Sindicato de Médicos diz que o difícil é encontrar um hospital sem problemas

7 de Outubro 2021

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) alertou esta quinta-feira para “dezenas de situações” de hospitais com falta de profissionais de saúde, apontando, além de Setúbal, os casos de Beja, Algarve, Alentejo e Vila Franca de Xira como os mais graves.

Em declarações à agência Lusa a propósito da situação no Hospital de Setúbal, onde 87 médicos pediram a demissão, entre eles o diretor clínico, o secretário-geral do SIM, Jorge Paulo Roque da Cunha, lembrou o caso da urgência de obstetrícia do Hospital de Beja, que esteve fechada no fim de semana.

“O difícil é encontrar um hospital sem problemas destes”, afirmou o dirigente sindical, sublinhando ainda os casos das equipas de urgência dos hospitais do Algarve, Alentejo, de Leiria e de Vila Franca de Xira, que, disse Roque da Cunha, o SIM visitará na segunda-feira.

“Há um conjunto de imenso de situações que não podem ser escamoteadas. Ainda por cima porque sabemos que estas situações são mitigadas com 150 milhões de euros de recurso a empresas de prestação de serviços e com o esforço dos médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), com oito milhões de horas extraordinárias de trabalho médico, o que é uma enormidade”, considerou.

A propósito das horas extraordinárias, Roque da Cunha deu o exemplo do serviço de obstetrícia do Hospital de Setúbal, onde médicos com horário de 40 horas já têm cerca de 600 horas extraordinárias este ano.

“Não é admissível. Estas pessoas, que são altamente qualificadas e altamente experientes, só por grande amor ao SNS é que se mantêm”, afirmou.

Apontou ainda o esforço de muitos médicos com mais de 55 anos que, apesar de poderem não o fazer, continuam a assegurar urgências.

O dirigente sindical apontou ainda a difícil situação nos hospitais de Leiria e Castelo Branco, sublinhando que “são dezenas de situações que não são pontuais”.

Roque da Cunha lembrou ainda que este ano deverão reformar-se 1.500 profissionais dos hospitais e 1.300 médicos de família, considerando que “é outra circunstância que é preciso encarar”.

“Dizem que contrataram dois mil médicos. O importante é saber quantos é que nos últimos quatro anos saíram. Foi muito mais do que isso”, concluiu.

Na quarta-feira, o diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) disse à Lusa que o seu pedido de demissão e de mais 86 médicos foi um “grito de revolta para a situação desesperante e de rutura em vários serviços” daquele hospital.

“O pedido de demissão do cargo de diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal, e agora da restante direção clínica, diretores de serviço e departamentos, coordenadores de unidade e comissões e ainda chefes de equipa de urgência, num total no total de 87 assinaturas, é o último grito de alerta para a situação desesperante a que o Centro Hospitalar de Setúbal chegou, à rutura das urgências e em vários serviços primordiais do hospital”, disse Nuno Fachada.

“Estamos em rutura nos serviços de urgência, nos blocos operatórios, na oncologia, na maternidade, anestesia, etc., etc., etc.”, acrescentou o diretor do CHS, em conferência de imprensa realizada na delegação de Setúbal da Ordem dos Médicos.

Já hoje, em declarações à rádio TSF, a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) garantiu que a situação no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, também já é de rutura.

Segundo a FNAM, a falta de anestesistas no hospital está a deixar abandonado o serviço de cirurgia, com salas de operação vazias devido à falta de profissionais.

“No Hospital Egas Moniz, a grande maioria dos blocos cirúrgicos, neste momento, são realizados na clínica Clisa, que é uma clínica na Reboleira, ou no Hospital SAMS”, disse o dirigente da FNAM João Proença.

“Isto tudo é pago com dinheiro do Estado”, sublinhou o dirigente sindical, que acusou o Governo de levar a cabo “uma política deliberada de destruição dos serviços públicos de saúde e de entregar tudo a empresas de ‘outsourcing'”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Joana Bordalo e Sá diz que, com ou sem Direção Executiva, nunca se vai conseguir uma reforma correta sem os recursos humanos

Joana Bordalo e Sá também já reagiu à demissão da DE-SNS: “mostrou ser uma estrutura pouco funcional e bastante pesada”, disse ao HealthNews. Nas ULS, por exemplo, “há uma grande desorganização” que a DE-SNS não ajudou a resolver. Daqui para a frente, com ou sem Direção Executiva, nunca se vai conseguir uma reforma correta sem resolver o problema dos recursos humanos. É a opinião da presidente da FNAM.

Nuno Rodrigues: “O SIM espera que a saída do Professor Fernando Araújo não prejudique o desenvolvimento da reforma estrutural em curso”

Em reação à demissão do diretor-executivo do SNS, Nuno Rodrigues disse hoje ao HealthNews que certamente não foi uma decisão tomada de ânimo leve, que espera que a saída de Fernando Araújo não prejudique o desenvolvimento da reforma estrutural em curso e que o Sindicato Independente dos Médicos estará sempre disponível para o diálogo e para tentar encontrar as melhores soluções.

DE-SNS sai após relatório exigido pela ministra

Fernando Araújo anunciou hoje a demissão da Direção Executiva do SNS e, em comunicado de imprensa, esclareceu que irá ainda assim apresentar o relatório solicitado pela ministra da Saúde, do qual teve conhecimento “por email, na mesma altura que foi divulgado na comunicação social”.

DE-SNS demite-se em grupo (EM ATUALIZAÇÃO)

Fernando Araújo e a equipa por si liderada vão apresentar a demissão à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, foi hoje anunciado. A “difícil decisão” permitirá que a nova tutela possa “executar as políticas e as medidas que considere necessárias, com a celeridade exigida”, justificou a Direção Executiva do SNS.

EHSAS Summer University estimula colaboração interprofissional na saúde

 A 1.ª Edição da EHSAS Summer University, com o tema “Shaping Europe’s Healthcare Future – The Workforce of Tomorrow”, decorre entre os dias 28 de julho e 2 de agosto em Braga, na Universidade do Minho. O programa educacional conta já com confirmações por parte da Direção-Geral da Saúde, da Direção Executiva do SNS, da Organização Mundial da Saúde e da Agência Europeia de Medicamentos.

Portugal com 20 casos confimados de sarampo

Portugal tem 20 casos confirmados de sarampo, revelou esta terça-feira a diretora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, que realçou as “elevadas taxas de cobertura nacionais” na vacinação contra esta doença.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights