Hospitais em serviços mínimos no turno da noite devido à greve da função pública

12 de Novembro 2021

A maioria dos hospitais dos grandes centros urbanos estiveram apenas a assegurar os serviços mínimos no turno da noite, devido à greve da função pública, disse à Lusa o coordenador da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública.

“A esmagadora maioria dos serviços estiveram em serviços mínimos. O turno da manhã está a iniciar-se agora com os processos de rendição de trabalhadores e ainda vamos ter de avaliar. Ainda assim, durante a noite a greve foi bastante expressiva no setor da saúde, na recolha do lixo, nos centros educativos, nos centros de vigilância eletrónica”, adiantou Sebastião Santana.

De acordo com o coordenador da Frente Comum, estes dados relativos ao turno da noite demonstram a justeza da greve com uma grande adesão dos trabalhadores.

“O que esperamos para durante o dia é um grande impacto também noutros setores esses já mais tradicionais abertos ao público durante o dia. Vamos ter de avaliar, mas tudo indica que será uma boa greve da Administração Pública porque as revindicações são justas e é a prova que é oportuna [a greve] tanto que os trabalhadores estão a aderir à greve”, destacou.

Sebastião Santana justificou a greve com um conjunto de problemas que dura há mais de 10 anos e que não têm tido qualquer resposta deste Governo e dos que lhe antecederam.

“Falamos da questão salarial. É preciso lembrar que os trabalhadores da Administração Pública vão para o 13.º ano sem aumentos. O que houve neste período foi duas atualizações de acordo com a inflação desse ano, nunca recuperando o poder de compra perdido”, disse.

Na opinião do coordenador da Frente Comum, o Governo insiste numa política de desvalorização das carreiras, dos trabalhadores com vínculos precários.

“Nós temos neste momento muito perto de 100 mil trabalhadores com vínculo precário na Administração Pública apesar dos programas de integração que houve, que ficaram aquém das necessidades e mesmo nesses programas falta cumprir etapas como por exemplo a contabilização do tempo de serviço a estes trabalhadores”, disse.

Sebastião Santana destacou também um conjunto de reivindicações distintas como os descontos na ADSE, a questão das férias dos trabalhadores e da valorização dos próprios serviços públicos.

“Há aqui um conjunto de matérias que mesmo não existindo agora Orçamento do Estado para 2022 podiam resolver-se já. Primeiro porque ainda não esgotámos o Orçamento do Estado de 2021 e há muita coisa que era suposto ter acontecido e não aconteceu, nomeadamente a questão das contabilizações dos tempos de serviço para trabalhadores precários integrados e pessoal militar, que sai da carreira militar e ingressa na Administração Pública.

Por outro lado, sublinha Sebastião Santana, “é preciso marcar desde já aquilo que virá a ser um futuro Orçamento do Estado”.

“Os trabalhadores não vão aceitar que se prossiga esta política de desvalorização dos trabalhadores e dos serviços públicos”, concluiu.

A greve da função pública, marcada pela Frente Comum para hoje, começou ao final da noite de quinta-feira, altura em que se registou uma grande adesão nos setores da recolha do lixo e higiene urbana.

“Nos primeiros serviços de recolha noturna a entrar em funcionamento – Almada, Amadora, Évora, Loures, Odivelas, Palmela, Moita e Seixal – registou-se uma adesão de 100%, não tendo sido efetuada a recolha de lixo e serviços de higiene urbana noturna nestes concelhos”, indicou o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional (STAL), em comunicado.

A Frente Comum (CGTP) reivindica aumentos de 90 euros para todos os trabalhadores e um salário mínimo de 850 euros na administração pública, mas o Governo vai fazer uma atualização salarial de 0,9%.

Na quarta-feira, realizou-se uma nova ronda negocial com a equipa do Ministério da Modernização do Estado e da Administração Pública, mas o Governo não alterou a sua proposta, estando agendada nova reunião para a próxima semana.

A Federação dos Sindicatos da Administração Pública (UGT) também tinha marcado uma greve para hoje contra a desvalorização dos salários e carreiras da Administração Pública, mas desmarcou-a na semana passada, face ao cenário de dissolução da Assembleia da República.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Rafaela Rosário: “A literacia em saúde organizacional pode ser muito relevante para promover a saúde em crianças”

No II Encontro de Literacia em Saúde em Viana do Castelo, a investigadora Rafaela Rosário apresentou os resultados de um estudo pioneiro desenvolvido em escolas TEIP – Territórios Educativos de Intervenção Prioritária, instituições localizadas em contextos socioeconomicamente vulneráveis que recebem apoio específico do governo para combater o insucesso escolar e a exclusão social. A investigação demonstrou como uma abordagem organizacional, envolvendo professores, famílias e a própria comunidade escolar, conseguiu reverter indicadores de obesidade infantil e melhorar hábitos de saúde através de intervenções estruturadas nestes contextos desfavorecidos

Coimbra intensifica campanha de vacinação com mais de 115 mil doses administradas

A Unidade Local de Saúde de Coimbra registou já 71.201 vacinas contra a gripe e 43.840 contra a COVID-19, num apelo renovado à população elegível. A diretora clínica hospitalar, Cláudia Nazareth, reforça a importância da imunização para prevenir casos graves e reduzir hospitalizações, com mais de 17 mil doses administradas apenas na última semana

Coimbra intensifica campanha de vacinação com mais de 115 mil doses administradas

A Unidade Local de Saúde de Coimbra registou já 71.201 vacinas contra a gripe e 43.840 contra a COVID-19, num apelo renovado à população elegível. A diretora clínica hospitalar, Cláudia Nazareth, reforça a importância da imunização para prevenir casos graves e reduzir hospitalizações, com mais de 17 mil doses administradas apenas na última semana.

Vírus respiratórios antecipam época de maior risco para grupos vulneráveis

Especialistas alertam para o aumento precoce de casos de rinovírus, adenovírus e VSR, que afetam sobretudo idosos e doentes crónicos. A antecipação da vacinação contra a gripe e a adoção de medidas preventivas simples surgem como estratégias determinantes para reduzir complicações e evitar a sobrecarga dos serviços de urgência durante o pico epidémico.

Sword Health assume liderança do consórcio de inteligência artificial do PRR

A Sword Health é a nova entidade coordenadora do Center for Responsible AI, um consórcio financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência, substituindo a Unbabel. A startup afirma ser atualmente a que mais investe no projeto, com uma taxa de execução de 76% a oito meses do prazo final. O cofundador, André Eiras, adianta que a transição, já aprovada pelo IAPMEI, confere à tecnológica portuguesa maior responsabilidade na liderança de projetos das Agendas Mobilizadoras

Consórcio de IA atinge 80% de execução com 19 produtos em desenvolvimento

O consórcio Center for Responsible AI, liderado pela Sword Health, revela que 80% do projeto financiado pelo PRR está executado, restando oito meses para concluir os 19 produtos em saúde, turismo e retalho. Investimento realizado supera os 60 milhões de euros, com expectativa de gerar mais de 50 milhões em receitas até 2027.

Montenegro confiante na ministra da Saúde apesar de partos em ambulâncias

O primeiro-ministro manifestou-se incomodado com a ocorrência de partos em ambulâncias, um problema que exige uma análise sistematizada. Luís Montenegro garantiu, no entanto, confiança total na ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e afastou qualquer ligação destes casos a ineficiências do SNS. O executivo promete empenho no reforço dos serviços de urgência e da acompanhamento obstétrico

INSA reclama atualização de estatutos para travar “disfuncionalidade organizacional”

O presidente do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, Fernando de Almeida, apelou hoje, na presença da ministra da Saúde, para uma revisão urgente dos estatutos e do modelo de financiamento da instituição. Considera que o quadro legal, inalterado desde 2012, está desatualizado e compromete a capacidade de resposta em saúde pública, uma situação apenas colmatada pelo “esforço coletivo” dos profissionais, como demonstrado durante a pandemia

Médicos do Amadora-Sintra descrevem colapso nas urgências

Trinta médicos do serviço de urgência geral do Hospital Amadora-Sintra enviaram uma carta ao bastonário da Ordem a relatar uma situação que classificam de insustentável. Denunciam o incumprimento crónico dos rácios de segurança nas escalas, com equipas reduzidas e pouco diferenciadas, um cenário que resulta em tempos de espera superiores a 24 horas e que compromete a dignidade da prática clínica e a segurança dos utentes

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights