Pandemias são ameaça à segurança global e exigem respostas conjuntas

30 de Outubro 2021

A covid-19 demonstrou que as pandemias são uma nova ameaça à segurança global, defende o presidente da Aliança Global das Vacinas, Durão Barroso, que exortou os governos a adotarem respostas conjuntas, começando pela vacinação.

O alerta foi deixado num artigo publicado hoje no ‘site’ “Project Syndicate” pelo ex-presidente da Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro português, que lidera agora a Aliança Global das Vacinas (GAVI).

“Para evitar que a história se repita, a nossa preparação deve refletir a verdadeira extensão do problema. Temos de reconhecer que as pandemias representam agora uma das maiores – e mais prováveis – ameaças à segurança global”, escreve Durão Barroso.

No artigo intitulado “O teste de preparação para a pandemia”, o responsável compara a atual crise pandémica à proliferação nuclear, ao terrorismo e às alterações climáticas no seu impacto à estabilidade social e ao bem-estar económico.

Referindo que anteriormente as doenças infecciosas não constavam sequer da agenda da segurança global, Durão Barroso defende que a covid-19 não só mudou isso, como demonstrou também a urgência de medidas globais para a prevenir futuras pandemias, ao mesmo nível de outras ameaças à segurança, mas com alguma especificidade.

Como exemplo, referiu a crise financeira de 2008 e a crise climática: “O denominador comum em cada caso é que a crise exige soluções que nenhum governo individual consegue dar sozinho”.

“Uma doença infecciosa não pode ser combatida com contramedidas de segurança habituais, como sanções económicas, o recurso à diplomacia bilateral ou uma postura militar. Exige a colaboração científica, sistemas de saúde resilientes e investimentos de longo prazo nas redes de saúde globais”, defendeu, acrescentando a necessidade de colaboração global, multilateralismo estratégico e compaixão transnacional.

Estas recomendações, porém, não são apenas para o futuro, uma vez que a pandemia de covid-19 ainda não foi ultrapassada. E Durão Barroso responsabiliza, sobretudo, a falta de uma resposta global coordenada.

“Em vez de encontrarem formas de trabalhar em conjunto com vista a soluções comuns para responder a uma crise sem precedentes, os principais governos continuam a colocar os seus interesses nacionais à frente, às custas da resposta global de que precisamos”, acusou.

Como exceção a essa regra, Durão Barroso referiu como bom exemplo a iniciativa Covax, criada em 2020 com o objetivo de assegurar ao acesso global às vacinas da covid-19, e coliderada pela própria GAVI, pela Organização Mundial da Saúde e pela Coligação para a Inovação na Preparação para Epidemias.

“Ao assegurar o igual acesso às vacinas das pessoas nos países mais pobres, o Covax ajuda não só a salvar milhões de vidas, mas também oferece o melhor caminho para a recuperação”, defende o presidente da GAVI.

De acordo com números citados no artigo, todos os meses são produzidas mais de 1,5 mil milhões de vacinas e prevê-se que, até ao final do ano, venham a ser produzidas mais de 12 mil milhões.

“É um feito surpreendente”, reconhece Durão Barroso, que ressalva que, ainda assim, não é suficiente para vacinar todos os adultos do planeta. E acrescentou: “Ainda estamos longe desse objetivo, porque a distribuição é tão desigual”.

Partindo do problema do acesso às vacinas, Durão Barroso reiterou que os países desenvolvidos, e em particular os membros do G20, têm o poder para liderar o caminho em direção ao fim da pandemia da covid-19 se promoverem a distribuição de vacinas aos países mais pobres.

A medida é urgente, acrescentou, admitindo que é, contudo, um “penso rápido” para resolver uma crise dentro de outra crise.

“Para evitar a repetição da covid-19, precisamos de mecanismos mais dispendiosos de preparação para pandemias, construídos em torno de um modelo de recursos globalizados. Não podemos esperar que o próximo surto se torne uma ameaça à segurança global. Por essa altura, será demasiado tarde”, concluiu.

A covid-19 provocou pelo menos 4.979.103 mortes em todo o mundo, entre mais de 245,47 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 18.153 pessoas e foram contabilizados 1.088.977 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Chamadas para o SNS24 disparam 71% ao ano, mas taxa de atendimento cai para 75%

O serviço de atendimento telefónico SNS24 registou um crescimento anual de 71% no volume de chamadas desde 2023, ultrapassando os níveis pré-pandemia. Contudo, a capacidade de resposta não acompanhou este boom, com a taxa de chamadas atendidas a cair para 74,9%, levantando dúvidas sobre a sustentabilidade do modelo

ULSEDV Promove Primeiro Encontro Conjunto para Cuidados da Mulher e da Criança

A Unidade Local de Saúde de Entre Douro e Vouga organiza a 11 e 12 de novembro de 2025 as suas primeiras Jornadas da Saúde da Mulher e da Criança. O evento, no Europarque, em Santa Maria da Feira, visa consolidar a articulação clínica entre os hospitais e os centros de saúde da região, num esforço para uniformizar e melhorar os cuidados prestados.

Projeto “Com a Saúde Não Se Brinca” foca cancro da bexiga para quebrar estigma

A Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde lançou uma nova temporada do projeto “Com a Saúde Não Se Brinca” dedicada ao cancro da bexiga. Especialistas e doentes unem-se para combater o estigma em torno dos sintomas e alertar para a importância do diagnóstico atempado desta doença, que regista mais de 3.500 novos casos anuais em Portugal.

Maria Alexandra Teodósio eleita nova Reitora da Universidade do Algarve

O Conselho Geral da Universidade do Algarve elegeu Maria Alexandra Teodósio como nova reitora, com 19 votos, numa sessão plenária realizada no Campus de Gambelas. A investigadora e atual vice-reitora, a primeira mulher a liderar a academia algarvia, sucederá a Paulo Águas, devendo a tomada de posse ocorrer a 17 de dezembro, data do 46.º aniversário da instituição

Futuro da hemodiálise em Ponta Delgada por decidir

A Direção Regional da Saúde dos Açores assegura que nenhuma decisão foi tomada sobre o serviço de hemodiálise do Hospital de Ponta Delgada. O esclarecimento surge após uma proposta do BE para ouvir entidades sobre uma eventual externalização do serviço, que foi chumbada. O único objetivo, garante a tutela, será o bem-estar dos utentes.

Crómio surge como aliado no controlo metabólico e cardiovascular em diabéticos

Estudos recentes indicam que o crómio, um mineral obtido através da alimentação, pode ter um papel relevante na modulação do açúcar no sangue e na proteção cardiovascular, especialmente em indivíduos com diabetes tipo 2 ou pré-diabetes. Uma meta-análise publicada na JACC: Advances, que incluiu 64 ensaios clínicos, revela que a suplementação com este oligoelemento está associada a melhorias em parâmetros glicémicos, lipídicos e de pressão arterial, abrindo caminho a novas abordagens nutricionais no combate a estas condições

Alzheimer Portugal debate novos fármacos e caminhos clínicos em conferência anual

A Conferência Anual da Alzheimer Portugal, marcada para 18 de novembro na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, vai centrar-se no percurso que vai “Da Ciência à Clínica”. Especialistas vão analisar os avanços no diagnóstico, novos medicamentos e a articulação entre cuidados de saúde e apoio social, num evento que pretende ser um ponto de encontro para famílias e profissionais

Bayer anuncia redução significativa de marcador renal com finerenona em doentes com diabetes tipo 1

A finerenona reduziu em 25% o marcador urinário RACU em doentes renais com diabetes tipo 1, de acordo com o estudo FINE-ONE. Este é o primeiro fármaco em mais de 30 anos a demonstrar eficácia num ensaio de Fase III para esta condição, oferecendo uma nova esperança terapêutica. A segurança do medicamento manteve o perfil esperado, com a Bayer a preparar-se para avançar com pedidos de aprovação regulatória.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights