“O rápido deslocamento da população e o acesso limitado a fontes de água potável nos assentamentos precários provocaram um aumento de doenças transmitidas pela água, como a cólera e a diarreia”, lê-se num comunicado que faz o balanço da visita de três dias do diretor de operações do CICV, Dominik Stillhart, à região.
“Acho que é importante prestar muita atenção ao que está a acontecer”, referiu Dominik Stillhart, sublinhando que a água disponível “não atende a nenhum padrão de saúde pública”, por falta de redes de abastecimento e saneamento, que já eram débeis antes do conflito.
O número de casos de cólera em Cabo Delgado era de 3.400 no começo de agosto face a 2.200 casos na mesma altura em 2020, um aumento de 54%, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), exemplifica a CICV.
A organização indica ainda que no primeiro semestre deste ano foram registados 28.602 casos de diarreia na província “tornando-se a segunda causa de morte entre as crianças menores de cinco anos”.
Os centros de saúde não conseguem responder ao problema: 80% não funcionam nos nove distritos mais afetados e os que funcionam nos outros distritos estão sobrecarregados com cerca de 800.000 deslocados que fugiram da violência – sendo que, além do conflito, a província tem sido atingida ciclicamente por cheias devastadoras.
Em linha com a preocupação expressa pelo diretor de operações, o CICV está a trabalhar com as autoridades locais para “reabilitar as infraestruturas hídricas, sanitárias e de saúde e construir novas”.
Dada a vulnerabilidade a impactos climáticos, “todos os novos projetos de reabilitação e construção do CICV são sistematicamente projetados e construídos com infraestruturas resilientes”, acrescentou.
Entre os espaço a ser erguidos está um novo hospital na Ilha do Ibo, o único estabelecimento de saúde a servir o arquipélago das Quirimbas, que se estendem ao largo de Cabo Delgado.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.
LUSA/HN
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