruptura e alterações sistémicas.

Reabilitação

No final do período de imobilização ou cirurgia, os exercícios de reabilitação devem começar o mais cedo possível e, em qualquer caso, dentro de duas semanas após o trauma  ou cirurgia.

De fato, os tendões respondem bem às tensões externas controladas da fisioterapia, reforçando as fibras recém-regeneradas, direcionando-as na direção do movimento. A mobilização precoce é portanto, um pré-requisito fundamental para promover a recuperação de força e elasticidade perdidas, ao mesmo tempo em que remove o risco de recorrência.

Prevenção da tendinite

A melhor prevenção é, nas tendinites traumáticas e nas originadas por esforço ou movimentos repetidos, a evicção. Se tal não for desejado ou não for possível, a adaptação do gesto e o uso de ajudas técnicas e de ortóteses, que podem ter um efeito protetor. Também, a preocupação com uma alimentação correta e com uma adequada hidratação. Também, a manutenção de uma boa forma física e a preocupação com posturas corretas e com exercícios de alongamento. Para quem pratica desporto, perceber que não somos todos superatletas. Por isso temos que conhecer e trabalhar os nossos limites. Sem causar danos irreversíveis nos nossos tendões. Aceitar que, com idade, a saúde e a resistência dos tecidos vai diminuindo. E que, se pusermos carga suficiente na ponte 25 de Abril, conseguiremos rebentar os cabos que a suspendem. Finalmente, ter muito cuidado com os chamados suplementos para aumento de performance. O que se pretende é que cada um dê a utilização mais adequada e saudável aos seus tendões, para que possa ter uma vida pessoal, profissional e desportiva agradável e satisfatória. 
Saber” ouvir” o nosso organismo, dando ao corpo os períodos de recuperação necessários, evitar exagerar no esforço, respeitar a técnica correta de realizar os exercícios ou atividades e depois de um longo período de inatividade retomar gradualmente os desportos, são medidas fundamentais para prevenir lesões que o poderão deixar incapaz de praticar o seu desporto ou atividade preferida.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

EHSAS Summer University estimula colaboração interprofissional na saúde

 A 1.ª Edição da EHSAS Summer University, com o tema “Shaping Europe’s Healthcare Future – The Workforce of Tomorrow”, decorre entre os dias 28 de julho e 2 de agosto em Braga, na Universidade do Minho. O programa educacional conta já com confirmações por parte da Direção-Geral da Saúde, da Direção Executiva do SNS, da Organização Mundial da Saúde e da Agência Europeia de Medicamentos.

Portugal com 20 casos confimados de sarampo

Portugal tem 20 casos confirmados de sarampo, revelou esta terça-feira a diretora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, que realçou as “elevadas taxas de cobertura nacionais” na vacinação contra esta doença.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights